64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
A FUNCIONALIDADE DO SISTEMA PERIFÉRICO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO “BOM ALUNO” DE PROFESSORAS
Andreza Maria de Lima 1,2,3
Laêda Bezerra Machado 4
1. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
2. Prefeitura da Cidade do Recife-PE (PCR)
3. Prefeitura da Cidade de São Lourenço da Mata-PE (PCSLM)
4. Profa. Dra. Orientadora - Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) - UFPE
INTRODUÇÃO:
O contato com escolas do Recife-PE possibilitou perceber referências ao “bom aluno”. Esse termo esteve vinculado, até os anos de 1970, sobretudo, a concepções de aprendizagem que o reduziam a um sujeito passivo. O contexto de redemocratização do país propiciou inovações que defendem que o ato de aprender nada tem de mecânico do ponto de vista da criança. Este trabalho analisa a periferia das representações do “bom aluno” de professoras da rede municipal do Recife-PE. Partimos do pressuposto de que novas práticas educacionais estariam interferindo nessa construção. O referencial foi a Teoria do Núcleo Central (ABRIC, 2000, 2003). Para essa abordagem, as representações são compostas de dois sistemas - central e periférico -, onde cada parte tem um papel especifico e complementar. Os elementos periféricos foram tomados, inicialmente, como acessórios, em contraste com os centrais. Não obstante, a constatação de insuficiências na interpretação dos resultados de estudos com base apenas no núcleo central ensejou uma crescente ocupação com os periféricos. Este trabalho é relevante, portanto, pois além de suscitar reflexões acerca do ser “bom aluno”, evidencia a importância do conhecimento do sistema periférico para a compreensão dessas representações.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada mediante dois estudos singulares, mas interdependentes. No primeiro, usamos a Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP). Foi solicitado que a participante registrasse cinco palavras que lhe viessem à lembrança a partir da expressão “O bom aluno é...” e efetuasse uma hierarquização dos termos numa ordem do mais para o menos importante. Para a análise, utilizamos o software ensemble de programmes permettant l'analyse des evocations (EVOC), que possibilita a construção de um quadro de quatro casas, que discrimina os possíveis elementos centrais e periféricos. No segundo estudo aplicamos um Teste do Núcleo Central, que procurou identificar, a partir de cognições levantadas através da TALP, àquelas que efetivamente compunham o sistema central e, consequentemente, o periférico. A análise envolveu cálculo de frequências e Análise de Conteúdo. Participaram 200 professoras, sendo que 180 responderam apenas o primeiro estudo e 20 realizaram os dois. A maioria (59%) possuía Pós-Graduação lato sensu. Mais da metade (57%) concluiu o curso superior em Pedagogia. O grupo incluiu desde docentes iniciantes até professoras em final de carreira. A maioria (24,5%) tinha entre dezesseis (16) a vinte (20) anos de exercício na profissão.
RESULTADOS:
O primeiro estudo evidenciou como possíveis elementos centrais “atencioso”, “curioso”, “estudioso”, “interessado”, “participativo”, “questionador” e “responsável”. Como periféricos, apontou “assíduo”, “educado”, “comprometido”, “crítico”, “dedicado”, “disciplinado”, “esforçado”, “alegre”, “amigo”, “carinhoso”, “colaborador”, “comportado”, “criativo”, “dinâmico”, “inteligente”, “obediente”, “organizado”, “respeitador” e “solidário”. O segundo estudo evidenciou que, aliado aos elementos periféricos do primeiro estudo, “atencioso”, “curioso”, “estudioso”, “participativo”, “questionador” e “responsável” também compõem essa periferia, pois apenas “interessado” foi confirmado central. A localização de termos como “curioso”, “participativo” e “questionador” na periferia dessas representações confirmam nosso pressuposto inicial, já que tais elementos estão estreitamente relacionados com os discursos da literatura pedagógica e das politicas educacionais contemporâneas. Além disso, reforçam a afirmativa de que o sistema periférico constitui o essencial do conteúdo das representações, pois é nele que encontramos os seus componentes mais acessíveis, vivos e concretos.
CONCLUSÃO:
Confirmamos o pressuposto inicial, isto é, as novas práticas educacionais estão interferindo na construção das representações sociais em tela, pois, no âmbito do sistema periférico, identificamos termos como “curioso”, “participativo” e “questionador”. Como evidenciado, o sistema periférico dessas representações é composto por diversos elementos. Isso não significa que o “bom aluno” necessita ter todas as características que compõem a periferia. Esse sistema é mais associado às características individuais e ao contexto imediato e contingente nos quais os indivíduos estão inseridos. Os termos periféricos apontaram, portanto, uma extensa variabilidade de relacionamentos das docentes com o objeto. Essa heterogeneidade da periferia não é sinal de representações diferentes, pelo contrário, constitui-se como característica essencial no estudo dos processos de transformação das representações sociais. Assim, uma representação única, organizada em torno de um mesmo núcleo central, pode dar lugar a diferenças aparentes relacionadas à apropriação individual ou a contextos específicos. Em síntese, esse sistema permite uma diferenciação em função do vivido. Isto é, possibilita modulações pessoais em referência ao núcleo central comum, gerando representações individualizadas.
Palavras-chave: , Representações sociais, Professoras.