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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior
O NEGRO NA UFMT: PERFIL RACIAL DE ALUNOS DOS CURSOS DE HISTÓRIA, ECONOMIA E DIREITO.
Cássia Fabiane dos Santos 1   (autor)   cassiafabiane@terra.com.br
Maria Lúcia Rodrigues Muller 1   (orientador)   mullerlu@terra.com.br
1. Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa nasceu do interesse de compreender a existência de um grande desnível no tempo de escolaridade no ensino superior entre brancos e negros, com prejuízos para os últimos. Tem como objetivo identificar a cor e a trajetória de vida e de estudo de alunos dos cursos de História, Economia e Direito da UFMT, mapeando a distribuição racial dos alunos dos referidos cursos no período de 1998 a 2002. Tendo como pressuposto que a educação é capaz de promover a ascensão social e econômica do negro na busca de uma maior igualdade entre os brancos (Azevedo, 1955), decidiu-se por pesquisar quais foram os fatores determinantes na trajetória escolar de alunos negros que conseguiram romper com o processo de exclusão no acesso ao ensino superior. A pesquisa propõe um caminho inverso ao tradicional enfoque dado nas investigações das desigualdades, que, em geral, enfatiza as dificuldades enfrentadas pelo negro no acesso ao sistema escolar. Acreditamos que fazer um estudo das trajetórias de vida e escolar dos alunos negros até chegar a UFMT pode contribuir para explicar como e quando a realização de um curso superior passa a fazer parte de seus projetos visando uma possível ascensão social, via educação, e por que estes são bem sucedidos onde tantos fracassam.
METODOLOGIA:
Através de levantamento de fontes sobre o perfil dos alunos da UFMT nos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), Monografias, Dissertações, Teses, artigos e documentos diversos, comprovou-se que praticamente inexiste um corpo de estudos sobre relações raciais e educação na UFMT. O último levantamento sócio-econômico data de 1996. Contudo, não contempla o quesito cor, o que torna evidente a necessidade de se preencher a lacuna dos anos anteriores no que se refere à origem racial e as trajetórias escolares. Constatamos então que a única forma possível de obter um dado que mapeasse os alunos dos três cursos pesquisados seria através da fotografia 3X4 que consta em suas fichas de matrícula. Analisando as fotografias definimos sua cor baseando-se nas categorias proposta por Teixeira (2003): NEGROS, MULATOS, PARDOS E BRANCOS. Elaboramos uma ficha contendo alguns critérios a serem observados, de forma a obter um perfil mais sistematizado dos mesmos: nome; número de matrícula; data e local de nascimento; quando, em que estabelecimento e qual o curso realizado no ensino médio; categoria de cor existente na certidão de nascimento; o ensino superior: trancamento, mudança de turno, outra graduação. Tendo identificado os alunos negros, mulatos e pardos realizamos entrevistas com os mesmos. Na coleta dos depoimentos utilizamos a técnica de história de vida. Esta técnica é definida aqui como um relato de um narrador sobre sua existência através do tempo, tentando reconstruir os fatos vividos.
RESULTADOS:
Foram analisados documentos de 1.169 alunos dos Cursos de História, Economia e Direito da UFMT, campus Cuiabá, que estão distribuídos entre os anos de 1998 a 2002. Os dados mostram que há uma presença significativa de negros e pardos no curso de História e Economia. Porém, isto não ocorre no Curso de Direito. Atribuímos a este fato a idéia que se tem deste ser um curso elitizado. Logo, de uma maior concorrência candidato/vaga. Por sua vez, quando comparamos a trajetória escolar dos alunos brancos com a dos negros, estes demonstram ter uma trajetória muito mais acidentada, chegando a ter de 1 a 2 trancamentos de matrícula. Também é expressiva a quantidade de alunos negros e pardos que realizaram estudos supletivos para completar o ensino médio e, às vezes, até o ensino fundamental. Esses estudos, na sua grande maioria, foram realizados em escola pública estadual. Quanto à origem geográfica, nota-se uma forte presença de alunos oriundos da Capital Cuiabá ou do interior do Estado de Mato Grosso nos Cursos de História e Economia. No Curso de Direito há uma representação significativa de alunos oriundos de outros estados, principalmente do sul e sudeste.
CONCLUSÕES:
No Brasil, existe um sistema de hierarquização social em que a cor se associa ao status social para definir o lugar das pessoas. Nesse sistema, a cor mais clara está relacionada ao status mais elevado e a cor mais escura, aos mais baixo status, esta é uma realidade que permeia todas as instituições sociais, dentre elas, as instituições educacionais. Pois os dados mostram que há posições hierárquicas na situação sócio-econômica dos estudantes correspondentes à sua gradação de cor e que coloca aqueles consistentemente classificados como brancos na situação de maior privilégio e os classificados consistentemente como negros, mestiços, índios na situação de menor privilégio. Ao analisar o acesso de alunos negros, pardos e mulatos à universidade, podemos afirmar que esta realidade se configura mais uma vez, já que as trajetórias dos alunos negros apresentam-se bem mais acidentadas do que as dos alunos brancos. Sendo assim, conclui-se que os negros e mulatos chegaram mais tarde na Universidade, vieram de escola pública e são os que levaram mais tempo para concluir o ensino médio. Uma parcela desses alunos apresenta freqüentes interrupções nos estudos, mas, ainda assim, continuam estudando para ascender-se socialmente. Acreditamos que o tipo de informação obtido com esse estudo permitirá a universidade planejar melhor a busca de recursos para o apoio da graduação, à medida que terá uma base de dados mais fidedigna sobre seu alunado.
Palavras-chave:  Ascensão Social; Trajetória de vida; Cor e discriminação no ensino superior.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004