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D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 3. Enfermagem Médico-Cirúrgica
A EXPERIÊNCIA DA COLOSTOMIA POR CÂNCER COMO RUPTURA BIOGRÁFICA NA VISÃO DOS PORTADORES, FAMILIARES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO
Sônia Ayako Tao Maruyama 1   (autor)   soniayako@uol.com.br
Márcia Maria Fontão Zago 2   (orientador)   mmfzago@eerp.usp.br
1. Prof. Dra. do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica - FEN/UFMT
2. Prof. Dra. da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - EERP/USP
INTRODUÇÃO:
A experiência de ter uma colostomia por câncer conduz as pessoas as viverem situações que fogem às normas culturais da nossa sociedade e afetam os significados que as pessoas dão a si mesmas, à doença, ao tratamento e à própria existência. No contexto do adoecimento visualizamos dois significados culturais importantes, o câncer, uma doença que carrega o estigma da morte e do sofrimento; e a colostomia, mutilação física que apesar de ser aparentemente oculta, traz consigo a alteração da função intestinal. Estes aspectos implicam em valores, crenças, comportamentos, ou seja, refere-se à cultura das pessoas, adquirida ao longo de suas vidas. O objetivo deste estudo é compreender o que é ter uma colostomia por câncer na visão dos seus portadores, familiares e profissionais de saúde. A importância deste estudo se justifica porque poderá nos ajudar a compreender o que é ter uma colostomia por câncer na visão dos portadores, seus familiares e profissionais de saúde que os assistem e a relação com os aspectos culturais.
METODOLOGIA:
Os referenciais teóricos que embasaram tal compreensão foram a antropologia interpretativa de Clifford Geertz e de Arthur Kleinman e o método da etnografia. A situação social em que desenvolvemos este estudo abrangeu o ambiente onde os profissionais de saúde atendem o portador de ostomia, isto é, o Ambulatório de Ostomias de um hospital universitário. Os dados foram coletados com os três segmentos que compartilham a situação do portador de colostomia por câncer, quais sejam: os doentes, os seus familiares e os profissionais de saúde que atuam no serviço. Os informantes que participaram do estudo foram: doze portadores de colostomia por câncer, cinco familiares e sete profissionais de saúde. Os dados foram coletados por entrevistas semi-estruturadas em forma de narrativas e observações participantes.
RESULTADOS:
Na análise dos dados, identificamos os códigos que permitiram a construção de três categorias. Na primeira categoria, a vida antes da colostomia por câncer e o processo de adoecer, as subcategorias foram: os aspectos marcantes da vida antes da colostomia, a entrada da pessoa no reino da doença, a busca por ajuda para sua doença, o corpo como o locus do câncer, as explicações para o câncer, os estigmas para o câncer. Na segunda categoria, a vida após ter uma colostomia por câncer, as subcategorias foram: as mudanças do padrão intestinal, as concepções do corpo com a presença da colostomia e o portador de colostomia como espaço do exercício dos profissionais de saúde. Na terceira categoria, o cuidado profissional ao portador de colostomia por câncer e seu familiar, as subcategorias foram: as mudanças do padrão intestinal, as concepções do corpo com a presença da colostomia e o portador de colostomia como espaço do exercício dos profissionais de saúde. Estas categorias foram integradas em três temas “Ter colostomia por câncer é o destino de cada um”, “Ter colostomia por câncer é sobreviver com sofrimento” e “Ter colostomia por câncer é uma questão individual”.
CONCLUSÕES:
Na relação portador de colostomia/seu familiar e profissional de saúde compartilham-se a vida, a doença, o tratamento, suas reações, porém com perspectivas diferentes. A compreensão desses “pontos de vista” ocorreu por meio dos significados construídos com base nos padrões culturais da sociedade e do grupo, atribuídos pelas pessoas que fizeram parte desse contexto. Para os portadores de colostomia e seus familiares a experiência de ter colostomia por câncer é conectada às vivências anteriores, tem uma carga moral e conduz a um processo de re-significação, pois abrange a vida pessoal, social e política. A crença religiosa leva a uma ordenação sobrenatural da experiência e a fé constitui o componente motivacional para estas pessoas. Para os profissionais de saúde o foco de atenção é na colostomia, não abrange a necessidade dos portadores, ou seja, a ordenação da desordem percebida no corpo individual, social e político. A experiência de ter uma colostomia por câncer é uma situação de sofrimento e de sobrevivência compartilhada por todos, pois implica em valores sociais. Finalizando, o estudo possibilitou compreender que o destino, o sofrimento e a individualidade se integram de forma lógica no fenômeno como uma ruptura biográfica, na visão dos sujeitos, que deve ser considerada no cuidado pelos profissionais de saúde.
Palavras-chave:  colostomia; etnografia; cultura.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004