64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 4. Antropologia Rural
TRABALHO ASSALARIADO E ECONOMIA CAMPONESA – estratégias de reprodução camponesa na área de atuação de empresas privadas no Leste Maranhense
Annagesse de Carvalho Feitosa 1
Diana Patrícia Mendes 2
Maristela de Paula Andrade 3
1. Depto. de Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Maranhão – UFMA
2. Depto. de Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Maranhão – UFMA
3. Profa. Dra./ Orientadora - Depto. de Sociologia e Antropologia - PPGCSOC/UFMA
INTRODUÇÃO:
O Leste do Maranhão sofre as consequências da inserção de agricultores do Sul do país e empresas privadas na região. Os processos produtivos empregados não levam em conta as características sociais, culturais e políticas das populações locais, formando-se um novo cenário social a partir dos interesses de uma gama heterogênea de atores que contribuiu para remodelar esse espaço regional. Novos fluxos migratórios encontraram um contexto de desordem fundiaria e, atualmente, várias localidades são marcadas por disputas territoriais e a região padece, sobretudo, com o uso predatório dos recursos naturais por parte desses empreendimentos. Como um dos impactos provocados por esses agentes, além da escassez de terras e destruição de recursos fundamentais à reprodução camponesa, surge a busca de um trabalho acessório dentro desses empreendimentos, pelas populações tradicionais. Considerando o exposto, o presente trabalho analisa como se estabeleceu, de parte de agricultores locais, a busca por um trabalho junto a esses empreendimentos.
METODOLOGIA:
O trabalho foi realizado no povoado Mangabeirinha, localizado na zona rural do Município Urbano Santos – MA. Vincula-se a estudos de iniciação científica, no âmbito do projeto Campesinato e Crise Ecológica – impactos sociais da sojicultura para segmentos camponeses no Leste Maranhense. Para sua conclusão, além da análise bibliográfica, realizamos etnografia, envolvendo detalhada e atenta observação participante. Foram utilizados gravadores e caderno específico para anotações durante as entrevistas e conversas informais com mediadores, trabalhadores assalariados e suas famílias. Para sistematização do material coligido, consideramos idade, sexo, estado civil e número de filhos como elemento fundamental para situar os agentes do discurso. Utilizamos câmeras para registro de imagens e o Global Positioning System (GPS) para marcação de locais apontados pelas famílias como imprescindíveis às suas atividades e que foram afetados por esses empreendimentos.
RESULTADOS:
A expansão dos projetos do agronegócio, com consequente redução das áreas de plantio das famílias camponesas, é um dos fatores que contribui para a procura de emprego fixo por parte desses trabalhadores, visto que o assalariamento combinado ao cultivo se converte, em alguns casos, como uma estratégia familiar, em que muitos membros dessas famílias utilizam uma parcela de sua remuneração para custear a manutenção de seus cultivos, pois a intensa jornada de trabalho não lhes permite tempo para dedicar-se às atividades produtivas tradicionais. Outro fator determinante para a evolução do quadro existente é a ideologia empregada nas escolas. O ambiente escolar exerce influência sobre os jovens na formação de um novo tipo de sujeito, o assalariado. De acordo com relatos dos trabalhadores, na escola os jovens são incentivados a se assalariar ou deixar o campo em busca de oportunidades, até mesmo aqueles que adquirem a educação superior não são incentivados a voltar sua formação para atuar em prol de melhorias para seus locais de origem, o que contribui para reprodução da conformidade com a situação vigente. Como plano de fundo à situação exposta, temos as questões ambientais e irregularidades, nas relações trabalhistas, de parte dessas empresas.
CONCLUSÃO:
Foi possível observar que a força de trabalho camponesa está em transformação, com o deslocamento daqueles que produziam para satisfação de suas necessidades pessoais e também para colocar parte de seus produtos no mercado, que colhiam os gêneros necessários para os seus gastos e de suas famílias e que agora estão buscando pelo trabalho assalariado. Antes, o camponês arranjava tempo para realizar um trabalho acessório porque os cuidados necessários com sua terra eram determinados por época. Agora, esse camponês assalariado não enfrenta as suas necessidades de dinheiro vendendo apenas o seu excedente, mas também o seu tempo. Em algumas situações, o assalariamento e cultivo são estratégias para enfrentar a diminuição do estoque de terras, mas, em algumas situações há de fato o abandono do trabalho agrícola. Até mesmo a organização doméstica passa a ser envolvida pela transformação econômica, visto que alguém da unidade de produção camponesa passa a ser assalariado e lhes são retiradas todas as funções que eram próprias. Reduz-se assim o número de braços na unidade de produção familiar, ocasionando uma reorientação produtiva familiar e redefinindo o papel dos indivíduos enquanto força produtiva.
Palavras-chave: Empreendimentos, Assalariamento, Impactos.