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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
O CORPO NA SINTOMATOLOGIA CLIMATÉRICA
Fernanda Borges Ruy 1   (autor)   fernandaruy@ig.com.br
Kaylla Maria Castro Tavares 1   (autor)   kayllat@yahoo.com.br
Olga M. M. Carlos de Souza 2   (orientador)   omcsouza@uol.com.br
1. Graduanda em Psicologia, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
2. Profa. Dra. do Depto. de Psicologia, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
INTRODUÇÃO:
A menopausa é um fenômeno recente, e devido ao aumento da expectativa de vida passou a ser um acontecimento inerente ao desenvolvimento sexual feminino, despertando interesse por pesquisas sobre o tema. No entanto, a produção de conhecimento teórico psicanalítico acerca da feminilidade no meio da vida é ainda escassa, apesar do reconhecimento de ser um período marcado por mudanças que demandam reflexões sobre o lugar da mulher na família e na sociedade, as concepções sobre o feminino, e sobre a maturidade e o processo de envelhecimento. Este estudo objetivou a produção de conhecimento no campo de saúde da mulher, sobretudo quanto aos aspectos psicológicos. Buscou-se compreender como o corpo comparece no discurso das pacientes climatéricas, obtendo informações sobre suas reações frente às transformações corporais advindas com a menopausa, no intuito de subsidiar o empreendimento de intervenções que aprimorem a atenção à saúde. O estudo de temas relacionados às vivências das mulheres climatéricas se justifica porque há poucos na literatura psicanalítica e pelo fato de ser uma etapa da vida feminina marcada por uma crise no que tange o seu equilíbrio físico, psíquico e social. Investigar a forma como as mulheres falam de seu corpo permite entender como elas percebem as alterações, que fatores julgam influenciar seu mal-estar, que caminhos vislumbram na condução de seu tratamento, sinalizando meios mais eficazes na abordagem da menopausa e suas implicações para as mulheres.
METODOLOGIA:
Essa pesquisa foi realizada no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Morais (HUCAM), em Vitória, ES. Foram sujeitos 375 pacientes do Programa de Climatério e Menopausa, com faixa etária concentrada entre 40 e 65 anos, provenientes das classes média e baixa da Grande Vitória. A coleta de dados deu-se mediante gravações de 24 sessões dos Grupos de Sala de Espera, em duas etapas (set/nov de 2003 e jan/mar de 2004). Esses grupos ocorrem duas vezes por semana, coordenados por extensionistas de Psicologia da UFES, que integram o projeto “Programa de Atendimento Psicológico a Pacientes do Ambulatório de Climatério e Menopausa do HUCAM”. Procedeu-se a uma transcrição das fitas e seleção das falas relacionadas ao tema em estudo. A partir da coleta de dados inicial foram elaboradas 4 categorias de análise do discurso: 1) O corpo como lugar de preocupação: 1.1) com os órgãos relacionados à reprodução; 1.2) com os efeitos da presença/ausência dos hormônios; 1.3) com o aumento de peso; 1.4) com o advento da menopausa; 2) O corpo em relação ao desejo e/ou prazer: 2.1) presença de desejo e/ou prazer; 2.2) ausência de desejo e/ou prazer; 3)Tipos de explicações desenvolvidas para as queixas: 3.1) causas físicas; 3.2) causas psicossociais e 4) Tipos de soluções apontadas. Os dados coletados foram trabalhados em abordagem qualitativa, utilizando a psicanálise como referencial de análise do discurso. A pesquisa seguiu um percurso horizontal de um mesmo tema em múltiplos casos.
RESULTADOS:
Os resultados mostraram haver grande preocupação com os órgãos reprodutivos e o advento da menopausa, estando a menstruação associada às representações de feminilidade, sexualidade e fecundidade. A chegada da menopausa foi predominantemente vivida como precoce, e as pacientes lançaram mão de explicações fisiológicas e emocionais. A interrupção dos mênstruos vinculou-se ao reconhecimento do fim da capacidade reprodutiva e do envelhecimento. O uso de hormônios foi relacionado ao ganho de peso, mas foi visto como benéfico quanto aos efeitos na sexualidade. O corpo compareceu tanto como lugar de presença como de ausência de desejo/prazer sexual. Entre as explicações desenvolvidas nos relatos, emergiram causas físicas e psicossociais. O período da vida que a mulher menstruou e os efeitos de cirurgias nos órgãos reprodutores foram as principais causas físicas para a precocidade da menopausa e a falta de desejo sexual, respectivamente. Entretanto, falaram sobre dificuldades no relacionamento familiar e conjugal, do desemprego, da rotina e aborrecimentos como questões emocionais que conferem sentido ao discurso. Apesar de apontarem diversos fatores psicossociais para explicar suas queixas, as soluções imaginadas convergiram na maioria para intervenções medicamentosas. As pacientes construíram mais explicações para seus sintomas do que elaboraram meios para superá-los. A fé e a religião, junto à ação médica, apareceram como elementos passíveis de resolução dos problemas apresentados.
CONCLUSÕES:
Os relatos das mulheres traduzem a necessidade de ouvir o sujeito e atendê-lo em suas múltiplas dimensões. Verificamos haver uma correlação entre as formas de atendimento disponibilizadas às mulheres climatéricas, em que predomina o atendimento médico, e o discurso desenvolvido pelas pacientes a respeito de seus sintomas. Faz-se necessário colocar em xeque a hegemonia do modelo médico e apostar numa perspectiva mais holista, que dê conta da historicidade do sujeito, atravessado por determinantes políticos, econômicos, sociais, culturais, psíquicos e inclusive biológicos. Urge viabilizar ações em que as pacientes possam participar ativamente da construção de sua própria saúde e em que se impliquem na produção de uma saída para seus incômodos. Não podemos incorrer no erro de caracterizar a mulher climatérica como um sujeito que só sofre, ou só se queixa. Acreditamos, ao contrário, que a menopausa é um momento de vulnerabilidade sim, mas propício a um repensar da existência, dos valores, dos objetivos e planos; propício ao amadurecimento. Pensamos que a menopausa pode e deve ser uma fase de desenvolvimento, em conseqüência de uma elaboração bem sucedida do luto pelas perdas sofridas, favorecendo a criação e o despertar de potenciais existentes em cada mulher: para o trabalho, para a arte, para o voluntariado, para os esportes, para o lazer, para a vivência de uma sexualidade madura, enfim, formas sublimadas que aliviem o corpo como palco de expressão das questões humanas.
Instituição de fomento: Fundação Ceciliano Abel de Almeida - FCAA
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  corpo; menopausa; saúde da mulher.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004