64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia
Concepções do tratamento da psicose por profissionais de um CAPS e seus efeitos na relação com os pacientes
Larissa Horácio Barbosa 1
Isalena Santos Carvalho 2
1. Centro de Ciências Humanas - Universidade Federal do Maranhão
2. Profa. Dra./ Orientadora - Centro de Ciências Humanas - UFMA
INTRODUÇÃO:
Na psicose, tendo como referência a Psicanálise, o significante Nome-do-Pai encontra-se foracluído. Como é o significante que confere autoridade à lei simbólica, isso trará consequências para o sujeito, que apresentará outro modo de relação com a linguagem. Por se tratar de uma condição diversa da neurose, o tratamento desenvolvido com pacientes psicóticos implica num desafio ainda maior aos profissionais. O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é uma importante aposta do governo para o atendimento de pessoas com neuroses graves e psicoses. Os profissionais desse serviço precisam estar preparados para lidar com pacientes psicóticos de forma a contribuir para seu processo de estabilização. Portanto, o presente estudo, fruto de plano de trabalho integrante do projeto de pesquisa “A clínica da psicose na clínica do CAPS: reflexões a partir das perspectivas do paciente, da família e dos profissionais”, realizado no período de setembro de 2010 a maio de 2011, tem como objetivo identificar as concepções de tratamento dos profissionais em relação à psicose e os efeitos dessas concepções para o atendimento de pacientes psicóticos.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada num CAPS da Região da Ilha do Maranhão. Foi desenvolvida por meio de observação participante e de entrevistas semi-estruturadas com cinco profissionais do local - a saber, um psiquiatra, uma psicóloga, uma assistente social, uma terapeuta ocupacional e um monitor de oficina terapêutica – e um paciente escolhido a partir de levantamento de prontuários de casos com classificação diagnóstica entre F-20 e F-29, que se referem à esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes, de acordo com a CID-10. A fim de atender aos objetivos acima citados, as entrevistas foram transcritas e analisadas de acordo com o referencial psicanalítico.
RESULTADOS:
Os dados obtidos sugerem em alguns profissionais uma dificuldade em definir a psicose, bem como suas características. Algumas atividades se confundem ou parecem claras apenas no calendário programado, mas, na prática, não é o que acontece, pois se observou que os pacientes aparentam dificuldade em distinguir entre o trabalho, por exemplo, da psicóloga e da assistente social. O papel que parece mais claro a todos é o do médico. Isso traz consequências para o tratamento, fazendo com que a medicação ocupe lugar privilegiado no atendimento ao psicótico, enquanto as demais modalidades de tratamento são colocadas como acessórias. Contraditoriamente, apenas o médico entrevistado atribuiu valor terapêutico às demais modalidades como um conjunto para o tratamento, bem como às próprias relações existentes entre os usuários e àquelas estabelecidas entre o paciente e a equipe.
CONCLUSÃO:
Por não haver, em geral, uma clareza de parte dos profissionais em relação ao seu próprio objeto de trabalho – a psicose -, isso decorre em prejuízos no tratamento oferecido, por dificultar aos pacientes psicóticos uma construção de lugar e o estabelecimento de relações já prejudicados por essa condição. A falta de preparo daqueles que lidam com sujeitos psicóticos, como uma fundamentação carente acerca da clínica em questão, tende a interferir no tratamento, já que os pacientes não são atendidos conforme as particularidades da psicose. Isso também tende a interferir na escuta da singularidade de cada caso. É necessário haver um maior entrosamento entre os profissionais, com uma interlocução que permita a valorização e a aliança dos diferentes saberes, para que de fato sejam uma equipe, não apenas técnicos que atuam no mesmo ambiente de trabalho. O paciente psicótico, embora, de forma geral, tenha dificuldades em estabelecer relações, beneficia-se do cotidiano do CAPS e das interações que surgem com os demais usuários e com a equipe. Portanto, os profissionais não devem apenas esperá-los em suas salas. Devem, sobretudo, avaliar como a qualidade da relação estabelecida favorece ao paciente psicótico a construção de um lugar de sujeito no mundo.
Palavras-chave: Psicose, CAPS, profissionais de saúde mental.