64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 2. Arqueologia Pré-Histórica
ANÁLISE ANTRACOLÓGICA NO SAMBAQUI DE CABEÇUDA (LAGUNA, SC): CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA PAISAGEM E USO DA MADEIRA EM UM IMPORTANTE SAMBAQUI DO SUL DO BRASIL
Camila de Mattos Lins Vaz 1
Ana Luiza Honorato de Sales 2
Rita Scheel-Ybert 3
1. Graduanda em História, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bolsista IC CNPq
2. Colégio Pedro-II, Bolsista FAPERJ Jovens Talentos
3. Profa. Dra. / Orientadora - Departamento de Antropologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro
INTRODUÇÃO:
O sambaqui de Cabeçuda, localizado em Laguna, Santa Catarina, é considerado um dos maiores e mais importantes sambaquis do sul do país, tanto por sua importância histórica quanto na ocupação pré-histórica. Este sítio, datado entre 4120±120 e 1800±40 anos BP, foi escavado por Luiz de Castro Faria entre os anos de 1950 e 1951. As intervenções arqueológicas aí realizadas evidenciaram uma extraordinária riqueza arqueológica - artefatos líticos e esqueletos humanos, fragmentos de carvões, ossos de peixe, camadas de cinzas e conchas e blocos de diabásio. O presente trabalho apresenta um estudo antracológico do sítio. A antracologia, que é o estudo e interpretação dos restos de madeira carbonizados fornece informações inestimáveis sobre o uso de vegetais na pré-história, assim como sobre o contexto paleoambiental e a paisagem. A posição da Antracologia, entre as ciências humanas e as ciências naturais, implica forte interdisciplinaridade. Esta disciplina oferece resultados significativos para o esclarecimento de diversas questões da arqueologia brasileira, podendo levar a uma melhor compreensão das interações entre o homem e o meio ambiente e de variados aspectos relacionados ao uso da madeira por populações pré-históricas.
METODOLOGIA:
O sambaqui de Cabeçuda foi revisitado por uma equipe do Museu Nacional em 2010 e 2011. O estudo da estratigrafia do sítio foi feito a partir de análises de perfis. Uma escavação por decapagem de níveis naturais em 16 m2 foi iniciada na parte mais alta do sítio, com coleta de material arqueológico e de amostras de sedimentos. Estas últimas foram flotadas para separação dos carvões, os quais foram quantificados e identificados taxonomicamente. No laboratório, as amostras de carvão oriundas da flotação foram triadas e pesadas em balança de precisão, visando quantificar os carvões nas diferentes camadas arqueológicas e quadras escavadas. Uma amostra destes carvões foi analisada em microscópio de luz refletida com campo claro e campo escuro para identificação taxonômica, a qual é feita através da comparação de sua estrutura anatômica com as amostras de uma coleção de referência (antracoteca) e com a literatura especializada. Para isto os fragmentos de carvão são quebrados manualmente ao longo dos três planos fundamentais da madeira (plano transversal, plano longitudinal tangencial e plano longitudinal radial). As descrições anatômicas são baseadas nas recomendações da Associação Internacional de Anatomistas da Madeira.
RESULTADOS:
Os resultados da escavação mostram que não há neste sítio evidências de estruturas de habitação – o sítio parece ter função exclusivamente funerária, assim como já foi sugerido para outros sambaquis da região. Foi identificada uma forte concentração de fogueiras e carvões na proximidade das áreas funerárias e nas camadas associadas a enterramentos, assim como uma quantidade reduzida de carvões nas camadas ditas “de preenchimento”, evidenciando a importância do fogo como parte do ritual funerário. A análise antracológica já realizada revelou taxa de diversas famílias, como Apocynaceae, Celastraceae, Compositae, Euphorbiaceae, Leguminosae, Myrtaceae, Proteaceae, Rubiaceae, Rutaceae, todas as quais apresentam espécies características do ambiente de restinga e algumas referentes à mata atlântica. A forte predominância de Rutaceae nas amostras de origem funerária analisadas sugere a possibilidade de seleção deste táxon, mas esta hipótese ainda precisa ser mais bem investigada.
CONCLUSÃO:
Os resultados antracológicos preliminares sugerem que os construtores deste sambaqui habitavam uma paisagem de restinga ou mata atlântica, sendo mais provável que o sítio estivesse localizado na restinga, com presença de mata atlântica dentro de sua área de captação de recursos, da mesma forma como já foi demonstrado para outros sambaquis do Sul e do Sudeste do Brasil.
Palavras-chave: Sambaqui, Paisagem, Carvão.