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A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 2. Química Ambiental
HERBICIDAS EM ÁGUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEAS EM ÁREAS AGRÍCOLAS EM PRIMAVERA DO LESTE, MATO GROSSO
Eliana Freire Gaspar de Carvalho Dores 1, 3, 5   (autor)   eliana@cpd.ufmt.br
Maria Lúcia Ribeiro 2   (orientador)   mlucia@iq.unesp.br
Alício Alves Pinto 5   (colaborador)   
Marcelo Luiz Ferreira Cunha 1, 5   (autor)   mlfc@cpd.ufmt.br
Leandro Carbo 1, 5   (autor)   carbo@cpd.ufmt.br
Denise Graziele Góis Santos 4   (colaborador)   
Luana de Souza 4   (colaborador)   
1. Prof. do Departamento de Química - ICET, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
2. Prof. do Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista - UNESP
3. Pós-graduanda do Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista - UNESP
4. Graduandos do Curso de Química, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
5. Pesquisador do Grupo de Estudo de Poluentes Ambientais
INTRODUÇÃO:
O uso de pesticidas no mundo tem crescido, em especial, em regiões tropicais com a intensificação da atividade agrícola. Existe uma preocupação crescente com a contaminação ambiental por essas substâncias, particularmente em relação ao ambiente aquático. Existem inúmeras pesquisas desenvolvidas em regiões de clima temperado, mas publicações sobre a ocorrência de pesticidas em ambiente tropical são raras e, na sua maioria, estudaram principalmente os organoclorados que têm seu uso proibido no Brasil na agricultura desde 1985. O Brasil é hoje, o quarto mercado consumidor de agroquímicos no mundo, sendo que a fronteira agrícola em expansão são as áreas de cerrado, com destaque para o estado de Mato Grosso que é o maior produtor de grãos do país. A região de Primavera do Leste no sudeste do estado é uma das grandes produtoras de soja e algodão, e em menor escala milho e arroz. Isto posto, o objetivo do presente estudo foi determinar resíduos dos herbicidas atrazina e seus metabólitos desetilatrazina (DEA) e desisopropilatrazina (DIA), simazina, metribuzina, metolaclor e trifluralina, usados em culturas de soja, algodão e milho, em amostras de água superficial, subterrânea e do lençol freático. As áreas de estudo são fazendas de cultivo de algodão com rotação com soja e milho.
METODOLOGIA:
O método de análise dos herbicidas em água, em resumo, consistiu na extração em fase sólida de 500 mL de amostra em cartuchos de C 18 (1000 mg), eluição com acetato de etila, concentração usando evaporador rotatório e análise em CG/DNP. Para validação do método, foram efetuados estudos de recuperação, a partir dos quais foram calculadas a precisão e exatidão, bem como os limites de detecção e de quantificação do método. Foram coletadas amostras de água em três fazendas na região de Primavera do Leste, que foram escolhidas segundo os seguintes critérios: plantio de algodão e soja, proximidade a cursos d’água, solos característicos da região. Amostras de água do lençol freático e de águas superficiais foram coletadas mensalmente, no período de janeiro de 2002 a março de 2003 enquanto amostras de poços tubulares foram coletadas em quatro épocas: abril, agosto e novembro de 2002 e fevereiro de 2003. A água do lençol freático foi amostrada em piezômetros instalados logo abaixo das áreas de plantio na vertente, alinhados perpendicularmente ao curso d’água. As amostras de água superficial foram coletadas a uma profundidade de aproximadamente 30 cm (quando possível), seguindo a direção de alinhamento dos piezômetros. Nos poços tubulares, as amostras foram coletadas diretamente da saída da bomba do poço. A água foi bombeada por três a quatro minutos e descartada; o volume seguinte de água foi colocado em garrafa de vidro âmbar.
RESULTADOS:
As recuperações da atrazina, simazina, DEA, metolaclor e metribuzina variaram de 72 a 110 % com CV < 15 %, na faixa de fortificação de 0,05 a 8,2 µg/L, enquanto para a trifluralina a recuperação variou de 57 % a 75% com CV < 13 %. Para o DIA a recuperação foi baixa e muito variável. Assim, com exceção do DIA, o método se mostrou adequadamente preciso e exato para uso em análise de resíduos destas substâncias em água. Os limites de detecção foram inferiores a 0,1 µg/L, concentração máxima admissível definida pela Comunidade Econômica Européia para a presença de qualquer pesticida em água. Pelo menos um dos herbicidas foi detectado em 59% das amostras de água do lençol freático, 21% das de água superficial e em 16% das de poços tubulares. Foram detectados atrazina, DEA e metolaclor. A simazina, metribuzina e trifluralina não foram usadas nas áreas estudadas nos últimos dois anos, o que explica o fato de não terem sido detectados. Observou-se a ocorrência de concentrações mais elevadas de atrazina e metolaclor em água do lençol freático nos meses de maio a setembro. Apesar de nesses meses a precipitação ser pequena e, portanto não ocorrer lixiviação, estas concentrações mais elevadas podem ser explicadas pelo fato de ocorrer redução da quantidade de água o que pode causar o aumento da concentração. As concentrações máximas de metolaclor, atrazina e DEA foram 0,64; 0,21 e 0,11 µg/L, em águas do lençol freático, respectivamente.
CONCLUSÕES:
O método avaliado mostrou-se eficiente para todos os pesticidas estudados, com exceção do DIA, com uma recuperação excelente além de uma precisão muito boa mostrada pelos baixos coeficientes de variação. A elevada freqüência de detecção dos herbicidas atrazina e metolaclor em água do lençol freático deve-se ao seu elevado potencial de lixiviação como conseqüência do baixo coeficiente de adsorção ao solo e elevada solubilidade em água, além de meia-vida no solo também relativamente elevada. Uma vez que os fatores responsáveis pela degradação destas substâncias, tais como luz solar, atividade bacteriana, concentração de oxigênio, dentre outros, estão ou ausentes ou presentes em muito menor intensidade nas camadas mais profundas do solo, a presença destas substâncias no lençol freático é um indicativo da vulnerabilidade das águas subterrâneas à contaminação por estas substâncias.
Instituição de fomento: FACUAL
Palavras-chave:  águas; herbicidas; CG/DNP.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004