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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
LAZER E TRANSGRESSÃO NOS ENCONTROS JUVENIS EM PRAÇA PUBLICA: UMA ABORDAGEM SOCIO-EDUCATIVA
Maria da Penha Fornanciari Antunes 1   (autor)   
Maria Aparecida Morgado 1   (orientador)   
1. Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grsso
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho resulta de uma pesquisa desenvolvida com jovens entre 15 e 20 anos, freqüentadores da Praça Barão do Rio Branco em Cáceres-MT, onde se busca entender as atitudes desses jovens nos rituais proporcionados pela música através de carros de som, em busca de lazer e sociabilidade. A utilização de carros com equipamentos de som, por jovens de classe média, funciona como chamariz para a concentração de outros jovens, principalmente em alguns pontos, como ao lado da igreja matriz, onde se mesclam uma diversidade de sons e comportamentos, dentre os quais quebrar as garrafas das bebidas que consomem, formando um tapete de cacos no local.
A população que reside próxima, e outras pessoas que também freqüentam a praça, reclamam quanto ao volume alto das músicas tocadas. Somando-se a isso, o fato de que ao desejarem atrair sua clientela, os bares também ligam seus próprios aparelhos de som.
Esse fenômeno, que vem ocorrendo nos últimos anos, tem motivado conflito entre os jovens e gerações mais velhas, inclusive em algumas situações envolvendo o Ministério Publico e a ação da Polícia Militar.
Populares e autoridades vêem essas manifestações juvenis como desrespeitosas e agressivas à tradição da cidade, por eles considerada calma e ordeira, sendo as avaliações de repúdio assuntos de matérias dos veículos de comunicação locais.
METODOLOGIA:
Para a realização da pesquisa foram utilizadas as técnicas de observação e entrevista, com jovens que freqüentam a praça nos finais de semana, dentre eles, os jovens proprietários de carros equipados com aparelhagem de som.
Foi solicitado aos jovens que falassem do significado de tais músicas para eles, que explicassem porque se aglomeram em torno dos locais onde estão os carros de som, que respondessem se não se importam com a opinião e com as queixas das pessoas que moram próximas a praça e, por fim, como se sentiam quando a Polícia prendia os carros de som.
RESULTADOS:
Verifica-se que os jovens consideram a música como a expressão dos seus sentimentos de amor, alegria, revolta, saudade, incerteza e, também, como forma de comunicação. A aglomeração em torno dos locais onde está o barulho se dá porque, segundo eles, por ser este o local onde está a “galera fashion e irada”. Também porque é onde os encontros acontecem sem nada estar previamente marcado. Sobre a música alta incomodar outras pessoas, alguns dizem que não está tão alto assim, outros acreditam que realmente incomode, porém consideram que esse é “seu espaço”, argumentando que se saírem dalí para onde irão? Segundo alguns deles, sempre haverá alguém incomodado, e, portanto, as pessoas têm que aceitá-los.Com relação à ação da Polícia quando prende seus carros, responderam com indignação e revolta. Dizem que a Polícia não respeita “nossos direitos”. Aqueles que ainda não têm Habilitação colocam o veículo na responsabilidade de um amigo que a tenha, quando percebem a aproximação de policiais. Acreditam não estar cometendo nenhum delito, mas sim proporcionando diversão para si próprios, pois “é muito chato ficar na praça sem a energia que a música passa”. Entendem que não merecem ter os veículos apreendidos, e que seus pais não devem ser incomodados em episódios dessa natureza.
CONCLUSÕES:
Além da diversão, outras razões produzem no jovem o desejo de ter um veículo “equipado”: a admiração dos colegas e maior segurança na paquera. Além disso, o grupo jovem propicia o sentimento de identificação (MORGADO e MOTTA, 2003). Conforme Carrano (2003), “os gostos, as atitudes e os comportamentos dos jovens se identificam atualmente pela ambivalência e multiplicidade”.
Aquele que possui Carteira de Habilitação é visto como capaz e responsável, pelos colegas, pais e Polícia. Esse reconhecimento é “de grande importância para a formação de identidade do indivíduo jovem” (ERIKSON, 1986), como parte de sua formação para assumir responsabilidades da vida adulta.
Quanto à Lei do Silêncio, descumprem-na, porque a cidade não oferece alternativas de diversão. Insistem em garantir seu “espaço”, ignorando opiniões e críticas. “A juvenização dos espaços das cidades cria, em certo sentido, a consciência de que os jovens não vivem nas mesmas cidades que os adultos” afirma Carrano (2003).
Os conflitos entre gerações decorrem de diferentes interesses culturais. A praça seria uma opção de lazer para todas as gerações. O crescimento populacional não foi seguido pelo devido planejamento de novos espaços.
A música alta marca o início dos eventos em foco, e parece funcionar como uma espécie de terapia grupal, onde “a exaltação ou a intensificação de emoções produzidas em cada membro” (FREUD, 1969) dissipa temporariamente os dissabores da vida cotidiana nessa experiência sócio-educativa.
Palavras-chave:  juventude; sociabilidade; transgressão.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004