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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
A CONDIÇÃO HUMANA DA MULHER NA ZONA FRANCA DE MANAUS
Iraildes Caldas Torres 1   (autor)   ictorres@horizon.com.br
1. Depto. de Serviço Social, Universidade Federal do Amazonas - UFAM
INTRODUÇÃO:
O espaço fabril é o locus da sevícia dos corpos, especialmente dos corpos das mulheres. A disciplina aplicada ao trabalho das mulheres é acompanhada de uma carga depreciativa da condição feminina por parte de encarregados, supervisores e gerentes de produção das empresas localizadas no Distrito Industrial de Manaus. A cadência do trabalho repetitivo, acelerado e pressionado têm fortes implicações na saúde do trabalhador homem e mulher estando, pois, em risco a sua saúde física e psíquica. No caso das mulheres a depreciação moral vem somar-se a esses males, haja vista que as empresas do Pólo Industrial de Manaus permitem o tratamento jocoso e abusivo no chão de fábrica. Expressões do tipo “mulher fácil”, sonsa e libertina compõem o quadro da política de depreciação da mulher na Zona Franca de Manaus. Este estudo se ocupou do exame destas questões, procurando perceber os impactos da disciplina fabril e da depreciação moral na vida das mulheres de descendência indígena que tiveram experiência no trabalho industrial. Trata-se de uma pesquisa que vem ao encontro dos anseios da organização das mulheres trabalhadoras metalúrgicas, as quais não só impulsionaram a realização deste trabalho, como constituem a sua própria alma.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa assumiu o aporte teórico-metodológico das abordagens qualitativas, fazendo uso da técnica de gravador e entrevista a partir de um roteiro previamente estruturado. A amostra empírica foi composta por 04 empresas e o critério de escolha destas empresas consistiu no fato de serem de grande porte e por apresentarem um grande contraste entre mulheres e homens no seu quadro funcional. Foram ouvidas 20 mulheres, sendo 04 operárias do chão de fábrica de cada empresa, e 4 lideranças que assumiram cargos na diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos e Eletroeletrônicos do Amazonas e que tiveram efetiva participação na organização das mulheres operárias. A intenção era saber a forma pela qual essas trabalhadoras lidaram com as diferenças de gênero no processo produtivo e na esfera sindical. Entrevistamos também 1 operário do chão de fábrica de cada empresa escolhida; 2 ex-presidentes do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos Eletroeletrônicos do Amazonas e 1 gerente do sexo masculino de cada fábrica em apreço, perfazendo um total de 10 homens. A intenção era perceber a forma pela qual as operárias eram vistas pelo sexo masculino dentro das fábricas, quais eram as práticas de sedução utilizadas pelos gerentes e como o sindicato dialogava com o preconceito étnico e de gênero.
RESULTADOS:
Os resultados apresentados em forma de tese de doutoramento trazem revelações importantes que desmistificam a imagem da mulher índia como exótica e lasciva sexual. Constatou-se, com base nos dados obtidos, que as mulheres foram o grande alicerce da organização operária no Distrito Industrial de Manaus: paralisaram as empresas e deram sustentação às grandes greves operárias locais, foram pioneiras em conquistas sociais para o segmento feminino como é o caso da licença maternidade de 60 dias antes mesmo da Constituição Federal que a ampliou para 90 dias. Constatou-se, também, que as mulheres enfrentaram discriminação dentro do próprio sindicato, onde elas são vistas como tarefeiras. As mulheres tecem uma rede de saberes e significados que se estabelece por fora da formalidade e da institucionalidade. Elas se expressam como sujeitos individuais e coletivos com outros gestos, palavras e simbologia. Apropriam-se de um tipo de linguagem aberta e horizontalizada que fustiga os clichês de etiqueta, desafiando o poder patronal.
CONCLUSÕES:
As mulheres operárias de origem indígena sentiram o peso da discriminação no espaço fabril e na superestrutura sindical. Mas o movimento de mulheres ganhou força nas últimas décadas, sobretudo porque tem formulado propostas à sociedade e obtido vitórias importantes no âmbito das políticas públicas. A sociedade manauara assistiu, com apreço e entusiasmo, ao movimento operário protagonizado por mulheres corajosas que não se intimidaram diante das sanções do poder patronal. A tomada de consciência da condição operária constituiu-se na pedra de toque do novo ser mulher, livre em suas escolhas. Assumir a dianteira da causa operária no espaço fabril implicaria colocar-se no fio da navalha da política de demissão e perseguição das empresas. Entre calar e aceitar passivamente a opressão e a exploração fabril, as lideranças femininas preferiam enfrentar as sanções empresarias em favor da liberdade de expressão e da ação reivindicativa.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  Trabalho Industrial; Mulher Indígena; Zona Franca de Manaus.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004