64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolinguística
FAUNA DO MARANHÃO: variantes lexicais do Tupi(nambá)
Edson Lemos Pereira 1
Conceição de Maria de Araujo Ramos 2
1. Depto.de Letras UFMA/ALiMA
2. Prof. Dra./Orientadora - Depto.de Letras UFMA/ALiMA
INTRODUÇÃO:
O Maranhão, como parte integrante do território pertencente, no século XVIII, ao Estado Colonial do Maranhão (ELIA, 1979), foi um dos centros brasileiros de maior densidade de falares indígenas pertencentes a dois troncos linguísticos: Macro-Jê e Tupi-Guarani ou Macro-Tupi. Atualmente, o Maranhão conta com uma população de 27.571 índios (IBGE, 2000), distribuídos entre os povos Guajá/Awá-Guajá, Guajajara/Tenethara, Kaapor/Urubu-Kaapor e Tembé/ Tenetehara pertencentes ao tronco linguístico Tupi-Guarani, e Gavião/Pukobiê do Maranhão, Canela/Timbira, Krikati/Timbira pertencentes ao tronco Macro-Jê. Considerando essa realidade histórica e a escassez de estudos linguísticos sobre o tema, justifica-se esta pesquisa geolinguística que se volta para a investigação da presença das línguas indígenas no português falado no Maranhão. A pesquisa tem como objetivo (i) investigar a presença do Tupi(nambá) no léxico da comunidade maranhense, no que concerne às variantes lexicais para nomear elementos da fauna, e (ii) analisar os fatores que influenciaram na manutenção dessas variantes no português falado no Estado. O recorte do campo semântico, fauna, se deve ao fato de parte considerável do léxico relativo à fauna, à flora e às cozinhas regionais brasileiras ter sua origem no Tupi(nambá).
METODOLOGIA:
Esta pesquisa de cunho geolinguístico e léxico-semântico desenvolveu-se de acordo com as seguintes etapas: (i) pesquisa bibliográfica na área da geolinguística, dialetologia, lexicologia, semântica e língua indígenas; em obras sobre a História do Maranhão; em documentos produzidos por órgãos governamentais (Fundação Nacional do Índio, Instituto Socioambiental, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pela Igreja Católica (Conselho Indigenista Missionário), para obtenção de dados sobre os povos indígenas que habitam(vam) o Maranhão; consulta aos dicionários Novo Aurélio Século XXI, Houaiss da Língua Portuguesa, Dicionário do Folclore Brasileiro e Dicionário do Nordeste, e às obras A Linguagem Popular do Maranhão e Porandumba Maranhense, (ii) delimitação do corpus e (iii) análise dos dados. Para constituição do corpus, selecionaram-se cinco municípios maranhenses que integram a rede de pontos do Atlas Linguístico do Maranhão – São Luís, Balsas, Brejo, Tuntum e Turiaçu – considerando-se um município por mesorregião. Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário semântico-lexical (QSL) a quatro informantes, por localidade, distribuídos em duas faixas etárias: de dezoito a trinta anos e de cinquenta a sessenta e cinco anos.
RESULTADOS:
Ratifica-se a ideia defendida por vários pesquisadores, dentre eles Ilari, Basso (2006), de que parte considerável do léxico relativo à fauna brasileira tem origem no Tupi(nambá). Os resultados obtidos nas cinco localidades investigadas evidenciam essa realidade. As localidades foram, como é o caso de São Luís, ou ainda são exemplos de áreas de concentração de povos indígenas cujas línguas pertencem ao tronco linguístico Tupi(nambá). Observou-se, entre os vinte sujeitos da pesquisa, um predomínio de variantes de origem indígena para as questões do QSL selecionadas (64 e 88) para as quais se tinha como expectativa de resposta, respectivamente, urubu e praga/pernilongo. A lexia urubu teve ocorrência em dezenove municípios, e apresentou a variante tinga. As formas não indígenas praga, com sete ocorrências, e pernilongo, com seis, apareceram ao lado de muriçoca com dezesseis ocorrências, lexia esta de origem indígena que, por sua vez, apresentou dezessete realizações e a variante muroçora com uma aparição. A forma carapanã, também indígena, teve três ocorrências em Turiaçu.
CONCLUSÃO:
No português falado no Maranhão, há tupinismo produtivos no que concerne a elementos da fauna; essa produtividade se justifica pela presença expressiva de áreas indígenas no Estado. O estudo da dicionarização se mostra relevante. Dos tupinismos registrados, urubu foi o mais recorrente, aparecendo a variável tinga e registrada no Dicionário do Folclore Brasileiro como urubutinga, já em relação à lexia praga/pernilongo, a forma muriçoca foi a mais recorrente aparecendo, também, à forma muroçora ambas dicionarizadas.
Palavras-chave: Tupinismo, Léxico, Maranhão.