64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 3. Antropologia das Populações Afro-Brasileiras
Casa das Minas: declínio das heranças jejes no Maranhão.
Cássia Betânia Sousa Ferreira 1
Karen Cristina Costa da Conceição 2
Tayany Kerlly Pereira da Silva 3
1. Universidade Federal do Maranhão
2. Universidade Federal do Maranhão
3. Universidade Federal do Maranhão
INTRODUÇÃO:
Os cultos afros ainda são muito inferiorizados no Brasil. Um país que acima de tudo mostra-se intolerante. Esses cultos são vistos, dentro de um aspecto maniqueísta, como algo do “mal”, que cultua demônios e seus participantes como pessoas que se utilizam dessa “ligação” para se beneficiar e praticar o mal a outros. É dentro deste contexto que está inserido nosso objeto de estudo, a Casa das Minas. Trata-se de uma casa de culto aos voduns africanos de origem jeje, tem sua organização no início do século XIX, por negros denominados minas, vindos do Daomé, atual Benin. Estes estavam protegidos por Zomadônu – vodun que lidera o culto aos ancestrais da família real do Daomé. A casa recebeu o nome de Querebentã de Zomadônu. Segundo Nunes Pereira, (1979, apud Ferretti, 1995), a Casa das Minas foi acentada por contrabando, gente vinda diretamente da África, mina-jeje. Tem-se como objetivo neste trabalho desconstruir a ideia pejorativa que é difundida a cerca dos cultos afro-brasileiros, explicitar a carga cultural existente na Casa das Minas, bem como fazer comparação desta em seu auge com a atual realidade a fim de pontuar mudanças e perdas na estrutura de seu culto. Desta forma este se faz importante a fim de manter viva a cultura maranhense, que possui em suas particularidades heranças latente dos povos africanos pois, segundo pesquisadores, o Maranhão é o único lugar fora da África que se cultuam os voduns jejes. Daí a importância de se estudar a Casa das Minas.
METODOLOGIA:
Este se deu através de observações feitas em visitas a Casa das Minas, às quais tivemos a oportunidade de conversar com a atual gestora, Dona Deni, e assistir a rituais públicos realizados na casa.
Fez-se levantamento de bibliografia referente às religiões de origem africanas e a Casa das Minas. Assim como entrevista com o Professor Dr.Ferretti, um dos autores consultado.
A priori fez-se necessário estudar maneiras de aproximação com a Religião – já que a casa pode ser identificada como um grupo negro religioso tradicional, de caráter aristocrático, em que predomina um sistema matriarcal em que seus membros dão poucas informações sobre a casa e a realização de seus cultos, de acordo com Sérgio Ferretti, quase uma sociedade secreta – como: contato com Pesquisadores que já realizaram Estudos na Casa; datas comemorativas, ritualísticas e as quais o acesso fosse permitido ao público; roupas adequadas para a entrada na Casa, participação e observação nos rituais; conversas com participantes e praticantes da Religião; conversas com vizinhos, ex-vizinhos entre outros. Às visitas na Casa foram feitas de acordo com suas determinações religiosas e sociais, Os rituais os quais presenciamos serviu para que avaliássemos e comparássemos com o que fora descrito há algum tempo por pesquisadores, calculando a perda em decorrência de mudanças acontecidas.
RESULTADOS:
A Casa das Minas é formada por dois casarões, ocupando uma área com aproximadamente 1500 m², situada num bairro do centro. O tambor de mina se caracteriza por ser uma religião iniciática e de transe. Existem dois graus de iniciação o de vodunsi-he e o de vodunsi gonjaí. Uma das maiores dificuldades quando se estuda as religiões africanas, são os segredos que envolvem esses cultos, que de certa forma impede a compreensão de alguns aspectos um deles é a história das divindades, principalmente quando se trata da divindade protetora de cada integrante, especialmente em relação aos vonduns que na Casa das Minas os membros falam muito pouco e evitam até falar. Segundo a visão atual da Casa acredita-se que acima de tudo a um Deus superior, a que chamam de Aviovodum, identificado como Espírito Santo da igreja católica. Dona Celeste e Dona Deni que é a atual chefe da Casa dizem que não se dá ordem aos voduns. De acordo com Ferretti, (Ferretti, S. 1985, pp.92), os vonduns não estão acima dos santos, pois baixam em qualquer médium, e os santos não baixam. Nas festas os voduns cantam, dançam e brincam. O fardo fica mais leve e suportável. A vida vai se tornando mais tolerável e mais humana. Onde existe manifestação de voduns, tem que haver dança. Observamos que está havendo uma grande defasagem na realização dos cultos. Os quais antes eram celebrados grandiosamente. E que mesmo esses cultos presentes em nossa sociedade há muitos anos, o espaço e destaque que possuem é muito reduzido.
CONCLUSÃO:
Percebeu-se que o Tambor de Mina, se caracteriza pelo enorme número de segredos conservados, como cânticos, invocações conservados oralmente. Há registros que as negras mais velhas conversavam em jeje pra não serem compreendidas pelas mais novas. Fala-se de suicídio cultural, a Casa já em fase de declínio, e que nem de longe parece a Casa das Minas do passado, onde já chegou a ter mais de cinquenta dançantes e que hoje possuí duas ou três. Em visita a Casa das Minas, no fim de 2011, ouvimos da gestora atual, Dona Deni, que a mesma não possui esse receio, pois segundo ela: “a Casa pertence à Zomadônu, vodum dono da Casa, e ele é quem sabe quem será colocado para tomar conta de suas tradições”, diz não se importar, e que ele é que vai escolher a pessoa certa. O pesquisador Ferretti, em conversa informal, disse que teme o fim das atividades na Casa das Minas, pois as negras são muito fechadas e têm temores em aceitar algumas pessoas, para elas nem todas são dignas de dançar na Casa. Tivemos contato com Dona Eneide, uma das poucas dançantes que ainda auxiliavam a gestora na realização das obrigações da Casa. Atualmente recebemos noticia de que esta veio a falecer no final do mês de fevereiro deste ano, reabrindo a discussão sobre o futuro da Casa. De acordo com o pesquisador antropólogo Sergio Ferretti (Ferretti, S. 1985) “a Antropologia não pode prever o futuro de uma religião, por que nenhuma religião constitui um fenômeno controlado exclusivamente pelo homem”.
Palavras-chave: Cultos Afros, Tambor de Mina, Declínio.