64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
TRADUÇÃO TRANSGRESSORA E A POESIA CONCRETA: E.E. CUMMINGS POR AUGUSTO DE CAMPOS
Fernanda Pinheiro Arruda 1
Izabela Guimarães Guerra Leal 1,2
1. Fac. de Letras da Universidade Federal do Pará – UFPA
2. Profa. Dra./ Orientadora – Fac. de Letras – UFPA
INTRODUÇÃO:
Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari foram os principais representantes da Poesia Concreta no Brasil. Ao teorizarem acerca desta poética, valorizavam os poetas que trabalhassem não só com as palavras em sua abstração dos significados, mas também com suas formas, imagens e sons; os poetas que brincassem com a maneira convencional, linear, pela qual a poesia era antes produzida. Entre os principais poetas que estes autores escolheram como base para a poética do movimento, encontra-se o norte-americano Edward Estlin Cummings, conhecido por e. e. cummings. Sua poética consistia na desconstrução das estruturas sintáticas do inglês, possibilitando também diversas interpretações semânticas. E mais do que isto, seus poemas têm forte caráter imagético: seguem formas relacionadas à temática do poema. Visando a tradução como nova forma de criação, e não apenas como “humildes servas”, cópias do original, é certamente um desafio o modo como Augusto de Campos encarou a tarefa de traduzir os poemas de cummings.
METODOLOGIA:
A metodologia se dividiu nos seguintes processos: no 1º momento pesquisou-se nos livros Paideuma, organizado por André Dick, e Teoria da Poesia Concreta,de Décio Pignatari, Augusto de Campos, Haroldo de C. sobre teorias acerca da poesia concreta de um lado, e do outro teorias da tradução transgressora, de Haroldo e Augusto de Campos, em ensaios diversos; no 2º momento foram analisados e comparados 5 poemas originais de cummings com as traduções feitas por A. de Campos em seu livro Poem(a)s. Os poemas escolhidos - the sky was, l(a, um(bee)mo, D-re-A-mi-N-gl-Y e r-p-o-p-h-e-s-s-a-g-r - encontram-se no site intitulado The Sweet Old Etcetera. Ocasionou-se produção de artigos, advindas da comparação das teorias e dos poemas.
RESULTADOS:
Procura-se, nos estudos tradicionais de tradução, o caminho para que ela se torne o mais fiel possível ao original. O tradutor é posto num papel melancólico e maldito. Mas Haroldo de Campos e Augusto de Campos, como poetas, enxergam uma nova teoria de tradução: a tradução transcriadora, na qual o tradutor cria sua própria obra, a partir do ‘original’ traduzido. Questões como fidelidade ou não à obra no seu quesito de conteúdo são deixados de lado para pensar sobre o quanto da essência poética do tal original foi trabalhada na sua tradução. A corrente de poesia que brinca com a poética, no modo como enxergam os irmãos Campos, é justamente a poética concretista: não importa somente o conteúdo, mas a forma do texto deve ser (bastante) trabalhada. Pois, analisando as traduções de Augusto de Campos dos poemas de cummings, constata-se que Campos traduziu seguindo a poeticidade do poema do autor norte-americano, trocando vocábulos que, traduzidos para o português num vocábulo favorável à compreensão, não acolheriam a organicidade que o poema concreto segue, este que deve brincar com as formas, sons, grandes espaçamentos, letras em parênteses.
CONCLUSÃO:
Conclui-se que tanto a revisão da Poesia Concreta quanto a da tradução transcriadora-transgressora, ambas teorias estudadas pelos irmãos Campos, são de importância para se pensar novas teorias de tradução. Agusto de Campos traz com louvor a Poesia Concreta ao Brasil, expondo novas maneiras de se fazer poesia. Nos 5 poemas analisados, A. de Campos emprega de forma clara nas suas traduções as suas teorias de tradução, que casam satisfatoriamente com a teoria de desenvolvimento de criatividade da Poesia Concreta. Mas até mais que tradução, repensa-se em teorias de linguagem, ao pôr o tradutor/autor num papel agora bendito - explorar novas formas do fazer poético, ao pensar que as obras não precisam seguir tradições à risca, mas recriá-las ao seu próprio percusso de criatividade.
Palavras-chave: e. e. cummings, augusto de campos, tradução.