IMPRIMIRVOLTAR
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 3. Conservação de Sítios
PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO E EDUCAÇÃO: DUAS EXPERIÊNCIAS NA CIDADE DE CÁCERES, MATO GROSSO.
Ione Aparecida Martins Castilho Pereira 1   (autor)   ione_castilho@yahoo.com.br
Esvanei Matucari 1   (autor)   
Roberto Hernández Aracena 2   (orientador)   rhernan@ctcinternet.cl
1. Graduados do Departamento de História, Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT
2. Prof. Ms. do Departamento de Antropologia, Universidade de Chile - UCHILE
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho trata de duas experiências de Educação Patrimonial realizadas em escolas da rede municipal da cidade de Cáceres. O que motivou a execução destas atividades com alunos de 1ª à 4ª série do ensino fundamental foi o fato destas escolas estarem situadas em sítios arqueológicos, como é o caso da escola municipal "Vera Lígia Baldo", localizada na BR 070, a 12 Km de Cáceres, na Fazenda Facão, no sítio arqueológico de mesmo nome; e o da escola municipal "Jardim Paraíso", situada no perímetro urbano de Cáceres, no sítio arqueológico Carne Seca. Atualmente, estes sítios arqueológicos se encontram em um estado deplorável de conservação, pois vêm sofrendo constantes impactos negativos, como conseqüência da ação antrópica e/ou natural. Desta forma, surge à necessidade de se realizar atividades educativas que venha colaborar para a conservação desses patrimônios. As atividades educativas têm como objetivo proporcionar o conhecimento e a valorização do patrimônio arqueológico local, levando os alunos a compreender os diferentes modos de se analisar uma evidência cultural. Esta análise é feita através do processo de reconstrução do passado, por meio de fragmentos e vestígios observados no presente, gerando assim um processo ativo de conhecimento, significação, apropriação, valorização de nossa herança cultural, para que desta forma surja nova relação destes bens cultural com os alunos e sua comunidade.
METODOLOGIA:
As atividades foram organizadas e baseadas em três processos educativos: 1º) Conhecimento e compreensão do patrimônio arqueológico local. 2º) Valorização e assimilação de significados do patrimônio arqueológico e 3º) Estabelecimento de novas relações com estes elementos patrimoniais locais. As atividades desenvolvida na escola municipal "Vera Lígia Baldo", foram organizadas em temas como Introdução a Arqueologia; Como trabalha o Arqueólogo; Arqueologia Pré-Colonial; Arqueologia Histórica. Cada tema foi objeto de estudo no decorrer de uma semana, a partir de atividades de observação, manipulação, identificação dos objetos e realização de oficinas. Ao final de cada aula aplicávamos atividades relacionadas à temática trabalhada, possibilitando verificar o nível de envolvimento dos alunos em relação aos bens estudados. Já as atividades desenvolvida na escola municipal escola "Jardim Paraíso" foram divididas em quatro etapas. A primeira consistiu na determinação do grau de conhecimento dos alunos, através de perguntas, manipulação de objetos, dedução, comparação e interpretação. A segunda foi à realização de oficina com fabricação de objetos cerâmicos e apresentação de fotografias e mapas, e posteriormente a descrição verbal e escrita da temática apresentada em sala. A terceira etapa foi visita a campo para análise do problema, levantamento de hipótese, discussão e questionamento, sobre a melhor forma de valorizar o patrimônio arqueológico do Carne Seca.
RESULTADOS:
Os resultados foram obtidos seguindo a metodologia proposta por Horta (1997), na qual a Educação Patrimonial pode se aplicada a qualquer evidência material ou cultural, pois possibilita ao indivíduo fazer uma leitura de sua trajetória histórico-temporal em que está inserido. Na análise do caso da escola "Vera Ligia Baldo" há desenhos em que aparecem ocas, índios com arco e flecha, cenas de caça, como também desenhos de flores, carrinhos, caricatura do bad boy, que nos levou a considerar que a temática para aquele aluno(a) não era pertinente, por não se identificar com o "outro". Aqui é interessante frisar que mesmo que Educação Patrimonial tenha por objetivo derrubar mitos e preconceitos, o menosprezo com relação aos vestígios da cultura indígena ainda está presente na fala e nos desenhos dos alunos. A experiência realizada na escola "Jardim Paraíso" nos chamou a atenção o fato dos alunos, na proposta de preservação, referirem o sítio arqueológico Carne Seca , como "nosso", mostrando identificação com este patrimônio local. Essa identidade significa mudança do "outro" para "nosso", indicando a preservação da nossa memória, da nossa identidade como seres humanos. Os resultados diferentes obtidos nas duas escolas estudadas expõem questões que requerem uma linha de investigação, a fim de determinar quais são as condições que entrevêem para explicar os diferentes processos de identidade com respeito à cultura e às populações pré-históricas locais.
CONCLUSÕES:
Os resultados destas atividades de Educação Patrimonial serão percebidos em longo prazo, a partir de novas ações patrimoniais como estas realizadas nas escolas municipais do Facão e Carne Seca, não se restringindo somente a rede municipal de ensino, mas que se estenda a outras escolas e à comunidade. Já que temos um patrimônio cultural riquíssimo em todas suas manifestações e este necessita ser conhecido e estudado. Uma educação patrimonial vinculada à identidade, aos conhecimentos comunitários, possibilitando o redescobrimento e valorização do seu/nosso patrimônio local. Isto implica em um fortalecimento dos espaços de diálogo entre as culturas locais e o conhecimento científico do patrimônio, o que significa o promover uma permanente investigação arqueológica, histórica e antropológica sobre o patrimônio local e a memória coletiva das comunidades. A sensibilização das pessoas em relação aos Sítios Arqueológicos é essencial para a preservação. Isso se resume em um processo educativo permanente ao nível das populações locais, mas com uma ênfase nas novas gerações, pela receptividade aos novos conhecimentos de suas realidades passadas, presentes e futuras.
Palavras-chave:  Educação Patrimonial; Patrimônio; Identidade.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004