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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
ALCOOLISMO: AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE DEPENDENTES QUÍMICOS DA FAZENDA DO SOL E DA CLÍNICA PSIQUIÁTRICA DR. MAIA (CAMPINA GRANDE-PB).
ALINE DE ANDRADE MARQUES 1   (autor)   marques0403@ig.com.br
THELMA MARIA GRISI VELÔSO 1   (orientador)   thelma.veloso@ig.com.br
MURIELLA SISA DANTAS DOS SANTOS 1   (colaborador)   muriellasisadantas@ig.com.br
1. Depto. de Psicologia, Universidade Estadual da Paraíba - UEPB
INTRODUÇÃO:
O álcool tem sido apontado como a droga mais consumida ou, pelo menos, experimentada no Brasil (BUCHER, 1992). Lambert (2001) afirma que a freqüência na utilização dessa substância leva o indivíduo ao alcoolismo, sendo considerado uma das maiores causas de morte clínica. Para Alfaro (1993) é relevante um estudo sobre o alcoolismo, na medida em que se fazem urgentes novos elementos para a compreensão desse fenômeno, e por se tratar de um problema de saúde pública. Sendo essa também nossa preocupação, desenvolvemos uma pesquisa na qual comparamos as representações sociais sobre o alcoolismo, formuladas por dependentes do álcool que estão internos no Centro de Recuperação Fazenda do Sol com as dos dependentes que estão na Clínica Psiquiátrica Dr. Maia, ambas situadas em Campina Grande – Pb. Nossos objetivos específicos foram: analisar os fatores elencados por eles, que os levaram ao alcoolismo; identificar elementos que assinalassem a representação que eles elaboram sobre uma possível recuperação; e verificar em que medida o discurso religioso, inscrito na forma de tratamento dos internos da Fazenda do Sol, interfere na elaboração das representações. Como aporte teórico utilizamos a Teoria das Representações Sociais, entendendo representação social como uma forma de conhecimento que é elaborada cotidianamente e que tem, simultaneamente, origem e conseqüência na ação e comunicação entre indivíduos.
METODOLOGIA:
Metodologicamente, optamos por uma pesquisa qualitativa, uma vez que, de acordo com Minayo (1994), é um tipo de pesquisa que lida com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. O número de entrevistas foi determinado pela quantidade e sexo dos alcoolistas internos nas instituições. Desse modo, foram realizadas 12 (doze) entrevistas semi-estruturadas com internos do sexo masculino, sendo 06 (seis) com dependentes da Fazenda do Sol e 06 (seis) com dependentes da Clínica Dr. Maia, que foram gravadas em fitas cassetes e transcritas na íntegra. Para Triviños (1987) a entrevista semi-estruturada contempla questionamentos básicos, direcionados aos interesses da pesquisa, favorecendo, de acordo com as interrogativas, a construção de novas hipóteses a partir das respostas do entrevistado. Para análise das entrevistas, utilizamos a técnica da análise de conteúdo proposta por Bardin (1977), que consiste numa referência útil e relevante que, combinada à coleta de dados, é a prática mais comumente articulada na pesquisa das representações sociais (SÁ, 1998). A média de idade dos entrevistados das duas instituições é de 22 a 60 anos, sendo 05 solteiros e um viúvo. Quanto ao grau de instrução, 01 não freqüentou a escola, 01 possui o primeiro grau completo, 07 não o concluíram, 01 cursou o segundo grau completo e 02 não concluíram o segundo grau. As entrevistas foram realizadas nas próprias instituições, numa sala reservada.
RESULTADOS:
A análise das representações sociais sobre o alcoolismo, elaboradas pelos entrevistados das duas instituições nos conduz as seguintes considerações: o alcoolismo é representado como doença pela maioria, porém com conotações diferentes: doença associada à tristeza/solidão, à vontade incontrolada e à morte. Ainda foi representado como algo que tira os neurônios, como droga, tentação e derrota. Quanto aos fatores que os levaram a dependência química foram as amizades e a família os mais citados. Entretanto, há quem afirme como fator responsável a associação do álcool com uma droga, que tomava para manter-se acordado; e um outro entrevistado acredita ter sido o fato de ter começado muito cedo a beber; e um outro ainda cita a macumba, como fator responsável. No que refere-se às representações sobre uma possível recuperação, dentre os entrevistados da Fazenda do Sol, apenas um deles não vê a recuperação como algo presente em sua vida. Os demais a representam como uma fase que já estão vivendo, sentindo-se recuperados, atribuindo essa recuperação a Deus. Nesse sentido, supomos que o discurso religioso veiculado na Fazenda do Sol influencia na representação sobre a recuperação. Já na Clínica Psiquiátrica Dr. Maia, a maioria dos dependentes só acredita que estão se recuperando ao estarem no hospital, e chegam a afirmar que ao saírem de lá voltarão a beber. Apenas um deles acredita está se recuperando e sua representação de recuperação também está fundamentada no discurso religioso.
CONCLUSÕES:
O alcoolismo é representado pelos dependentes das duas instituições como doença. No entanto, na representação dos dependentes da Clínica Dr. Maia a doença é associada a um único tema: a morte. Observamos também que somente os internos da Fazenda do Sol comparam suas representações que tem hoje sobre o alcoolismo com as que tinham antes quando estavam bebendo. Com isso, supomos que esses entrevistados constroem o discurso dessa forma porque hoje já se vêem recuperados. Constatamos ainda que o discurso do AA (Alcoólicos Anônimos), presente na forma de tratamento das duas instituições interferiu nas representações dos dependentes. Analisando as representações sobre os fatores que os levaram ao alcoolismo, verificamos que a maioria dos entrevistados das duas instituições se exime da responsabilidade por ser alcoolista, apenas um assume total responsabilidade. Na Fazenda do Sol, observamos que o discurso religioso tão presente na forma de tratamento dos internos, conforme mencionado anteriormente, tem influenciado bastante nas representações dos dependentes, no que diz respeito à recuperação, pois a fé em Deus tem funcionado, para a maioria, como uma certeza de que estão sendo realmente recuperados. Dentre eles, apenas um não recorre ao discurso religioso ao falar de sua recuperação e, por outro lado, não sente-se recuperado como os demais. Já na Clínica Dr. Maia, a maioria dos dependentes representa a recuperação como algo momentâneo.
Instituição de fomento: PIBIC/CNPq/UEPB
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  REPRESENTAÇÃO SOCIAL; ALCOOLISMO; ANÁLISE DE CONTEÚDO.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004