64ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Gestão e Administração - 6. Gestão Financeira
Anomalias e Retorno Acionário: Evidências Empíricas do Mercado Brasileiro
Márcio André Veras Machado 1,2
Rebeca Albuquerque Cordeiro 3
Júlia Faustino Henrique de Lucena 4
1. Professor Doutor/ Orientador - Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Universidade Federal da Paraíba
2. Professor do Programa Multiinstitucional e Inter-regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis - UnB/UFPB/UFRN.
3. Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Universidade Federal da Paraíba
4. Graduanda em Administração - Bolsista PIBIC/UFPB
INTRODUÇÃO:
A Hipótese de Eficiência de Mercado (HME) é, atualmente, um dos temas mais abordados em finanças. Tal hipótese afirma que um mercado é eficiente quando os preços dos ativos refletem todas as informações disponíveis. Os primeiros estudos sobre a HME foram realizados por Fama (1970) e vieram a ser comprovados nas décadas de 1970 e 1980. No entanto, estudos realizados a partir dos anos 1980 identificaram a existência de retornos anormais dos ativos financeiros, os quais foram denominados anomalias de mercado, resultando em padrões que contrariam a HME. Tais anomalias podem ser classificadas em anomalias de calendário, fundamentais ou de valor, técnicas, entre outras, conforme Bruni e Famá (1998).
Neste contexto, as anomalias de calendário ou de sazonalidade são aquelas em que os retornos anormais dos ativos financeiros ocorrem durante períodos do calendário, como dias, meses e anos, sendo destacadas o efeito dia-da-semana, efeito mês-do-ano, entre outros. O efeito dia-da-semana ou efeito segunda-feira refere-se a retornos diários anormais ao longo dos dias da semana.
Deste modo, o presente trabalho teve como objetivo verificar a existência do efeito dia-da-semana no mercado de capitais brasileiro. Para isso, foram utilizados os retornos do IBOVESPA, no período de 1995 a 2010. Também se buscou verificar se o referido efeito é específico a determinado período, sendo verificada a sua consistência ao longo dos anos, bem como se é resultante da atual crise financeira mundial.
METODOLOGIA:
Objetivando analisar a existência do efeito dia-da-semana no mercado de ações brasileiro, foi utilizado o teste paramétrico Analysis of Variance (ANOVA). A ANOVA é um teste de comparação de médias que visa determinar se existe diferença entre duas ou mais médias amostrais. O p-value da estatística F da ANOVA indica a probabilidade das médias serem iguais. Um valor elevado da estatística F indica que pelo menos uma das médias analisadas é diferente das demais (BUSSAB; MORETTIN,2006).
O efeito segunda-feira pressupõe que os retornos desse dia são inferiores aos retornos dos demais dias da semana. Dessa forma, as hipóteses da ANOVA são: H0: os retornos são estatisticamente iguais em todos os dias da semana e H1: os retornos de pelo menos um dos dias da semana não são iguais.
A utilização da ANOVA requer a verificação de dois pressupostos: a normalidade da distribuição da variável em estudo e a homogeneidade das variâncias populacionais. Para isso, foram utilizados os testes de Kolmogorov-Smirnov e o teste de Levene, respectivamente. A fim de identificar qual dos pares de médias difere dos demais, foi realizado o teste de comparação múltipla de médias de Tukey.
Objetivando reforçar os resultados obtidos na ANOVA, haja vista as limitações decorrentes das premissas dos testes paramétricos, optou-se pela utilização do teste de Kruskal-Wallis, o qual pode ser considerado uma alternativa não-paramétrica à ANOVA.
RESULTADOS:
Os resultados da ANOVA mostraram que pelo menos um dos dias da semana é diferente dos demais. O p-value foi significativo a 5%. Assim, a hipótese nula de que os retornos são estatisticamente iguais em todos os dias da semana pode ser rejeitada. O resultado do teste de Tukey mostra que os dias da semana em que os retornos são estatisticamente diferentes são a quinta-feira e a sexta-feira. O teste de Kruskal-Wallis apresentou resultados que confirmam o que foi encontrado nos testes paramétricos.
Observou-se que, no período completo, houve retornos anormais na terça e na quinta-feira com níveis de significância de 10% e 5%, respectivamente. Contudo ao analisar os retornos ao longo do tempo, os retornos mostraram-se diferentes estatisticamente apenas nos anos de 1997, 1998, 2002 e 2004.
CONCLUSÃO:
Ao analisar o período total, pode-se concluir que há evidências de retornos médios anormais negativos na terça e quinta. Contudo, ao contrário do que pode parecer em uma primeira análise, as anomalias indicadas como existentes na terça e na quinta-feira, não se mantêm ao longo dos anos, não seguindo uma normalidade. Portanto, diante do exposto, pode-se concluir que o efeito dia da semana não foi verificado com constância, pois somente foi constatada a anomalia no período completo.
Dessa forma, sugerem-se evidências de um fato isolado, o que pode proporcionar um viés de interpretação, levando o investidor a criar estratégias de investimento em determinados dias da semana. No entanto, ao se analisar ao longo dos anos, percebe-se que tal estratégia não funcionaria, mesmo desconsiderando os custos de transação. Adicionalmente, observou-se ausência de anomalia de calendário no período da crise.
Palavras-chave: Anomalias de Mercado, Efeito Dia da Semana, Eficiência de Mercado.