64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolinguística
NÓS/A GENTE OU A GENTE EM VEZ DE NÓS? UM ESTUDO DA ALTERNÂNCIA PRONOMINAL DO PORTUGUÊS DO MARANHÃO
Camilla Maramaldo Ferreira 1
Conceição de Maria de Araujo Ramos 2
1. Graduanda do Curso de Letras - Dpto de Ciência Humanas - UFMA
2. Profa. Dra. /Orientadora - Dpto de Ciência Humanas - UFMA
INTRODUÇÃO:
O sistema pronominal do português brasileiro contemporâneo tem sofrido notória transformação. A exemplo temos a concorrência da forma “a gente” com a forma canônica nós para designar a primeira pessoa do plural. A gramática normativo-prescritiva, por sua vez, não consegue esclarecer muitos dos fenômenos e mudanças que vêm ocorrendo no PB. Diante dessa realidade e da complexidade que envolve o estudo acerca da natureza pronominal, há premência em investigar como está sendo representada a primeira pessoa do plural no português falado no Estado do Maranhão.
Outro fator que justifica a realização deste trabalho é a escassez de pesquisas concluídas acerca da representação da primeira pessoa do plural no Maranhão, sobretudo no que diz respeito à alternância "nós/ a gente", "a gente/ nós" na fala dos maranhenses. Buscamos, ainda, colaborar para o mapeamento da ocorrência deste fenômeno no Brasil e acreditamos que o nosso trabalho contribuirá para um maior conhecimento da reestruturação do sistema pronominal brasileiro, oferecendo subsídios para que o ensino de língua materna corresponda de maneira coerente ao uso real da língua pelos brasileiros.
METODOLOGIA:
Delimitamos e selecionamos o corpus desta pesquisa com base nos inquéritos pertencentes ao Banco de Dados do Projeto ALiMA. Para tanto, foram considerados o questionário morfossintático, em particular as questões 26 e 28, os discursos semidirigidos e as perguntas metalinguísticas.
Para investigação usamos os seguintes instrumentos para coletas de dados:
i) As questões 26 e 28 do questionário morfossintático; as perguntas metalinguísticas e os discursos semidirigidos;
ii) Ficha do informante contendo informações socioeconômicas (nome, idade, sexo, naturalidade, escolaridade, endereço, estado civil, local de trabalho, etc);
iii) Ficha da localidade contendo o nome oficial do município, gentílico, população, atividades econômicas, infraestrutura, características demográficas e um breve histórico da localidade;
Para análise geral dos dados, selecionamos, ainda, os fatores linguísticos – função sintática (sujeito e não-sujeito), paralelismo formal e determinação do referente – e os extralinguísticos sexo, escolaridade (em São Luís) e faixa etária e tabulamos os resultados.
O universo desta pesquisa contemplará a capital São Luís e Balsas, contando com a colaboração de informantes das referidas cidades.
RESULTADOS:
A amostra evidenciou que:
i) Em São Luís e em Balsas, a alternância nós/a gente se verifica tanto em função de sujeito como em função de não-sujeito. É na função de sujeito que se observa maior alargamento do domínio de “a gente”.
ii) Em Balsas, as mulheres tendem a empregar “nós” por “a gente”;
iii) O uso da forma “a gente” evidencia que há um avanço significativo da forma inovadora em direção ao domínio da forma “nós”. Entretanto, a faixa etária 2 ainda conserva a forma canônica;
iv) Em São Luís, somente um falante da geração mais jovem selecionou a variável “nós” para representar a primeira pessoa do plural, o que confirma o encaixamento da forma “a gente” no subsistema dos pronomes pessoais.
v) Quanto à escolaridade, em São Luís, a utilização da forma linguística padrão “nós” está associada aos falantes com maior nível de escolaridade.
CONCLUSÃO:
Investigamos e analisamos, em primeira instância, os dados da fala dos informantes de dois municípios – a capital, São Luís, e uma cidade ao sul do Estado, Balsas. Essa investigação e análise possibilitaram entender de que maneira está ocorrendo o ingresso da expressão a gente no quadro dos pronomes pessoais do português brasileiro contemporâneo e nos permitiu relacionar este dado com o número de ocorrências de a gente representando a primeira pessoa do plural na fala dos maranhenses. Em síntese, este foi um estudo preliminar que nos auxiliou no conhecimento do nosso objeto de estudo e contribuiu para entender como está sendo representada a primeira pessoa do plural no português falado no Maranhão, dando subsídios para o mapeamento da alternância "nós/a gente", "a gente/nós" no Português do Brasil.
Palavras-chave: Sistema pronominal, Alternância nós / a gente, Português falado no Maranhão.