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G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 2. Arqueologia Pré-Histórica
A MATÉRIA-PRIMA LÍTICA E SUA ORIGEM LITOLÓGICA NA REGIÃO DA "CIDADE DE PEDRA", BACIA DO RIO VERMELHO, RONDONÓPOLIS-MT.
Valéria Cristina Ferreira e Silva 1   (autor)   valcfs@terra.com.br
1. Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo - USP
INTRODUÇÃO:
Os grupos humanos transportam uma grande variedade de materiais em seus assentamentos, entre eles, a matéria-prima lítica para a fabricação do utensílio, ou mesmo, o utensílio propriamente dito. O lítico encontrado nos sítios arqueológicos apresenta uma proveniência, cujos estudos estão relacionados à localização e posicionamento de uma determinada jazida da qual o utensílio mineral é originário. No entanto, a maior parte dos estudos sobre tecno-tipologia lítica, realizados no Brasil, não se atem com a devida profundidade na localização da matéria-prima, baseando suas informações somente em dados secundários, que nem sempre oferecem o detalhamento necessário. As escavações que vem sendo desenvolvidas pelo projeto “Pré-História e Paleoambiente no Mato Grosso”, em sete sítios arqueológicos, na região da Bacia do rio Vermelho, em Rondonópolis, proporcionaram a verificação de níveis arqueológicos com mais de 3000 anos de ocupação. A pesquisa aqui apresentada é parte integrante desse projeto e visa a formulação de hipóteses sobre como os grupos pré-históricos lidaram com o meio, no que se refere a possíveis variabilidades na procura, obtenção e utilização de recursos litológicos.
METODOLOGIA:
Na metodologia de análise desenvolvida para este material é primordial o método de escavação em superfícies amplas, que propicia um conjunto de dados minuciosos sobre a proveniência do material arqueológico, tanto espacialmente, com referências do seu posicionamento num contexto habitacional, quanto cronologicamente, através dos diferentes níveis arqueológicos que se apresentavam na estratigrafia. Nesse sentido, a metodologia empregada pode ser dividida basicamente em duas etapas. Na primeira, é feita a identificação da matéria-prima, que consiste em analisar petrograficamente o material lítico de cada um dos sítios arqueológicos em estudo, de acordo com a camada arqueológica em que se encontram inseridos, a fim de formar conjuntos litológicos. Para esta análise são considerados tanto os utensílios lascados e polidos, como os produtos de lascamento (núcleos, lascas, estilhas e fragmentos). O córtex das peças também é item a ser analisado considerando-o como indício de área fonte. A segunda etapa, consiste na localização das áreas fontes de matéria-prima, onde foram adotados procedimentos de mapeamento geológico como estudo bibliográfico, fotogeológico e então a prospecção em campo. Uma vez identificadas às fontes de matérias-primas, a pesquisa aborda fundamentalmente um estudo comparativo entre os níveis de ocupação de um mesmo sítio (análise intra-sítio) e as seqüências de ocupação de um sítio em relação ao outro (análise intersítio).
RESULTADOS:
A junção das análises de laboratório e campo, resultou em uma tabela onde estão distintos dezesseis conjuntos litológicos, que por sua vez, encontram-se associados a determinados sítios e a determinadas classes líticas. Estes conjuntos, são a sub-divisão de três grandes grupos petrográficos: arenitos, silexitos e cornubianitos, sendo que para cada um deles um procedimento detalhado de análise foi elaborado. A caracterização de um conjunto, em especial, forneceu informações muito interessantes, trata-se de uma rocha metamórfica, cuja jazida não está localizada dentro da área mapeada e que ocorre em todos os sete sítios, independente de sua funcionalidade. Essa rocha é encontrada de forma muito alterada, devido ao contato com o sedimento, dando a falsa impressão de que havia a opção desses antigos habitantes, por uma rocha friável. Além disso, é uma rocha utilizada tanto nas técnicas de lascamento como de polimento e em uma determinada faixa temporal de ocupação. Quanto à relação entre os sítios, foi possível observar, por exemplo, que o sítio Ferraz Egreja apresenta a maior variedade de matérias-primas, essa variedade é refletida quase que totalmente em estilhas e lascas que por sua vez, se relacionam as matérias-primas escassas na área, como os arenitos silicificados e os silexitos. Os poucos artefatos encontrados, como denticulado e raspadores, bem como, as lascas mais espessas e com retiradas foram confeccionados, em grande maioria, em arenitos menos compactos.
CONCLUSÕES:
Os grupos pré-históricos que deixaram seus vestígios nos sítios arqueológicos que estão sendo estudados, não escolhiam as rochas que iriam lhe servir como matéria-prima aleatoriamente. Porém, essas escolhas não foram sempre determinadas por sua melhor competência ao lascamento ou ao polimento, embora os vestígios mostrem que eles tiveram acesso às rochas mais competentes. Esse comportamento, no entanto, não parece estar relacionado somente à distância da área-fonte, pois, há rochas que não estão inseridas na paisagem da área delimitada e são muito abundantes, senão, superiores aos arenitos silicificados e silexitos, em termos de volume. Há uma variação quantitativa e qualitativa de um sítio para o outro em termos de matéria-prima, que não necessariamente está vinculado à proximidade das possíveis áreas de captação. Nesse sentido, alguns conjuntos litológicos, devido a sua peculiaridade petrográfica, permitiram verificar que a exploração do rio Vermelho como via de locomoção foi importante na aquisição dessas matérias-primas.Os artefatos formais foram confeccionados com matérias-primas trazidas da jusante do rio, enquanto os vestígios de re-utlilização, caracterizados pelas estilhas de sílex e arenitos melhor silicificados, foram trazidos da montante do rio. Informações como esta, somadas aos demais pesquisas realizadas neste projeto estão compondo um quadro tecno-econômico para a pré-história da região.
Instituição de fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo
Palavras-chave:  Matéria-prima; Lítico; Geoarqueologia.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004