64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
A EXPRESSÃO DA NOÇÃO ADJETIVAL NA LÍNGUA APINAJÉ E EM OUTRAS LÍNGUAS JÊ SETENTRIONAIS
Julia Izabelle da Silva 1
Christiane Cunha de Oliveira 1,2
1. Acadêmica do curso de Letras - Depto de Estudos Linguísticos e Literários - UFG
2. Profa. Dra./ Orientadora - Depto de Estudos Linguísticos e Literários - UFG
INTRODUÇÃO:
A noção adjetival constitui um conceito lexical, o qual diz respeito à maneira como uma sociedade recorta seu universo experimental em termos de categorização linguística. Segundo Dixon (1977) e Givón (2001), tal noção pode ser categorizada de diferentes maneiras entre as línguas do mundo, seja por meio da categoria adjetival, nominal ou mesmo verbal. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo central fazer uma análise comparativa da forma como a noção adjetival é expressa na língua indígena Apinajé e em outras línguas Jê do ramo setentrional, buscando identificar critérios de ordem morfológica, sintática e semântica que evidenciem uma categoria própria de adjetivos ou mesmo uma subcategoria pra expressar tal noção. Do ponto de vista teórico, o estudo pretende contribuir com o corpo de conhecimento acerca dos mecanismos formais utilizados pelas línguas Jê acerca da categorização de domínios conceituais e suas implicações para os estudos tipológico-funcionalistas. Em última instância, espera-se que tais conhecimentos possam subsidiar a produção de material didático para as escolas indígenas e, assim, fortalecer a língua e a cultura dos povos indígenas Jê.
METODOLOGIA:
A metodologia empregada no desenvolvimento da pesquisa consistiu, basicamente, de levantamento bibliográfico; de discussões e estudos de cunho comparativo; de leitura de material teórico e de análise sobre os dados das línguas pertencentes à família linguística Jê, ramo Setentrional. Durante o desenvolvimento da pesquisa, tornou-se relevante incorporar o
estudo de outras línguas (geneticamente próximas à língua Apinajé), de forma que se pudesse alcançar um resultado mais abrangente a respeito do fenômeno. A metodologia de cunho comparativista foi proeminente durante a pesquisa, proporcionando, então, mudanças no escopo do plano de trabalho inicial, o qual focava apenas o sistema linguístico Apinajé. O levantamento bibliográfico feito considerou as línguas geneticamente mais próximas ao Apinajé, de forma que os dados encontrados pudessem subsidiar análises alternativas sobre o fenômeno. Concomitante à pesquisa de tais línguas, foram realizados encontros semanais com o grupo de pesquisa Línguas Indígenas e o Funcionalismo Tipológico (LIFT), coordenado pela professora orientadora Christiane C. de Oliveira, onde eram apresentados e debatidos os resultados preliminares das pesquisas feitas até então.
RESULTADOS:
De maneira geral, as línguas da família Jê não apresentam uma categoria lexical própria de adjetivos. Nas línguas Apinajé, Canela Apãniekrá e Gavião Parkatejê, a noção adjetival é expressa por meio de uma subcategoria dos verbos intransitivos, os verbos não-ativos ou descritivos, na medida em que compartilham propriedades morfossintáticas com a categoria verbal da língua, como, por exemplo, a afixação do prefixo pessoal ao verbo descritivo, a ocorrência na forma não-finita do verbo e as construções imperativas. A comparação das análises mostra que, apesar de constituírem sistemas linguísticos particulares e de serem considerados critérios diferenciados para a identificação de classes de palavras, as línguas apresentam propriedades morfossintáticas e semânticas em comum, dentre elas estratégias sintáticas como a causativização e a relativização, as quais evidenciam uma subcategoria específica para a expressão das noções adjetivais em línguas Jê Setentrionais. Embora constitua uma classe independente na língua Panará, a expressão das noções adjetivais é feita, na maioria das línguas Jê Setentrionais, mediante uma subcategoria de verbos intransitivos – os descritivos – os quais compartilham também uma série de propriedades morfossintática com a classe dos nomes.
CONCLUSÃO:
A fluidez com que a categoria adjetival se apresenta dentre as categorias lexicais das línguas analisadas sugere que, possivelmente, a categorização da noção adjetival em Apinajé, e em outras línguas do mesmo ramo, esteja passando por um processo de evolução diacrônica, sendo que o que antes era categorizado como verbo esteja começando a constituir uma categoria própria nessas línguas.
Palavras-chave: Categorias, Adjetivos, Morfossintaxe.