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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 10. Teoria Econômica
QUADRO DE REFERÊNCIA INTERTEMPORAL E EXPECTATIVAS PROJETIVAS: A PERCEPÇÃO DE TENDÊNCIAS INFLACIONÁRIAS
Ruth M Hofmann 1   (autor)   ruthmhofmann@yahoo.com.br
1. Depto. de Economia, Universidade Federal do Paraná - UFPR
INTRODUÇÃO:
Os erros que os agentes cometem ao formar suas expectativas de inflação decorrem de sua incapacidade de apreensão e articulação de todos os fenômenos que incidem direta ou indiretamente sobre a variação dos preços. Para que as expectativas sejam realizadas, é necessário que se disponha, além de informações gerais e específicas, habilidades de predição. A percepção de um quadro econômico geral é fundamental para garantir a proximidade entre as expectativas e as taxas reais de inflação. A apreensão de variáveis significativas é limitada, e os agentes selecionam, portanto, os eventos que julgam mais relevantes. O processo de seleção está sujeito às influências de elementos subjetivos do comportamento. Quando os agentes formam expectativas com base nos níveis de preços anteriores, estão compondo um quadro de referência intertemporal, ou seja, estão organizando as informações de modo que estas possam ser quantitativa e qualitativamente relativizadas. Os preços de um período são comparados com os preços efetivos de períodos anteriores e/ou com níveis esperados para cada período. A percepção de padrões neste quadro de referência permite que as expectativas sejam projetivas, pois ao se reconhecerem continuidades e movimentos comuns, podem ser assimiladas tendências. O presente trabalho procura identificar as principais limitações no processo perceptivo que comprometem a realização das expectativas de inflação, à luz do referencial teórico da psicologia econômica.
METODOLOGIA:
Os elementos fundamentais utilizados e o referencial de análise enfatizam os aspectos psicológicos da percepção e das expectativas. Seguindo-se à apresentação do referencial teórico, o trabalho é constituído por três seções principais. A primeira define e caracteriza o quadro de referência intertemporal, tomando-se as séries temporais como totalidade relativa, eventos passados, presentes e futuros como encadeamento e fluxo. É delineado o quadro de referência intertemporal ideal, que permite formar expectativas interna e externamente consistentes. A segunda seção trata do processo perceptivo, particularmente os determinantes e amplitude da percepção, a multiplicidade e a limitação da capacidade de apreensão. A memória é considerada a parte do processo perceptivo intertemporal referente à apreensão e recordação de séries e tendências inflacionárias históricas. A terceira seção discute o caráter projetivo das expectativas e o conceito de expectativas projetivas, supondo que os agentes vêem o futuro como a continuidade de tendências. Nesta seção discute-se a consistência das expectativas formadas por extrapolação relativamente às expectativas projetivas. Por fim é analisada a natureza dos erros sistêmicos e dos pontos de inflexão esperados, conseqüências de fatores psicológicos: pessimismo, otimismo e limitações perceptivas.
RESULTADOS:
Através de comparações intertemporais são percebidas tendências inflacionárias. Desse modo, o nível de preços é considerado elevado ou baixo segundo comparações não apenas com períodos imediatamente anteriores, mas com séries, uma vez que os preços são comparados ao longo do tempo. O processo de formação do quadro de referência intertemporal pode ser decomposto, para efeito de análise, em três etapas: segmento retrospectivo, segmento de transição e segmento projetado. O segmento retrospectivo refere-se à série temporal apreendida pelos indivíduos, à amplitude da memória das variações de preços. O histórico de inflação de determinado país e o sucesso ou insucesso das medidas políticas adotadas em seu combate são experiências que fazem parte do aprendizado dos agentes e preponderam na seleção dos eventos mantidos na memória. O segmento de transição é o momento em que as expectativas são formadas. A situação econômica geral percebida pelos indivíduos em determinado momento poderá ou não alterar suas expectativas em função de seu otimismo ou pessimismo. O segmento projetado é a expectativa de preços futuros, um prolongamento das tendências inflacionárias percebidas, tendo como base os segmentos anteriores, com suas respectivas atribuições. O comportamento e a natureza das flutuações dos preços compromete a percepção de padrões e, por conseguinte, a formação de expectativas projetivas. Prevalecem, nesse caso, os fatores psicológicos na explicativa de possíveis pontos de inflexão.
CONCLUSÕES:
As expectativas projetivas são formadas com base em percepções de tendências e permitem identificar o sentido das variações futuras de preço. A precisão das expectativas está condicionada às características do quadro de referência intertemporal. As descontinuidades identificadas no processo podem ser identificadas nos três segmentos. As limitações no segmento retrospectivo consistem na percepção limitada de tendências de inflação, decorrentes de oscilações irregulares nos preços ou memória restrita a períodos passados próximos. As limitações no segmento de transição decorrem da incapacidade de percepção de eventos relacionados e relações de causalidade que possam interferir na variação real de preços futuros, tais como medidas de controle de inflação adotadas pelos governos. A percepção da “economia como um todo” está restrita aos conhecimentos que o indivíduo detêm e a habilidade com a qual articula as variáveis econômicas. As limitações no segmento projetivo, ou nas expectativas projetivas são conseqüências de descontinuidades nos segmentos anteriores, em especial no segmento de transição. Tanto a insuficiência de conhecimentos acerca dos mecanismos econômicos quanto a antecipação dos pontos de inflexão originam-se de processos psicológicos: a percepção, o otimismo e o pessimismo. Os otimistas tendem a subestimar os níveis de preços futuros e os pessimistas a superestimar, ambos cometem erros segundo a precariedade de seus quadros de referência.
Instituição de fomento: PET Economia
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  expectativas projetivas; quadro de referência intertemporal; limites de percepção.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004