64ª Reunião Anual da SBPC |
D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 4. Farmacotecnia |
DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÕES LIPOSSOMAIS MULTILAMELARES DE PIRIDOSTIGMINA PARA ADMINISTRAÇÃO SUBCUTÂNEA IN VIVO |
Wallace Entringer Botacim 1 Cinthia Ferreira Marcenes 1 Andrea Grabe Guimarães 1 Fréderic Jean Georges Frézard 2 Neila Márcia Silva Barcellos 3 |
1. Depto. Farmácia, Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP 2. Depto. de Fisiologia e Biofísica, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG 3. Profa. Dra./Orientadora - Depto. Farmácia – UFOP |
INTRODUÇÃO: |
As doenças cardiovasculares (DCV) são hoje um problema que pertence não apenas aos países desenvolvidos, mas também aos países em desenvolvimento onde o perfil epidemiológico das doenças tem mudado. No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), 34% dos óbitos ocorrem por DCV, sendo o infarto uma das três doenças que mais matam no país. Com base nesses dados, é de fundamental importância o estudo das DCV, bem como de tratamentos mais efetivos e que aumentem a qualidade de vida do paciente. O brometo de piridostigmina, um anticolinesterásico reversível, vem sendo estudado como promotor de mecanismos e meios que contribuem para a preservação do coração (cardioproteção), prometendo ótimos resultados na terapia de algumas DCV. Embora promissora, a piridostigmina carrega consigo alguns fatores que dificultam sua utilização, como tempo de meia-vida curto e alta toxicidade. Dessa forma, propõe-se desenvolver e caracterizar duas formulações lipossomais de piridostigmina que sejam aptas para administração subcutânea e que permitam uma lenta liberação do fármaco e consequente redução de sua toxicidade, visando uma posterior avaliação in vivo de sua ação cardioprotetora a partir destas formulações. |
METODOLOGIA: |
Lipossomas convencionais multilamelares constituídos de distearoilfosfatidilcolina (DSPC) e colesterol (CHOL) ou dioleilfosfatidilcolina (DOPC) e CHOL, ambos na relação molar 5:4 foram preparados por metodologia de congelamento/descongelamento proposta por Nayar (1989). As formulações foram caracterizadas quanto ao teor de piridostigmina encapsulada por espectrofotometria no ultravioleta (UV) (270 nm), como proposto por Hegazy e colaboradores (2002) e validado pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Farmacologia Experimental da UFOP período de 2009-2010. O tamanho e a determinação da carga superficial (potencial zeta) dos lipossomas foram determinados utilizando-se o Zetasizer 3000 HS (Malvern Instruments, Reino Unido) diluídas na proporção de 1:250 em solução salina tamponada. Para o estudo de liberação in vitro de piridostigmina dos lipossomas realizou-se uma diluição 1:5 da formulação lipossomal em solução salina tamponada de forma a garantir a condição sink (excesso de volume de meio que permita que o ativo dissolva-se continuamente) e amostras foram incubadas a 37 °C e após 1, 6 e 24 horas, alíquotas foram retiradas para determinação do teor do fármaco presente nos lipossomas. |
RESULTADOS: |
Conforme avaliação final, os lipossomas constituídos de DOPC apresentaram teor de encapsulação de 23,38%, tamanho médio de 2631 nm, potencial Zeta de -3,38 mV, e apresentaram um perfil de liberação in vitro, ao longo de 24 horas, de 75,78%. Já os lipossomas compostos majoritariamente de DSPC apresentaram teor de encapsulação de 15,43%, tamanho médio de 3022 nm, potencial Zeta de -4,55 mV, e apresentaram um perfil de liberação in vitro, ao longo de 24 horas, de 61,10%. A encapsulação da piridostigmina nas formulações foi considerada satisfatória e dentro do esperado conforme dados disponíveis em literatura científica. Os dados obtidos no perfil de liberação in vitro revelam que foi possível criar um depósito de piridostigmina a partir das formulações lipossomais, fazendo com que ela seja liberada lentamente, o que pode sugerir o aumento do seu tempo de ação in vivo. O tamanho das vesículas lipossomais enquadrou-se dentro do esperado para formulações lipossomais multilamelares, que são maiores por possuírem mais camadas lipídicas e também pela via subcutânea ter sido escolhida para estudos futuros. O potencial Zeta das formulações ficou abaixo do esperado, o que pode comprometer a estabilidade das mesmas ao longo do tempo, sendo um fator que ainda deve ser melhorado. |
CONCLUSÃO: |
De acordo com os objetivos propostos e os resultados obtidos pode-se concluir que as características de teor de encapsulação, tamanho dos lipossomas e perfil de liberação observadas nas duas formulações lipossomais as tornam adequadas para a sua administração in vivo, e poderão no futuro ajudar nos avanços necessários na área farmacológica e biofarmacotécnica que visam uma terapia medicamentosa mais eficiente para doenças cardíacas isquêmicas. Muito embora uma conclusão definitiva não possa ser elaborada sem um estudo in vivo complementar, já iniciado pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Farmacologia Experimental da UFOP, o presente trabalho sugere que a utilização de lipossomas para veiculação de brometo de piridostigmina possa diminuir a sua toxicidade e aumentar o seu tempo de ação, fatores primordiais para o sucesso terapêutico com tal fármaco. Além disso, as formulações lipossomais são promissoras ao paciente por diminuírem a quantidade de administrações do fármaco aumentando a comodidade, e ao profissional de saúde por aumentarem a segurança do medicamento. |
Palavras-chave: Lipossomas, Brometo de piridostigmina, Liberação in vitro. |