A TERMINOLOGIA TÉCNICO-CIENTÍFICA COMO REPRESENTAÇÃO DA NOVA ORDEM INTERNACIONAL: DESDOBRAMENTOS E INTERPRETAÇÕES

 

Ortiz, Alvarez M. L.

Universidade de Brasilia

 

A terminologia é, antes de tudo, um estudo do conceito e dos sistemas conceituais que descrevem cada matéria especializada; o trabalho terminológico consiste em representar esse campo conceptual, e estabelecer as denominações precisas que garantam uma comunicação profissional rigorosa.

Cabré , M T. (1993)

 

A realidade de hoje mostra as perspectivas de um mundo multipolar. As nações se organizam em torno de grandes blocos regionais. A integração é o caminho para enfrentar os aspectos negativos e positivos da globalização e para a construção de um mundo mais equilibrado em que as relações internacionais não se realizem apenas entre paises isolados, mas entre blocos representativos. Hoje se multiplicam movimentos e iniciativas de cooperação entre as nações, visando à integração progressiva de suas economias, de suas políticas, de cultura e movimentos sociais. Assim, a integração tornou-se um imperativo histórico, social e político dos países para sua integração econômica. Este trabalho busca mostrar o estado da arte da terminologia técnico-científica dentro da nova ordem internacional, o enfoque pragmático-comunicacional das linguagens especializadas á luz do funcionamento da linguagem.

 

Dentro da nova ordem internacional devemos levar em consideração o ritmo acelerado da ciência e da tecnologia, uma das condições necessárias do desenvolvimento econômico e social.  . Do ponto de vista econômico as novas pautas são a liberalização da economia, a competitividade, concorrência, agrupamento das empresas e segmentação do mercado. Na política, a tendência generalizada é a supressão de fronteiras e a regionalização. No plano social, a preservação do meio ambiente e a defesa dos direitos e liberdade individual parecem ter tomado um impulso especial nos últimos tempos. Neste sentido, o recondicionamento exige uma maior clareza nas propostas e uma perfeita compreensão das mensagens. Aqui aparece a terminologia como fator importante para a inserção.  Daí a importância de contar com termos adequados e normalizados para conseguir uma rápida compreensão das diferentes e cambiantes situações que se apresentam no nosso dia-a-dia. 

 

As linguagens especializadas surgem dentro da língua comum, com a qual compartilham a maioria dos traços de caráter estrutural -morfologia e sintaxe-, mas se diferenciam desta última pelos objetivos (cobrir as necessidades específicas de comunicação formal e funcional que caracterizam cada uma das profissões nos diversos âmbitos técnicos e científicos). Essas linguagens desenvolvem sua própria metalinguagem e, em principio, permanecem restringidas a comunidades determinadas. Na linguagem técnico-científica tem uma preponderância absoluta o fator “temático”, isto é, a designação exata e inequívoca dos conteúdos referidos que se manifestam, do ponto de vista lingüístico, através de dois traços essenciais: a) a operatividade do principio de consubstancialidade quantitativa, a associação entre o significante e o significado que deve ser interpretada como uma relação biunívoca, ou seja, a um significante não pode corresponder mais de um significado e vice-versa; b) as unidades do léxico técnico-científico não têm valor lingüístico, seu valor é extralingüístico, o domínio nocional de uma ciência está construído e conformado como tal, independentemente da atuação lingüística. A criatividade lingüística é nula, pois são simples nomenclaturas.

 

Os termos técnico-científicos são considerados ideais de expressão de monorreferencialidade, de monossemia e de exclusividade denominativa (Kreiger, 2000). Eles são elementos constitutivos da produção do saber, um recurso de expressão lingüística que favorece a univocidade comunicacional. As características essenciais das linguagens especializadas são: caráter técnico; dependência da língua comum; presença de empréstimos; univocidade; a ausência de polissemia e sinonímia; conotação; o caráter interlingüístico.

 

Lerat (1995) apela para o principio pragmático e funcional das línguas de especialidade. A ciência e a técnica têm um caráter interdisciplinar, por essa razão as fronteiras entre os diversos âmbitos se diluem ao mesmo tempo em que os novos aportes científicos e tecnológicos traspassam também as fronteiras geográficas. Assim, as línguas especializadas são interidiomáticas, o que facilita a comunicação entre a comunidade lingüística internacional e, conseqüentemente, o desenvolvimento da ciência própria de cada um dos países. 

 

Faz-se absolutamente necessário realizar uma tarefa conjunta de terminológos e expertos de unir critérios de recopilação, sistematização e estandardização terminológica que possibilite uma eficaz transferência de conhecimentos, necessária para que nossos países possam deixar de importar tecnologia e terminologia. A revolução nas telecomunicações vai delineando as fronteiras o que fará com que nossos países latino-americanos, por exemplo, possam ter um rol importante dentro da globalização da economia mundial. Na terminologia o mais importante é que o termo técnico-científico entre em funcionamento, que seja aceito pelos especialistas com vistas à intercompreensão e utilização correta dos mesmos nos meios habituais de expressão. A RITerm, por exemplo, oferece um marco adequado de inserção que permite unificar formatos de ficha, compatibilizar programas e possibilitar o intercambio que levará à estandardização, a realizar ações coordenadas. Esta nova era de diálogos mais abertos, em que se tenta superar rivalidades regionais e promover uma verdadeira integração, nos da a possibilidade de executar projetos conjuntos, de desenhar um banco de dados comum que inclua bancos de dados setoriais, determinar estratégias e definir políticas de trabalho conjunto.

 

O movimento terminológico tem de elaborar diretrizes integradoras que dêem realce à função auxiliar da terminologia, promover a qualificação e quantificação da terminologia na busca de uma adequada política lingüística e terminológica. Uma ciência da terminologia acertada pode ter força paradigmática para o progresso global da especialização do conhecimento das ciências do futuro. Um novo espírito de cooperação e intercambio está derrubando o velho espírito do antagonismo. Só uma plena liberdade de autodeterminação lingüística pode nos levar a uma cooperação entre iguais sólida e significativa. A terminologia favorece a orientação e o consenso na representação do conhecimento especializado mediante o discurso. Na medida em que um determinado campo da ciência evolui e concorre com outros campos, a terminologia se torna um instrumento de domínio entre diferentes escolas e especialistas.

 

Do exposto conclui-se que é tarefa fundamental a difusão das terminologias concretizadas em glossários, dicionários especializados e banco de dados para que elas facilitem a comunicação, permitindo que a informação seja recuperada, por um lado, e que estejam a disposição dos usuários para cumprir sua finalidade, por outro. A qualidade dos trabalhos terminológicos e lexicográficos deve estar baseada principalmente em três princípios: a facilidade de acesso; a confiabilidade (o usuário deve ter acesso à terminologia reconhecida pelo meio profissional para quem foi destinada) e a terminologia atualizada. (Ortiz, 2000)

 

Bibliografia

 

KRIEGER, M.G. (2000) Terminologia revisitada. In: DELTA Vol. 16 No2. pp (209-228)

LERAT, P. (1995) Les langues spécialitsées. Paris. Presses Universitaires de France.

ORTIZ, ALVAREZ, M.L (2000) Iniciativas de mapeamento glóssico no âmbito da linguagem científica. In: Acta Semiótica et Lingüística. Vol. 8. SP: Editora Plêiade.


Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004