64ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 2. Comunicação e Educação
INDÍGENAS NA WEB: DA ORALIDADE AOS BYTES: estudo de caso do blog escolar Pamáali – Baniwa - Amazonas
Carlos Fábio Morais Guimarães 1
Luiza Elayne Correa Azevedo 2
1. Mestre em Ciências da Comunicação (PPGCCOM/UFAM)
2. Orientadora / Profa. Dra. do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPFCCOM/UFAM)
INTRODUÇÃO:
As Tecnologias de Informação e Comunicação – tendo o computador móvel ou fixo conectado a internet – seu representante mais expressivo, estão cada vez mais presentes na sociedade brasileira. Nas últimas décadas, o avanço da Internet vem suscitando diversas pesquisas na área da Comunicação sobre as novas formas de comportamento e relacionamentos sociais estabelecidos a partir da mediação proporcionada pela web no intuito de entender esses fenômenos sociais. Uma dessas ‘novas’ formas comunicacionais está relacionada à apropriação e uso das TIC’s pelos indígenas A partir da presença indígena na rede, surgiu-nos tal indagação: os acessos às TIC por parte destes indivíduos estão lhes permitindo manifestar sua cultura, contar suas histórias e interagir plenamente com a sociedade não indígena? Estes acessos provocam a perda de identidade étnica e cultural destes povos ou se constituem vetores de fortalecimento dos costumes e tradições orais? É nesse contexto que a pesquisa analisou o uso das plataformas digitais, mídias sociais e a convergência tecnológica sob o prisma da inclusão digital, tendo como recorte específico, um blog escolar indígena da escola Pamáali , da etnia Baniwa, localizada no alto Rio Negro.
METODOLOGIA:
A pesquisa se desenvolveu por meio de levantamento bibliográfico que proporcionou maior familiaridade sobre o tema. Sobre as transformações comunicativas, recorreu-se a Castells (1999-2003), Di Felice (2005); acerca da virtualidade, utilizou-se Lévy (1994-2010), Santaella (2003-2009), Lemos (2008); teóricos das transformações culturais (Hall, 2006-2008), Laraia (2009) e pesquisadores dos povos indígenas Azevedo Luíndia (2010), Saez (2008) e Pereira (2007). Após a definição do blog como nosso objeto de estudo, o procedimento de investigação escolhido foi um estudo de caso por meio de uma abordagem quali-quantitativa. Nessa etapa, incluímos duas análises: Heurística, de Dias (2003) e a de conteúdo de Bardin (2010). O corpus analisado foi o recorte de 14 posts publicados no período de outubro, novembro e dezembro de 2010. Além da análise heurística e de conteúdo, realizou-se entrevistas abertas com questões não estruturadas por meio de emails e gtalk com o coordenador responsável pela produção do blog.
RESULTADOS:
Nosso objetivo foi entender se as postagens produzidas no blog permitem-lhes incluir digitalmente, favorecendo uma maior interatividade, permitindo-lhes produzir seus próprios conteúdos, contar suas histórias, vender produtos, difundir sua cultura e diferenças. Constatamos que no blog, um número de textos com parágrafos curtos e superficialidade nas informações. Verificamos nas imagens analisadas outro viés: ao se mostrarem em rituais, com vestimentas típicas deles, os indígenas buscam não somente expor sua cultura, suas tradições, mas também, para garantir direitos diferenciais a que tem direitos devido a ausência de políticas públicas para área. A análise heurística verificou numa perspectiva visual, de cima para baixo (top-down) do blog, uma arquitetura da informação simples, não atrativa e eficaz. A simplicidade na estrutura informacional ocasiona uma navegabilidade insatisfatória. Há também uma interface, interação homem-computador, limitada. Observou-se a navegação do internauta prejudicada quando os itens não estão organizados adequadamente. A localização do blog, tendo como suporte a plataforma wordpress limita consideravelmente sua estrutura, pois já prevê um template padronizado, limitando, de certa forma, alterar a organização.
CONCLUSÃO:
Dados do IBGE revelam o crescimento do número de internautas no Brasil. Boa parte dos novos incluídos na rede pertence à baixa renda. Contudo, a desigualdade social e educacional ainda prejudica a inclusão digital no país. A escola Pamáali Baniwa não foge a esse contexto. Se levarmos em conta as dimensões continentais da Amazônia, onde não há ainda uma infraestrutura adequada, percebeu-se o quão é difícil o acesso aos meios de comunicação e as TIC. Nas publicações analisadas constatou-se a exposição indígena na web permite-lhes manifestar as suas atividades escolares, tradições e diferenças, todavia, essa exposição ainda não lhes garante uma inclusão social eficaz. O blog não é somente um meio potencial para divulgação e revitalização de sua cultura, como também uma forma de interatividade entre parceiros e pesquisadores e próprios indígenas, mas é preciso maior capacitação dos produtores para torná-lo mais abrangente, capaz de conquistar mais apoio. A exposição na rede contribui para os indígenas superarem as barreiras implantadas, com por exemplo, o multiculturalismo.
Palavras-chave: Tecnologias em Informação e Comunicação, Internet, Cultura indígena.