64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
IMAGENS E SIMBOLISMOS ARQUETÍPICOS NO ROMANCE D’A PEDRA DO REINO, DE ARIANO SUASSUNA
Tania Lima dos Santos 1
Zélia Monteiro Bora 2
1. Depto. de Extensão - PROEX/UFMA
2. Profa. Dra./Orientadora – Depto.de Pós-Graduação em Letras - UFPB
INTRODUÇÃO:
Neste trabalho, focalizamos a sincronia entre mito e romance na narrativa do Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta (1971), de Ariano Suassuna, a qual recupera como temática central o fenômeno mítico do messianismo sebastianista, cuja presença impõe-se enfaticamente por força da retomada da história do movimento de Pedra Bonita e da lenda sebastianista, que lhe deu sustentação. Esta, por sua vez, constitui-se na grande motivadora para o aparecimento de outros componentes do imaginário regional, que contribuem para o adensamento da presença do mito na obra. Embora seu aspecto mítico já tenha sido apontado por vários críticos da obra suassuniana como componente relevante na compreensão do romance, ressente-se, ainda, a ausência de uma investigação orientada especialmente a esse aspecto do romance. Diante dessas considerações, propomo-nos a investigar a forte presença do discurso messiânico-sebastianista como expressão da dimensão mítica e fator de estruturação romanesca; e, ainda, demonstrar que as multiformes recorrências do mito na escritura ficcional do RPR conferem à obra um caráter intemporal e universal.
METODOLOGIA:
Assumimos, com o auxílio das teorizações de Northrop Frye, subsidiadas por Carl Jung, Mircea Eliade, Joseph Campbell, e Gilbert Durand, a perspectiva de que o mito permanece e se atualiza infinitamente por meio de imagens e simbolismos arquetípicos. Buscamos inicialmente reconstruir os veios culturais conformadores do imaginário das lendas sebastianistas de Portugal e do Brasil e identificar seus componentes arquetípicos. Em seguida, procuramos as recorrências do messianismo sebástico no tecido plurilinguista do RPR, temática e discursivamente, considerando sua relevância na configuração do discurso mítico na obra.
RESULTADOS:
Verificamos a existência de uma forte tensão entre imagens apocalípticas e demoníacas, decorrente da incongruência entre a visão idealista do narrador-protagonista e o mundo realista em que se encontra envolvido, evidenciando os deslocamentos do mito na obra e o predomínio das convenções do modo irônico. Ao lado da demanda exterior e não concluída do personagem, ligada ao processo judicial e à criação de sua “Obra de Gênio da Raça”, “pedra” fundamental para a instalação de seu reino messiânico-sebastianista do Quinto Império, distinguimos uma demanda interior ligada a seu percurso rumo à maturidade, o qual não se consolidada efetivamente. O estado de suspensão nos projetos do personagem e a expectativa de sua concretização num futuro próximo constituem o viés messiânico-sebastianista mais importante na obra, fortalecido pelas demais recorrências temáticas da lenda sebastianista de Pedra Bonita, e possibilitam ainda o estabelecimento de uma analogia mais fértil com a manifestação sebastianista portuguesa.
CONCLUSÃO:
Concluímos que as diferentes frentes de atualização do mito no RPR, seja pela retomada da narrativa mítica de forma menos deslocada, como na referência ao mito da Onça Malhada do Divino, seja na retomada de lendas e contos populares e, principalmente, do viés messiânico das lendas sebastianistas que impregnam temática e estruturalmente a narrativa (visto que, neste último caso, o percurso desenvolvido pelo protagonista é um percurso suspensivo que mantém analogias com o percurso messiânico), são responsáveis pela universalidade e intemporalidade que caracterizam a narrativa suassuniana.
Palavras-chave: Lenda sebastianista, Mito, Imagens e simbolismos.