64ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 5. Agronomia
INOVAÇÃO RURAL PARTICIPATIVA NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICIPIO DE BENJAMIN CONSTANT, NO AMAZONAS.
Marcelo de Almeida Guimarães 1
Mauricio Veloso Soares 3
Enrico Garbellini 2
Manuel Filipe Nascimento Garcia 3
Edem Carlos Ângulo Barros 3
Aurélio Alves Souza 3
1. Universidade Federal do Amazonas
2. Instituto Sindical pela Cooperação e Desenvolvimento
3. Diocese do Alto Solimões
INTRODUÇÃO:
As condições geográficas peculiares da Região Amazônica contribuem de forma decisiva para a existência de diversas técnicas empíricas utilizadas pelos seus moradores, que em geral vivem às margens de rios. Durante anos, estes habitantes vem modelando e adaptando tecnologias para o desenvolvimento de processos em diferentes tipos de ambientes (terra firme; várzea; capoeira ou floresta). Tal situação pode ser plenamente observada no município de Benjamin Constant, localizado na mesorregião do Alto Solimões, em que agricultores caboclos detêm o conhecimento de informações e técnicas desenvolvidas ao longo de anos de trabalho. Tais conhecimentos são transmitidos de geração a geração (pai para filho), ou por algum líder da comunidade (cacique ou presidente), que em geral possuem essa função.
Baseado no exposto iniciou-se um Programa de Desenvolvimento e Aprimoramento desses conhecimentos, batizado como Produtor a Produtor. Este programa visa: a) A troca de experiências entre os participantes; b) Introdução de novas tecnologias e insumos; c) Orientar os princípios gerais da produção, desde a sistematização do solo até a comercialização; e d) Promover diálogo voltado para a produção buscando a diversificação produtiva, cultural, econômica e ambiental na sua área de realização.
METODOLOGIA:
O programa foi desenvolvido em 10 comunidades no município de Benjamin Constant-AM. As comunidades foram escolhidas através do levantamento de campo realizado dois meses antes de sua implementação. Todas as comunidades escolhidas possuam características voltadas a agricultura, e adotam práticas de plantios geradas de acordo com o que se observa na região. Algumas comunidades são caracterizadas como de várzea e outras de terra firme. A indicação dos agricultores participantes do Programa e dos temas a serem abordados foram definidos pelas próprias comunidades. Buscou-se com este Programa capacitar os agricultores locais a desenvolver experimentação, ensinando-os a quantificar e comparar os resultados obtidos a partir de um experimento comparativo entre os resultados obtidos com as novas técnicas ensinadas e os obtidos quando da adoção da prática tradicional de produção. O Programa foi realizado em duas etapas. Primeiramente atuou-se na transferência de informações de diversos temas para 25 agricultores. Tais informações foram repassadas ministradas por um profissional especialista da área. Na segunda etapa os 25 produtores “lapidados” com as informações foram incumbidos da missão de capacitar mais outros 50 agricultores, sendo 5 de cada comunidade.
RESULTADOS:
Os encontros promovidos pelo Programa apresentaram resultados satisfatórios no âmbito da capacitação dos agricultores, apresentando um saldo de formação de 75 agentes multiplicadores de desenvolvimento sustentável que, agora, possuem a missão de compartilhar as informações aprendidas. Tais agentes foram capacitados a diagnosticar e propor soluções alternativas para problemas e necessidades que surgem no dia a dia do campo de produção agrícola. Durante esse período de formação surgiram discussões e propostas para a melhoria da produção, como por exemplo, o repasse de informações e conhecimentos a respeito dos meios de propagação de plantas (sementes e/ou mudas). Partindo do princípio dessa demanda foram criadas duas formas para solucionar tal questão: 1. Banco de Sementes Comunitário – com as missões de: a) Resgatar as sementes crioulas que vem desaparecendo devido ao abandono ou introdução de novas cultivares; e b) Possibilitar ao agricultor certa autonomia, reduzindo sua dependência em relação a obtenção de sementes doadas pelas órgãos de Assistência Técnica e Extensão Rural; 2. Viveiro Comunitário de Mudas – com a missão principal de produzir mudas para os agricultores, sendo eles mesmos a realizarem as operações de manejo do viveiro.
CONCLUSÃO:
O sistema de transferência e multiplicação de conhecimento desenvolvido neste Programa foi efetivo e cumpriu de forma clara e objetiva a sua missão, a de repassar aos primeiros agricultores selecionados, chamados neste trabalho de agentes multiplicadores, as vantagens e desvantagens da adoção de novas tecnologias, bem como de ensiná-los a confrontar de forma experimental os resultados obtidos a partir da adoção destas, com aquelas aprendidas de forma cultural com seus ancestrais, citadas aqui como conhecimentos ou saberes tradicionais. Tal metodologia se mostrou eficiente, pois não impõem, em hipótese alguma, a obrigação de adoção de pacotes tecnológicos criados por cientistas em laboratórios ou imaginados em gabinetes políticos, mas proporciona ao agricultor a possibilidade de tomar decisões, a partir de observações próprias dos experimentos montados, conduzidos e coletados por eles mesmos. Todas as atividades desenvolvidas proporcionaram a implantação do Modelo de Diversificação Produtiva, onde cada agricultor cultivará uma área de 1,5 ha de sistemas agroflorestais.
Palavras-chave: Alto Solimões, Conhecimento Tradicional, Diversificação Produtiva.