64ª Reunião Anual da SBPC

H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 5. Letras

ASPECTOS PSICOSSOCIAIS EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA DE JOSÉ SARAMAGO E EM BLINDNESS DE FERNANDO MEIRELLES

Danilo Nascimento Linhares 1

1. Prof. Dr. Orientador Rafael Campos Quevedo - Faculdade Atenas Maranhense – FAMA

INTRODUÇÃO:

Ensaio sobre a cegueira é um livro de José Saramago que nos transporta para um mundo onde repentinamente a sociedade passa por uma epidemia de cegueira. Começamos então a ver o lado “macabro” do ser humano, seja por medo, instinto de preservação pessoal, ou simples indiferença. Aliás, esse parece ser o objetivo do próprio Saramago ao descrever o livro como algo terrível com o qual queria que o leitor sofresse tanto como ele ao escrevê-lo, objetivo este que Fernando Meirelles tentou transmitir no cinema. Outro fato curioso é que a cegueira representada no livro é diferente de uma cegueira normal, pois os cegos não veem trevas, apenas um grande clarão, o que justifica o nome da doença de cegueira branca. Aqui pode conter uma simbologia que o individuo é ofuscado pela luz sugerindo, portanto, que a cegueira que acomete os personagens pode ser compreendida como algo que transcende o fisiológico. A adaptação cinematográfica da obra conduz o enredo de forma bem semelhante ao livro. Toda carga emocional e densidade dos conflitos foi mantida e grande parte dos diálogos convertida em ação dos personagens. Diferenças à parte, tanto a obra quanto o filme podem ser discutidas à luz das teorias de Freud, ao sugerirem a ideia de que a energia pulsional renunciada pelos indivíduos para a formação da civilização pode ressurgir na forma de sintomas

METODOLOGIA:

A literatura e o cinema têm em comum o fato de serem realidades “alteradas”; trata-se da realidade transportada para outras linguagens. Retratar o fator psicológico na literatura e no cinema se torna, portanto, algo pertinente. Grande parte das ações humanas pode ser explicada pela psicanálise. Quantas atitudes incomuns ou surpreendentes observamos ocorrerem todos os dias. Basta ligar a televisão ou conectar-se a internet para ficarmos surpresos com o que o ser humano é capaz de fazer por consequência dos mais diversos distúrbios e atitudes. A psicanálise muito tem a oferecer na compreensão destes casos. Este trabalho foi realizado utilizando como fonte teórica os Estudos de Sigmund Freud, especialmente no livro intitulado Mal-estar na civilização. Ressalta-se aqui que o objetivo não é aprofundar-se na psicanálise, mas apenas ter uma maior compreensão destes fenômenos a que o ser humano está sujeito e que estão implícitos nas obras analisadas.

RESULTADOS:

O trabalho foi desenvolvido na Faculdade Atenas Maranhense (FAMA) e surgiram algumas perguntas sobre essa supressão da realidade, algo que às vezes não é fácil de compreender, mas aos poucos o entendimento foi alcançado. Percebemos o recalque como um mecanismo radical de defesa do organismo capaz de alterar a percepção do indivíduo, fazendo com que não entenda uma informação. Um bom exemplo é quando entendemos uma proibição como uma permissão simplesmente porque o subconsciente fez com que não ouvíssemos o não

CONCLUSÃO:

A obra abordada é repleta de simbologias, e é importante compreender que a cegueira retratada não é apenas física, mas principalmente uma cegueira social e psíquica. Freud nos dá uma pista sobre esse fator psíquico com o que ele denominou de mecanismos de defesa, ou a realidade como ela não é. Nossa percepção do mundo exterior é alterada por nosso subconsciente devido a fatores externos. Existem determinadas situações que são demasiadamente dolorosas ao indivíduo e, para evitá-las, o sujeito, de forma inconsciente, (portanto alheio à sua vontade) altera ou suprime a realidade, deformando-a. O cegar em si, não é o cegar físico, mas o cegar psicológico devido às situações calamitosas ocorrentes na sociedade como um todo, o que pode ser compreendido como estar cego por perceber a triste realidade e não querer aceitá-la. Como “cegos que veem, cegos que vendo não veem”.

Palavras-chave: Cegueira, Inconsciente, Recalque.