64ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica
A ÁRVORE DA MANGUEIRA (Mangifera indica L.; ANACARDIACEAE) COMO UM IMPORTANTE FORÓFITO DE ORCHIDACEAE NUMA PORÇÃO DA BAIXADA MARANHENSE
Breno Magalhães Campos 1
Carlos Henrique Pimenta Pereira 2
Maria do Carmo Rodrigues Pimenta 3
Andrea Cristina Silva Ribeiro 4
Lurdiléia de Jesus Rodrigues Fonseca 5
Alessandro Wagner Coelho Ferreira 6
1. Graduando - Curso de Licenciatura em Ciências Naturais - UFMA
2. Graduando - Curso de Licenciatura em Ciências Naturais - UFMA
3. Graduando - Curso de Licenciatura em Ciências Naturais - UFMA
4. Graduando - Curso de Licenciatura em Ciências Naturais - UFMA
5. Graduando - Curso de Licenciatura em Ciências Naturais - UFMA
6. Prof. Dr. / Orientador - Curso de Licenciatura em Ciências Naturais, Biologia - UFMA - Campus de Pinheiro
INTRODUÇÃO:
Segundo pesquisas, cerca de 10% de todas as espécies de plantas são epífitas e podem representar mais de 50% da flora de algumas florestas tropicais. As epífitas passam todo ciclo de vida sobre seus hospedeiros (forófitos) sem retirar nutrientes dos seus tecidos condutores e possuem distribuição aglomerada e não casual relacionada com fatores bióticos e abióticos (inclusive influências antrópicas). A distribuição vertical das epífitas possui evidente estratificação, provavelmente relacionada a fatores adaptativos intrínsecos, mas a distribuição horizontal parece estar relacionada ao substrato. Entre as epífitas, Orchidaceae é na maioria dos estudos, a família mais abundante, refletindo o acentuado caráter epifítico desta família, nos ambientes tropicais. A mangueira (Mangifera indica L.) é uma árvore nativa da Ásia, cujos cultivares vem sendo plantados a várias décadas no Brasil, formando pomares antrópicos com indivíduos que chegam a ser seculares. Uma vez que estudos da interação epífita-forófito são ecologicamente relevantes e ainda não haviam sido feitos na Baixada Maranhense, os objetivos desse trabalho foram identificar, numa porção dessa região, as espécies de orquídeas no forófito da árvore da mangueira, bem como os prováveis motivos que a tornam um importante forófito.
METODOLOGIA:
A Baixada Maranhense possui cerca de 17.580 km² e fica localizada na mesorregião Norte do estado do Maranhão, abrangendo 21 municípios. Faz parte da chamada Amazônia Maranhense e do Centro de Endemismo Belém, notável por sua rica Biodiversidade, porém altamente ameaçado pelas atividades humanas. De agosto de 2010 a março de 2012, em média a cada 15 dias, foram visitados 12 povoados (e arredores) em quatro municípios: Bequimão (povoado Monte Alegre), Palmeirândia (povoado Mato Grosso), Pinheiro (povoados Pacas, Madeira, Taboqueiro, Tatuzinho, Santana dos Pretos, São Luís da Chapada, e Vitória dos Bragas,) e Presidente Sarney (povoados Leque, Passe Bem e Três Furos). A coleta de dados foi aleatória, sendo os fragmentos florestais e bosques antropizados percorridos no maior número de pontos possíveis. O uso de binóculos e máquina fotográfica auxiliaram na localização e registro das orquídeas. A ajuda de moradores das comunidades visitadas foi fundamental para identificação dos diferentes cultivares de mangueiras e a localização dos pontos onde elas estavam concentradas nos bosques antropizados (ladeados por fragmentos florestais em diversos níveis de sucessão ecológica). A identificação das espécies de orquídeas foi realizada com auxílio de literatura e sites especializados.
RESULTADOS:
Em cinco tipos mais comuns de cultivares de mangueira (manguita, manga d'água, manga rosa, manga espada e manga cajá), foram encontradas 18 espécies de Orchidaceae: Campylocentrum amazonicum Cogn.; Campylocentrum micranthum Rolfe; Catasetum barbatum (Lindl.) Lindl.; Catasetum macrocarpum Rich. ex Kunth.; Dichaea picta Rchb. f.; Epidendrum nocturnum Jacq.; Epidendrum purpurascens Focke; Epidendrum strobiliferum Rchb. f.; Erycina pusilla (L.) N.H. Williams & M.W. Chase; Notylia aromatica Barker ex. Lindl.; Notylia lirata S. Moore; Polystachya concreta (Jacq.) Garay& H.R. Sweet; Polystachya foliosa (Hook.) Rchb. f.; Polystachya stenophylla Schltr.; Prosthechea fragans (Sw.) H.E. Higgins; Rodriguezia lanceolata Ruiz & Pavon; Solenidium lunatum (Lindl.) Schltr.; Trichocentrum cebolleta (Jacq.) M.W. Chase & N.H. Williams. Não pareceu haver preferência das espécies de orquídeas por algum cultivar de mangueira. O indivíduo de mangueira mais jovem observado como forófito tinha cerca de 10 anos de idade. O mais antigo, segundo os moradores locais, tinha mais de cem anos. Fatores abióticos e bióticos (incluindo a ação humana) pareceram contribuir para que os cinco principais tipos de cultivares de mangueira se tornassem forófitos relevantes para as 18 espécies de orquídeas registradas.
CONCLUSÃO:
Os prováveis fatores abióticos relevantes na interação orquídea-forófito são a distância do fragmento florestal nativo até o bosque antropizado e a direção dos ventos. Dependendo da ação dos ventos, quanto maior a distância entre esses fragmentos florestais e os “mangueirais”, mais difícil pode se tornar a colonização dos forófitos pelas orquídeas epífitas (dispersão anemocórica). Os prováveis fatores bióticos relevantes na interação orquídea-forófito são a rugosidade da casca, formato da copa e idade do forófito, o tempo mínimo para reprodução das espécies de Orchidaceae, o grau de preservação dos fragmentos florestais nativos e a ação antrópica na dinâmica da floresta nativa. Espera-se que quanto maior e mais preservado um fragmento florestal, maior será a quantidade de espécies de orquídeas “estocadas” nesses fragmentos. Quanto menos interferência das atividades humanas, mais “áreas estoque” poderão dispersar as sementes de Orchidaceae. Os forófitos com maior idade e com copas largas e mais ensolaradas abrigaram mais orquídeas epífitas do que os com copas mais sombreadas. A casca pareceu favorecer maior adesão das sementes de orquídeas. A presença prévia de indivíduos de orquídeas que iniciaram a colonização do forófito também pareceu favorecer a continuidade da colonização.
Palavras-chave: Orchidaceae, Mangifera indica L., Baixada Maranhense.