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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
A INFLUÊNCIA DOS PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NA AUTO-ESTIMA DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL ADQUIRIDA.
Aline Gomes Pereira 1   (autor)   
Carolina de Berrêdo Bulcão 1   (autor)   
Jeneffer Barbosa de Sousa 1   (autor)   
Julia Kligerman Antunes da Silva 1   (autor)   
Lívia Maria Almeida de Melo 1   (autor)   liviamelo@ufrj.br
Nilma Figueiredo de Almeida 1   (orientador)   
1. Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
INTRODUÇÃO:
O ser humano é extremamente dependente dos seus sentidos, pois é através destes que ele constitui sua experiência, seu mundo interno, percepções, concepções, memória, pensamento e razão. Em caso de falta de um dos sentidos, uma alteração advém na integração e função de todas as outras percepções. A perda visual desestrutura psicologicamente, abala a comunicação, a locomoção e dificulta a escrita e a fala. Sendo assim, o indivíduo que carrega limitações se desenvolve diferentemente dos demais, pois seu organismo é privado de alguns dados. Deficiente Visual é o indivíduo que nasce ou adquire perda ou redução significativa na sua acuidade visual que não pode ser corrigida por cirurgia ou recursos óticos ou de natureza tecnológica. Ele pode ser cego (não possui nenhum resíduo visual) ou portador de baixa visão (visão subnormal, que possui algum resíduo visual). O processo de reabilitação consiste em levar o indivíduo a superar ou minimizar a perda visual utilizando os sentidos remanescentes. Este estudo pretendeu verificar se os Programas de Reabilitação, através do tratamento e atividades gerais oferecidas, ajuda a melhorar a auto-estima dos deficientes visuais. Visamos ainda mostrar para a sociedade que é preciso amenizar as diferenças e os preconceitos em relação ao portador de deficiência e ter mais respeito e atenção para com estes.
METODOLOGIA:
Foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema e uma pesquisa de campo, onde foram realizadas entrevistas semi-estruturadas em 10 portadores de deficiência visual adquirida (com perda total ou parcial da visão), do Instituto Benjamin Constant, que tiveram a visão comprometida já na idade adulta. Esta instituição foi escolhida por ser pública, gratuita e ser referência no país. Foram entrevistados 5 indivíduos do sexo feminino e 5 do sexo masculino, na faixa etária de 33 a 63 anos, moradores no Rio de Janeiro. Estes reabilitandos foram escolhidos aleatoriamente e que se dispuseram a colaborar com o estudo. As entrevistas foram realizadas individualmente com duração de 60 minutos, sendo gravadas, transcritas e analisadas em seu conteúdo no enfoque fenomenológico.
RESULTADOS:
A partir das entrevistas realizadas foi possível verificar que as causas que deram origem à deficiência visual variaram para cada reabilitando. Dentre os dez entrevistados, dois tinham deficiência visual em função de glaucoma e dois em função de retinose pigmentar. Os outros seis reabilitandos perderam a visão (parcial ou total) decorrente de assalto, erro médico, traumatismo craniano com bloqueio do nervo óptico, esclerose múltipla, toxoplasmose cerebral e deslocamento de retina. De acordo com a pesquisa realizada, constatou-se que entre os reabilitandos: 4 cursavam computação; 3 cursavam escrita cursiva; 3 cursavam atividade da vida diária (AVD); 1 cursava tapeçaria; 3 cursavam braile; 1 cursava habilidades básicas; 4 cursavam orientação e mobilidade (OM); 4 cursavam natação; 1 cursava hidroginástica; 4 cursavam massoterapia; 2 cursavam cestaria; 1 cursava cerâmica; 1cursava telemarketing; 1 cursava culinária; 1 cursava perfumaria; 1 cursava encadernação e 1 cursava prensa braile. As mudanças na qualidade de vida implicaram em maior autonomia, maior socialização, descoberta de novos valores, melhora na auto-estima, sexualidade, perspectivas de ingresso no mercado de trabalho.
CONCLUSÕES:
As pessoas que procuram o Instituto Benjamim Constant apresentam perda parcial ou total da visão e as causas que levaram a essa deficiência variam bastante indo desde acidentes a erro médicos. O Instituto oferece diversos cursos e atividades aos reabilitandos a fim de melhorar sua qualidade de vida. Com base nas entrevistas, observou-se que os cursos mais procurados foram o Braile, Orientação e Mobilidade, computação, escrita cursiva, Atividade da vida diária, natação e massoterapia. O que aponta para um desejo de autonomia e reestruturação da vida social e profissional. Após algum tempo de tratamento, foi percebido não somente melhora na função motora como também na parte emocional dos pacientes – quase todos com acompanhamento psicológico. Muitos dos entrevistados relataram a importância das amizades com pessoas em situação semelhante à deles, chegando até mesmo a considerar o Instituto como um “grande lar”. Os reabilitandos adquiriram uma maior segurança, independência e auto-estima melhorando assim a qualidade de suas vidas. Todos os entrevistados aprovaram o Instituto e o consideraram essencial para a reabilitação, porém, existem reclamações quanto à dificuldade de conseguir um emprego e ao preconceito social que sofrem. Para ser possível contornar essa situação se faz necessário uma maior mobilização social a fim de tornar viável a inclusão dos deficientes visuais na sociedade como pessoas colaboradoras e ativas.
Palavras-chave:  Deficiente visual; reabilitação; auto-estima.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004