64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 3. Psicologia Clínica
REPERCUSSÃO DA VIOLÊNCIA NO ADOLESCENTE EM CONTEXTO ESCOLAR
Cristina Martins Ribeiro 1
Deise Matos do Amparo 1
1. Instituto de Psicologia - UnB
2. Profa. Dra./ Orientadora -Instituto de Psicologia- UnB
INTRODUÇÃO:
A adolescência é permeada por mudanças no corpo do sujeito que o impelem a uma reorganização pulsional desencadeada pela inauguração do genital. Tal mudança direciona a libido para objetos externos ao sujeito, o que proporciona novas formas de socialização e a ressignificação dos objetos já internalizados. Assim, pode-se considerar que o narcisismo do sujeito encontra-se fragilizado devido aos novos investimentos objetais. Sendo que a emergência da violência envolve o indivíduo sentir-se atacado em seu narcisismo e por consequência defender-se perante a ameaça à sua identidade, a adolescência se faz uma época de maior propensão a vivências de violência internas e externas. Nesta época de conflitos, é importante acesso a pessoas que possam propiciar identificações com um ideal de Eu socialmente aceito, e com adultos capazes de fornecer o limite necessário a uma boa inserção social, proporcionando suporte narcísico parental que o adolescente precisa. Como a escola é a instituição responsável por dar continuidade à inserção da lei da cultura no indivíduo, além de ser a instituição em que os jovens desenvolvem suas relações sociais, ela torna-se figura central no processo de oferecer figuras de identificação, dar apoio narcísico parental e mostrar os limites da sociedade.
METODOLOGIA:
Nesta pesquisa multimetodológica com abordagem qualitativa, foram realizados grupos focais e entrevistas semiestruturadas com adolescentes em situação de liberdade assistida ou semiliberdade. Utilizou-se de uma estratégia metodológica sistematizada segundo a análise temática do seu conteúdo e, interpretou-se qualitativamente com base no arcabouço teórico da psicanálise, onde se privilegia a apreensão das significações na construção da linguagem discursiva. Na análise dos dados enfocou-se como a escola é percebida pelo adolescente segundo categorias temáticas interpretativas. As diferentes formas de atuação da escola apreendidas pelos alunos, mostram a complexidade do papel dessa instituição na sua formação como indivíduos socialmente adaptados, foram analisadas três formas de atuação da escola: a escola como ambiente suficientemente bom, como favorecedor de privação e como ambiente que favorece a relação com o ideal de Eu.
RESULTADOS:
Constatou-se que é bastante valorizado pelos alunos quando os atores da escola oferecem suporte narcísico parental a eles, o que faz com que essas pessoas tornem-se figuras de referência aos jovens na resolução de seus conflitos; e como é visto por eles como prejudicial quando esse apoio inverte-se e o aluno torna-se alvo de experiências de gozo perversas por parte de professores e funcionários, que buscam afirmar-se narcísicamente nas relações interpessoais com eles, transformando a escola em protagonizadora da violência. Outro dado observado remete à fragilidade do ambiente escolar, que por não conseguir promover a segurança de seus alunos, e nem a resolução dos conflitos entre os discentes, força o aluno à evasão escolar na tentativa de resguardar a sua integridade física, tornando ainda mais difícil para esses alunos percorrerem o longo caminho que os levaria a um ideal de Eu considerado bem sucedido em nossa sociedade.
CONCLUSÃO:
O ato infracional cometido pelo adolescente denuncia o fracasso na relação escola-aluno. As diversas funções que ela deveria ter desempenhado ao longo do desenvolvimento do sujeito até a sua puberdade de alguma forma não foram satisfatórias. Por ser a instituição mais próxima ao adolescente e fazer parte do processo de inserção social do sujeito, a escola também é responsável pela formação do indivíduo. Quando o aluno em conflito com a lei retorna à escola, ele tem de deparar-se com uma instituição que não foi capaz de auxiliá-lo em suas necessidades anteriores, porém, que ainda é o principal meio de alcançar um ideal de Eu socialmente adequado. No retorno, a relação já marcada por estigmas e estereótipos traz o impossível da passagem do conhecimento na relação professor-aluno que, encontra-se esvaziada de desejo, e um cotidiano escolar marcado por vivências de violência atuadas e sentidas em todos os atores. Dessa maneira, é importante que as reflexões apresentadas neste trabalho auxiliem no melhor preparo dos profissionais que vão atuar na escola, de tal forma que esta possa ser uma referência confiável no auxílio à passagem pela puberdade de forma saudável e na inserção do indivíduo na sociedade.
Palavras-chave: Violência, Adolescência, Escola.