64ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 1. Silvicultura
BIOMETRIA DOS CACHOS, FRUTOS E SEMENTES DE Iriartea deltoidea Ruiz & Pavón ORIUNDA DAS CERCANIAS DE RIO BRANCO, ACRE.
Maria Estefânia dos Santos Clemente 1, 2
Geliane Mendonça da Silva 1, 2
Evandro José Linhares Ferreira 1, 2, 3
Cleison Cavalcante de Mendonça 1, 2
Antonio Ferreira de Lima 1, 2
Heliton Guimarães de Menezes 1, 2
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/ Núcleo de Pesquisa do Acre
2. Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC
3. Orientador - Núcleo de Pesquisa do INPA no Acre
INTRODUÇÃO:
Iriartea deltoidea, conhecida popularmente como paxiúba, paxiubão, paxiúba-barriguda e palmeira-barriguda, é uma espécie relativamente comum em regiões de clima tropical na América Central e América do Sul. No Brasil é encontrada no Acre, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso, ocorrendo quase sempre em florestas primárias alagáveis. Apresenta caule solitário, robusto, colunar ou geralmente intumescido na porção mediana, que atinge até 25 m de altura e 30 cm de diâmetro na base, porém chegando a 70 cm na parte ventricosa. Apresenta 4-7 folhas pinadas com até 27 pinas deltóides em cada lado da raque, divididas em até 18 segmentos que conferem aspecto plumoso às folhas. A inflorescência é infrafoliar e pêndula. Os frutos são globosos, amarelo-esverdeados quando maduros e contém uma semente com endocarpo lenhoso. A madeira extraída do tronco é muito usada em assoalhos e paredes das casas dos seringueiros e ribeirinhos do interior do Acre. Uma aplicação mais recente tem sido o uso das sementes na confecção de biojóias. Considerando o potencial econômico e a necessidade de informações para subsidiar o manejo de populações nativas da espécie, o presente trabalho é uma contribuição para o conhecimento das características biométricas dos cachos, frutos e sementes da mesma.
METODOLOGIA:
A avaliação biométrica foi realizada no Laboratório de Sementes Florestais do Parque Zoobotânico (PZ) da Universidade Federal do Acre (UFAC), localizado na cidade de Rio Branco (10º02'11"S; 67º47'43"W; altitude: 152 m). Os frutos foram colhidos de plantas existentes em um remanescente florestal do PZ. Dois cachos com frutos maduros foram selecionados ao acaso de diferentes plantas e transportados até o laboratório. Cada cacho foi pesado e suas partes contadas e medidas. Para a avaliação dos frutos, foram selecionados 100 frutos maduros de um cacho, sendo 20 unidades retiradas do ápice do cacho, 60 da parte mediana e 20 da base. A pesagem foi feita em balança com precisão de 0,01 g e as medidas de comprimento e diâmetro (mm) com paquímetro digital de precisão. Dos frutos foram avaliados as seguintes variáveis: peso total, comprimento, diâmetro e profundidade da polpa. Depois de medidos, os frutos foram despolpados com o auxílio de uma faca e uma peneira de malha fina. As sementes foram avaliadas quanto ao peso, comprimento e diâmetro. Os dados foram analisados no programa BioEstat 5.0. Para todas as variáveis avaliadas foram calculados os valores máximo e mínimo, média, desvio padrão (DP), coeficiente de variação (CV) e o coeficiente de correlação de Pearson.
RESULTADOS:
O peso dos cachos completos variou de 17,6-18,7 kg (média=18,1 kg) e 4,5-4,9 kg (média=4,7 kg) sem os frutos, indicando uma produção de 12,8-14,0 kg de frutos maduros/cacho. O comprimento da raque variou de 61-63 cm (média=62 cm). Cada cacho possui 56-58 raquilas com comprimento variando de 1,1-1,6 m nas raquilas basais (média=1,4 m; DP=0,15; CV=10,47%), 1,1-1,6 m nas medianas (média=1,3 m; DP=0,11; CV=7,60%), e 1,1-1,4 m nas apicais (média=1,3 m; DP=0,10; CV=7,85%). Cada cacho produz 2.330-2.499 frutos maduros com peso variando entre 4,8-7,5 g (média=6,2 g; DP=0,47; CV=7,48%) e sementes pesando entre 2,0-3,1 g (média=2,6 g; DP=0,25; CV=9,24%). O comprimento dos frutos variou entre 2,0-2,8 cm (média= 2,2 cm; DP= 0,09; CV=4,27%) e das sementes entre 1,4-1,7 cm (média=1,5 cm; DP=0,07; CV=4,28%). O diâmetro dos frutos variou entre 2,0-2,3 cm (média=2,1 cm; DP=0,07; CV=3,30%) e das sementes entre 1,4-1,7 cm (média=1,5 cm; DP=0,06; CV=4,02%). A profundidade da polpa variou entre 0,2-0,3 cm (média=0,2 cm; DP=0,05; CV=20,25%). O coeficiente de correlação de Pearson (r) foi forte entre as variáveis peso dos frutos e peso das sementes (r=0,8190) e comprimento e peso das sementes (r=0,7512). A correlação foi fraca entre o comprimento dos frutos e diâmetro das sementes (r=0,2708) e comprimento dos frutos e comprimento das sementes (r=0,3277).
CONCLUSÃO:
Foi observado um alto coeficiente de variação nos comprimentos das raquilas basais (10,47%), medianas (7,60%) e apicais (7,85%), refletindo diferenças de 30-40 cm no comprimento das raquilas de uma mesma região do cacho. A variação alta observada no peso dos frutos (7,48%) reflete o fato de a amostra avaliada incluir frutos da base, meio e ápice do cacho, com tamanhos e pesos diferenciados. A mesma explicação se aplica à variação observada no peso das sementes (9,24%). Uma cuidadosa revisão da literatura especializada revelou que essa é uma espécie pouco estudada, não sendo encontradas referências a outros trabalhos relacionados com a biometria ou mesmo conservação e germinação das sementes. Em contraste, o fato de seus troncos serem usados em construções rurais, com impactos diretos na sobrevivência de suas populações naturais, resultou na realização de vários estudos para avaliar o efeito dessa exploração. A crescente exploração das sementes da espécie para a confecção de biojóias sugere a necessidade da realização de estudos para avaliar os impactos da extração das sementes na estrutura de populações naturais da espécie. Por esta razão, o presente trabalho se constitui em um subsídio para a realização desses estudos.
Palavras-chave: Biometria, Palmeiras, Paxiubão.