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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural
A PRÁTICA DO COOPERATIVISMO NO MST: UM ESTUDO DE CASO.
Eliene Gomes dos Anjos 1   (autor)   eliene.anjos@bol.com.br
Antônio da Silva Câmara 2   (orientador)   camara@ufba.br
1. Pós-graduanda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - UFBA
2. Prof. Dr. do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - UFBA
INTRODUÇÃO:
O cooperativismo enquanto uma prática vinculada aos movimentos sociais é cada vez mais evidente na realidade social brasileira. Esse tipo de cooperativismo se converte em iniciativas econômicas solidárias e não é novidade no cenário histórico da classe trabalhadora. Em 1848, em Rochadale, Inglaterra, foi criado a primeira cooperativa sob domínio dos trabalhadores, no sentido de garantirem melhores condições de vida para seus membros. A partir dessa experiência o cooperativismo passou a ser apresentado como alternativa de produção e trabalho para os menos favorecidos. A crise atual do emprego tem gerado um número cada vez maior de experiências cooperativadas no meio popular. Essas iniciativas mesmo não se constituindo em novos modos de produção, encarnam valores e formas de organização opostas aos do capitalismo, sob essa ótica percebemos o surgimento de cooperativas em assentamentos rurais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. O desenvolvimento dessa pesquisa justifica-se na medida em que há poucos estudos de caráter sociológico entre nós e tem crescido ultimamente o interesse pelo assunto nos meios acadêmicos e no próprio aparelho de Estado.Objetiva-se realizar uma análise da prática do cooperativismo no MST; compreender em que medida este cooperativismo se contrapõe à relação capital trabalho; além de verificar se a inserção dos indivíduos neste tipo de cooperativa contribui para a gestação de novos sujeitos e novas relações sociais.
METODOLOGIA:
O objeto desta pesquisa está situado neste contexto, pois centra-se na investigação de uma cooperativa de piscicultura no Assentamento Terra Vista, criada em 1994 no município de Arataca-BA, coordenado pelo MST. Os procedimentos investigativos adotados seguem as seguintes etapas: A pesquisa bibliográfica que consiste na análise do referencial teórico sobre o cooperativismo, a economia solidária, os assentamentos e as práticas empreendidas pelos movimentos sociais, como o MST, baseando-se nos seguintes autores: Karl Marx, Friedrich Engels, Boaventura dos Santos, Paul Singer, entre outros. Na segunda etapa, a observação participante, entrevistas semi-estruturadas com os cooperados e suas lideranças, buscando caracterizar a cooperativa e construir um perfil dos seus membros.
RESULTADOS:
As análises realizadas indicam que é bastante difícil à assunção da ideologia coletivista defendida pelo MST. A experiência de lotes coletivos desde a criação do Assentamento Terra Vista levou logo de início a desistência de 40 famílias do total de 100, expressando a discordância dessa prática. A cooperativa de piscicultura criada como forma de reprodução dos assentados é apresentada como idéia dos assessores e coordenadores do movimento. Na gestão da cooperativa há vários limites, dentre eles a precariedade na formação técnica de vários cooperados, dificulta a realização de tarefas pertinentes à criação dos peixes. No entanto, percebem-se transformações no cotidiano dos sujeitos envolvidos nesta experiência. A organização do trabalho não é pautada pela autoridade entre os sexos, essa prática indica uma mudança na relação de gênero, pois subverte o papel masculino de chefia, possibilitando uma maior igualdade entre homens e mulheres, todavia percebe-se que essa prática ainda é restrita ao interior da produção e gera antagonismo na relação familiar. Apesar de não haver consenso sobre a divisão do trabalho, os entrevistados analisam como positivo às horas destinadas à cooperativa, porque a mesma pertencem a eles, embora ainda seja necessário desenvolverem outras atividades para garantirem sua sobrevivência. De uma forma geral, essa prática vem contribuindo em mudanças na vida individual e amplia os campos sociais que operam valores e formas de organização não capitalista.
CONCLUSÕES:
A proposta coletivista do MST surge como objetivo central à mudança da sociedade e do sistema capitalista. No entanto, as formas idealizadas de coletivos não são efetivadas plenamente, devido à complexidade e contradições existentes no interior do assentamento. Apesar da falta de consenso na avaliação da cooperativa, é inegável que o tipo de cooperativismo colocado em prática pelo MST, vem remodelando a face dessa prática que no Brasil estava ligado essencialmente as grandes empresas.
Instituição de fomento: Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford
Palavras-chave:  Cooperativismo; Mov. dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; Assentados.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004