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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior
TRAGETÓRIA ESCOLAR DE ALUNOS NEGROS DA UFMT
Edmara da Costa Castro 1   (autor)   edmara_cc@bol.com.br
Maria Lúcia Rodrigues Muller 1   (orientador)   mullerlu@terra.com.br
1. Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT
INTRODUÇÃO:
Apesar de ser o segundo país de maior população negra no mundo, O Brasil apresenta um significativo quadro de desigualdades raciais reproduzidas nos diversos campos sociais. No contexto educacional, essas desigualdades estão inseridas nas condições de ingresso e permanência de negros e brancos nos níveis de ensino. Nas escolas públicas brasileiras, onde grande parte dos alunos é pobre, quem apresenta maior número de insucesso, fracasso, repetência e evasão escolar é o alunado de ascendência negra. Especificamente no ensino superior, os dados da PNAD 1988 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) apontam que, enquanto 13,3% dos homens brancos e 10,7% das mulheres brancas chegam ao nível superior, apenas 2,8% dos homens negros e 2,6% das mulheres negras alcançam esse patamar. Esses dados mostram que o acesso ao ensino superior fica limitado aos negros, que, por sua vez, não conseguem ascender socialmente, através da escolarização, na mesma proporção que os brancos. O presente trabalho faz parte de um Projeto mais amplo “Mapeando a Cor da UFMT” do NEPRE (Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação), e tem como objetivo apresentar o resultado do levantamento realizado sobre cor e percurso escolar dos alunos dos cursos de Nutrição Medicina e Enfermagem da UFMT. A pesquisa verificou o período de conclusão do ensino médio até o ingresso nos referidos cursos.
METODOLOGIA:
Para obter dados sistematizados desses alunos, elaborou-se uma ficha para registro de informações, contendo os seguintes itens: número de matrícula, nome, cor, naturalidade, data de nascimento, idade, sexo, tipo de rede que o aluno cursou o ensino médio, anos no ensino médio, ano e idade de ingresso na UFMT e observações extras, onde foram registradas informações referentes a processos de trancamento de matricula, entre outras situações. Nesse levantamento, serviram-se de fontes as pastas dos alunos que ingressaram na UFMT no período de 1995 a 2002, arquivadas na CAE (Coordenação de Administração Escolar/UFMT), contendo cópias de documentos pessoais, histórico escolar, certificado do ensino médio, ficha da primeira matricula na UFMT e foto 3x4. Esses documentos constituíram a única forma de obter informações sistematizadas sobre cor e percurso escolar, e o único instrumento que permitiu obter uma representação da totalidade dos alunos negros dos cursos pesquisados. Para classificar os alunos por cor, optou-se utilizar as categorias definidas por TEIXEIRA (2003), que tomou como base , as categorias de cor oficiais do IBGE (branca, preta, amarela, parda indígena), acrescida de uma terceira categoria intermediária (mulato), ficando da seguinte forma: negra, mulata, parda, branca. Essa opção deveu-se a necessidade de um tipo de classificação que permitisse identificar o maior número possível de pessoas negro-descendentes, visando a ampliação do debate.
RESULTADOS:
Foram encontradas fotos 3x4 dos alunos matriculados nos cursos de Medicina, Nutrição e Enfermagem nos anos de 95, 96, 99, 2000. Portanto de 686 pastas observadas, somente em 32% foram encontradas fotografias. Isso permitiu a seguinte classificação: pardos 43% brancos 25%, mulatos 21% e negros 11%. Na distribuição dos alunos por curso e cor, aparecem as categorias pardos com 45%, mulatos com 24%, brancos com 19% e negros com 12% no curso de enfermagem, no curso de nutrição pardos com 44% , brancos com 24%, mulatos com 20% e negros com 12%, o curso de medicina com 38% de alunos pardos, 34% brancos, 20% mulatos e 8% negros. Em relação à média de idade dos alunos ingressos nos referidos cursos, apresentam-se os pardos e negros com 19 a 30 anos, os mulatos com 18 a 28 anos, e os brancos com 17 a 30 anos. Vale ressaltar, que foram encontrados alunos com idade na faixa de 40 e 50 anos na categoria de cor parda. A representação desses alunos em relação ao tipo de instituição (pública ou privada) em que cursou o ensino médio, é significativo entre as quatro categorias de cor, nas escolas privadas, totalizaram 64%, nas públicas 21%, os que passaram por escolas públicas e privadas 13% e 2% não apresentam tipo de instituição. Se analisarmos os três cursos pesquisados de forma hierárquica, os alunos brancos estão concentrados nos curso de medicina e nutrição, enquanto que no curso de enfermagem, os alunos negros, mulatos e pardos.
CONCLUSÕES:
Conclui-se que os resultados desta pesquisa, retificam os dados preliminares do Primeiro Censo Étinico-Racial (2003) com os alunos da UFMT, que os negros encontram-se alocados nos cursos considerados de menor prestigio e menos disputados no exame vestibular. O curso de medicina é o mais concorrido e apresenta o menor número de alunos de cor negra . Esse levantamento constata que a maioria dos negros não chega nesse nível de ensino na mesma proporção que os brancos e, quando ingressam a uma universidade pública, são em cursos menos concorridos, na tentativa de realizar o sonho de ingressar em uma universidade pública. Isso se evidencia nos processos de transferencia indeferidos de alunos negros e mulatos do curso de enfermagem. Acredita-se que esses dados trazem contribuições significativas para outras pesquisas que abordem a questão desses estudantes, fomentando o debate em torno das relações raciais no ensino superior.
Palavras-chave:  Cor; Tragetória Escolar; Ensino Superior.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004