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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
A FEIRA DE LAGARTO (SE) : ESTRATÉGIA DE SOBEREVIVÊNCIA NO MERCADO INFORMAL
NÚBIA DIAS DOS SANTOS 1   (autor)   nubiadi@ig.com.br
GILVANETE DE OLIVEIRA MELO 1   (autor)   
1. DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - UFS
INTRODUÇÃO:
O município de Lagarto, possui uma população de 83.334 habitantes, dos quais 40.527 residem no urbano. Localiza-se na Microrregião Agreste de Lagarto no centro-sul do estado de Sergipe, conta com quatro feiras semanais e integra uma das maiores do estado, realizada às segundas-feiras, concentrando 1300 feirantes. A importância da feira para o município está atrelada a sua forte atividade agrícola que emprega 12.697 pessoas, enquanto o setor terciário absorve 14.009 trabalhadores. A análise da feira contribui para conhecermos seu papel na divisão do trabalho, sua dinâmica sócio econômica, é também termômetro da realidade local/global promovida pela lógica desigual e contraditória do sistema capitalista, que interfere em todas as esferas no espaço/tempo. As feiras estão incluídas no circuito inferior da economia, analisada enquanto mercado periódico, que serve como válvula de escape, para as camadas da sociedade excluídas do setor formal da economia. Compreendemos esta atividade inserida dentro de uma rede que a cria e a reproduz, ao tempo que a repele, colocando-a numa posição subalterna, dentre as atividades econômicas, mas que dela também extrai mais-valia. Observamos em quais aspectos e em qual intensidade, a atividade feireira pode ser entendida como estratégia de sobrevivência para este contingente populacional excluído; as vantagens e desafios impostos a estes atores sociais, para manutenção da atividade e conquista da qualidade de vida.
METODOLOGIA:
Realizamos pesquisa bibliográfica sobre feira, mercados periódicos, setor informal e circuitos da economia, para construção do arcabouço teórico; levantamos informações junto aos arquivos públicos; pesquisa sobre dados populacionais de Sergipe e de Lagarto, para avaliar o crescimento populacional e seu impacto no setor informal; pesquisa sobre a População Economicamente Ativa por setor de atividade; elaboramos questionários a serem aplicados aos feirantes e realizamos Pesquisa de campo : Foram identificados sete setores existentes na feira de Lagarto, os quais , segundo dados da Prefeitura, comportavam 1269 feirantes. Como mais de trezentos feirantes, compõem setores muito pulverizados, levamos em consideração os agrupamentos mais significativos, representando 882 feirantes, destes foram selecionados 72. A área destinada a comercialização da madeira (setor 6 ) não foi considerada para análise por se descaracterizar como mercado periódico. Foram aplicados 12 questionários em cada um dos demais setores classificados como : 1. Cereais, Confecções e tecidos; 2. Confecções e calçados; 3. Frutas e miudezas; 4. Verduras, frutas e peixe; 5. Farinha, frutas e produtos artesanais; 7. Carnes . Após aplicação dos questionários, realizamos a tabulação, tratamento cartográfico, mapeamento e análise das informações, confecção de gráficos, tabelas, quadros e mapas, após a qual foi realizada a redação final da pesquisa.
RESULTADOS:
A Feira em análise é um universo feminino 67%. Apenas na comercialização da carne bovina há predominância masculina. Dos entrevistados 12,5% possuem entre 15 a 20 anos de idade, 80,5% entre 20 e 59 anos e 7% mais de 60 anos. 20,8% são analfabetos, 52,8% não completaram o ensino fundamental, 12,5% possuem o ensino fundamental e 13,7% até o ensino médio completo. 74 % são oriundos do próprio município e 26% dos municípios de Aracaju, Campo do Brito, Itabaiana e Simão Dias. 58% nasceram na zona rural, este é o mesmo percentual para os que estão na atividade há mais de dez anos, 33% entre um e dez anos e 8% estão há menos de um ano na atividade. 64% vivem exclusivamente da feira e são auxiliados pelos parentes, 36% possuem outras fontes de renda, principalmente na agricultura, empregam geralmente uma pessoa, pagando entre R$ 5,00 a R$10,00 por feira. Utilizam carroças, carrinhos de mão e caminhões pau de arara, para transportar as mercadorias. Caminhões fechados sem refrigeração transporta a carne bovina. A feira mais rentável é a de Lagarto, na qual 4% ganham menos de R$ 10,00 reais, 43% possuem renda por feira entre R$ 10,00 e R$ 50,00 reais, 11% entre R$ 60,00 e R$ 90,00 reais, 34% entre R$ 100,00 a R$ 500, 00 e 8% acima de R$ 500,00. As de carnes, confecções e calçados, resultam nas maiores rendas. Os feirantes não pretendem deixar a atividade para se submeter ao trabalho formal. Consideram possuir maiores rendimentos, além de serem seus próprios patrões.
CONCLUSÕES:
A feira em Lagarto poderá descaracterizar-se como ponto de mercado periódico, face a comercialização permanente de verduras, frutas e confecções, pois os feirantes deixam de se deslocar para outros municípios por conta dos custos de deslocamento. A sobrevivência é a grande marca da feira, que atrai para si pessoas que não são inseridas no setor formal da economia, em um processo complexo e contraditório, na medida em que, é fruto da dinâmica do capitalismo, porém rejeitado e perseguido pelo aparelho do estado. Absorve produtivamente o exército excluído, articula-se com os demais setores econômicos, numa cadeia produtiva, fragmentada e dependente e também fornece mais valia para o sistema, que permite e se beneficia da sua existência. O mercado informal é válvula de escape, à crise de desemprego, com características e realidade tão dual, heterogênea e complexa, quanto a do sistema que a criou, a repele e a reproduz. A Feira é um objeto de análise, altamente rico e complexo. Entender a sua dinâmica permite compreender a lógica excludente do sistema capitalista. Há uma tendência ao crescimento da população economicamente ativa excluída, face a restrição do setor formal na contratação de mão de obra. O desemprego estrutural é uma cortina de fumaça, que se dissipará, mostrando as reais causas do desemprego, da fome e da miséria. Resta-nos saber se o setor informal da economia, terá a elasticidade necessária para absorver todos os excluídos.
Palavras-chave:  FEIRA; ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA; MERCADO INFORMAL.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004