64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 1. Linguística Aplicada
REBELDIA EM QUADRINHOS: A LINGUAGEM DE HENFIL PELO TRAÇO D'OS FRADINHOS
Aline Cristina Ribeiro Alves 1
Maria Silvia Antunes Furtado 2
1. Depto. de Letras, Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
2. Prof.ª Mª / Orientadora - Depto. de Letras – UEMA
INTRODUÇÃO:
Os Fradinhos evidenciam o cristianismo oficioso das elites políticas e religiosas e os valores sociais travestidos. Através do grotesco e do fantástico, conjugado com a ironia e a carnavalização, Henfil costurou a desmistificação das deidades religiosas e políticas, bordando-as com as anáguas da dúvida e colocando-as lado a lado com o ridículo, que é risível. Desta maneira, a linguagem adotada pelo cartunista propagou a resistência.
Ao longo do estudo foram caracterizados os conceitos de contracultura e em que conjuntura ela ganha espaço no Brasil. Uma breve contextualização do que foi a imprensa alternativa e o seu nível de relevância para o período cria o ambiente ideal para o assunto discutido: o trabalho underground de Henfil, através da linguagem única de suas personagens mais famosas - Os Fradinhos.
O público conhecerá a vida de Henfil, em que meio social foi construída a sua formação e de que maneira isto influenciou as suas produções tidas como “humor porrada”, na observação genial de Jaguar. Henfil tornou-se responsável pela reforma no desenho humorístico do Brasil, orquestrando o processo de “descolonização” dos HQs nacionais, sufocados pelos quadrinhos norte americanos.
METODOLOGIA:
Para a realização do estudo quanto ao discurso adotado pelos Fradinhos, foi necessário o levantamento bibliográfico das principais obras escritas de Henfil: “Hiroshima, meu humor” - 1976; “Diário de um Cucaracha” – 1976; “Dez em humor” - coletânea, 1984; “Diretas já” – 1984; “Henfil na China” – 1980; “Fradim de Libertação” - 1984 e “Como se faz humor político” - 1984. A partir da avaliação destes sete trabalhos é que foram traçados os perfis de Baixim e Cumprido – Os Fradins (ou Os Fradinhos). No plano geral, Baixim e Cumprido remetem às matrizes clássicas do humor, através do par contrastante e compensatório de carências recíprocas (o Gordo e o Magro, Oscarito e Grande Otelo e, bem anteriores, Dom Quixote e Sancho Pança), espelhando uma relação de opostos, complementar e dialética. Observa-se, nas práticas e discursos das personagens, o conflito íntimo do autor em universos distintos e complementares: entre a religiosidade repleta de mitos, que o torturou até a adolescência, e a religião politizada apresentada pelos dominicanos, com quem manteve forte convívio; entre se dedicar à sociologia ou à atividade de chargista e a insistência em se manter livre de partidarismos, embora mantendo a aura de intelectual engajado.
RESULTADOS:
Os Fradinhos representaram uma forma simbólica de participação na luta contra a ditadura e a sociedade política da época, apesar dos limites físicos impostos pela hemofilia ao Henfil. Conforme seu depoimento a vários meios de comunicação, a vivência no bairro de Santa Efigênia – onde nasceu - foi fundamental para sua formação e para a caracterização de sua produção humorística, pois o fez conhecer a diversidade no interior da miséria. Na primeira edição do Almanaque dos Fradinhos, onde constam os primeiros trabalhos publicados no Pasquim, há a publicação de uma carta à sua mãe, D. Maria, destacando a importância da rigorosa educação católica recebida tanto para a composição dos Fradins, como para o êxito profissional do cartunista.
Direcionando a análise para o código linguístico dos Fradins, sobressai-se o recurso à atmosfera verbal específica das brincadeiras e jogos infantis dos quais Henfil fez parte na periferia de Belo Horizonte, com uso marcante de diminutivos. Através das imagens cômicas e da utilização de um vocabulário que mescla aspectos infantis com termos populares, o cartunista realizou a recriação de valores e práticas socioculturais colhidos e partilhados no cotidiano do senso comum de forma que estes perderam o caráter nonsensual, por assim dizer.
CONCLUSÃO:
Durante a ditadura militar no Brasil, a imprensa nanica – ou alternativa - passa a ser a voz dos marginalizados, por estar fora do sistema oficial vigente e fiel propagadora da poesia. A imprensa alternativa também foi eternizada pela veiculação da linguagem coloquial, discursiva, ao passo que notoriamente pouco literária e referencial, de estrutura ideológica, chegando mesmo a ser referenciada como poesia AI-5. Nesse contexto, Henfil encontrou a casa perfeita para suas personagens. Lá ele expressava, através de suas histórias em quadrinhos, o seu pensamento antiautoritário no âmbito político, moralista e cotidiano das classes médias. A passagem pelo Pasquim foi fundamental para que o cartunista pudesse lapidar os traços daquelas que seriam as suas personagens mais famosas: os Fradinhos. Elas foram as ferramentas encontradas para respaldar a sua postura de conotação anárquica e sádica, fundamentais para que combatesse os medos, as repressões e os dogmas derivados da propagação dos virtuosismos religiosos, políticos e morais, a que ele tanto reverenciava e, ao mesmo tempo, combatia.
Palavras-chave: Pasquim, Henfil, Os Fradinhos.