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G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
VOZES DO OESTE: A RADIODIFUSÃO CUIABANA NA FRONTEIRA ENTRE A ANTENA E A LEI (1939-1949)
Antonio Carlos Silva 1   (autor)   silvaantoniocarlos@ig.com.br
Otávio Canavarros 1   (orientador)   otaviocanavarros@terra.com.br
1. Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
INTRODUÇÃO:
As experiências com estações radiodifusoras brasileiras foram iniciadas na década de 1920. Em Cuiabá, capital de Mato Grosso, houve iniciativas intermitentes de recepção radiofônica a partir de 1928 e de transmissão, desde 1934. Cinco anos depois começaram a ser irradiados os sons da primeira estação radiodifusora cuiabana, legalizada pelo Governo Federal: A Voz do Oeste.
Esta emissora passou a transmitir programação em outubro de 1939, às vésperas do Estado Novo criar o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em dezembro daquele ano. Época em que o rádio servia de duplo instrumento de poder e dominação para Getúlio Dornelles Vargas: através da autorização governamental para o funcionamento das emissoras e da propaganda estado-novista, principalmente do discurso que substituía o silêncio de ações do Governo Federal.
A história de A Voz do Oeste é contada, com freqüência, entre a fundação dela, em 1939, e os tempos áureos na década de 1950, quando a emissora conquistou grande audiência com uma programação popular. Mas até então havia poucas referências sobre as atividades desta estação nos anos de 1940.
A pesquisa Vozes do Oeste: a radiodifusão cuiabana na fronteira entre a antena e a lei (1939-1949) investigou o surgimento desta emissora de rádio num estado brasileiro fronteiriço. Também estudou como foi obtida a autorização governamental para o funcionamento de A Voz do Oeste. Ainda analisou a programação desta estação no Estado Novo e no Governo de Eurico Gaspar Dutra.
METODOLOGIA:
A ausência de gravações de registros sonoros da programação da Rádio A Voz do Oeste na década de 1940 não impediu que a mesma fosse analisada. Uma das estratégias da pesquisa Vozes do Oeste: a radiodifusão cuiabana na fronteira entre a antena e a lei (1939-1949) foi o estudo de documentos oficiais e jornais e revistas da época. Parte destas publicações reproduziu as impressões dos ouvintes em relação ao início da radiodifusão em Cuiabá.
Outro recurso da pesquisa foi o uso da história oral. A coleta de depoimentos de pessoas contemporâneas ao surgimento desta emissora, principalmente dos radialistas pioneiros e ouvintes cuiabanos, permitiu o conhecimento do que foi registrado na memória dos entrevistados. Tanto em relação a esta experiência radiofônica, quanto da década de 1940 na capital de Mato Grosso.
Já o processo de legalização da Rádio A Voz do Oeste junto ao Governo Federal pode ser estudado através de documentos oficiais, como o Diário Oficial da União. Principalmente, os pedidos e os despachos do Ministério da Viação e Obras Públicas, o órgão governamental antecessor do Ministério das Comunicações e responsável pelas autorizações de instalação e funcionamento de emissoras radiodifusoras.
Entre as referências teóricas utilizadas na pesquisa, estão os estudos sobre a radiodifusão sonora na década de 1940. Principalmente os trabalhos de Alcir Lenharo, Maria Helena Rolim Capelato, Doris Fagundes Haussen, Adalberto Paranhos, Néstor García Canclini e Jesús Martin-Barbero.
RESULTADOS:
A pesquisa possibilitou detectar alguns posicionamentos mato-grossenses em relação à rádiodifusão. Em agosto de 1939, às vésperas do início das transmissões de A Voz do Oeste, o jornal oficioso O Estado de Mato Grosso publicou o artigo Rumo Oeste. O texto prega a instalação de uma potente emissora de rádio no Rio de Janeiro, então capital federal, para transmitir programação para o resto do país. Segundo o artigo, o rádio era um dos alicerces do nacionalismo e uma das exigências do programa governamental estado-novista Marcha para Oeste.
Já em 1944, a esposa do interventor, Maria Müller, discursou pela A Voz do Oeste. Ela considerou que, passadas as dificuldades da Segunda Guerra Mundial, o Rádio seria como uma escola. Já a emissora de Cuiabá poderia divulgar a cultura cuiabana para o Brasil, além de representar o progresso de Mato Grosso.
Durante o Estado Novo, a rádio A Voz do Oeste veiculou discursos, como os que propagavam a idéia de unidade nacional. A emissora também prestou homenagens a personagens mitificadas pela história oficial e apoiou campanhas de mobilização social, nas áreas de saúde e bélica. No pós-45, a radiodifusora cuiabana transmitiu atos públicos, como a promulgação da Constituição Estadual de Mato Grosso em 1947.
Quanto à permissão do Governo Federal para o funcionamento da rádio A Voz do Oeste ela só ocorreu em 1942 e em nome do Governo de Mato Grosso. Este Estado, em 1948, abriu mão da exploração do canal de rádio em favor da Rádio A Voz do Oeste Ltda.
CONCLUSÕES:
O discurso ditatorial de unicidade do Estado Novo não impediu que surgissem e fossem divulgadas opiniões divergentes sobre a finalidade da radiodifusão em Cuiabá. O período ditatorial também não imputou à Rádio A Voz do Oeste todos os ditames das leis estado-novistas. Tanto que primeiro a emissora foi colocada no ar em 1939, num período de ditadura e guerra e numa região de fronteira. Somente em 1942, ela recebeu autorização do Governo Federal para ser instalada em funcionar.
A permissão para exploração de um canal de radiodifusão em Cuiabá foi dada em 1942 ao governo mato-grossense durante a Interventoria Federal de Júlio Müller. Ele era o irmão do chefe de Polícia do Distrito Federal, Filinto Müller, que compunha o núcleo de poder do Estado Novo. A exemplo da Rádio Nacional, A Voz do Oeste também foi encampada como estação oficial. Mas não recebeu a estrutura financeira e técnica dada àquela. Tanto que em 1943 Júlio pediu e foi autorizado pelo Governo Federal a funcionar a rádio numa potência inferior diante da falta de equipamentos.
Já o direito de explorar este canal de rádio em Cuiabá foi transferido, em 1948, da oficial Rádio A Voz do Oeste, do Governo do Estado, para a sociedade privada Rádio A Voz do Oeste Ltda. Assim garantiu-se o controle da emissora com os quatro radialistas fundadores e mantenedores da Voz, mesmo nos anos em que ela foi pública. Com a transferência, ficou impedida a instalação de outra estação radiodifusora em Cuiabá, pleiteada pelos sócios da Rádio Educadora de Mato Grosso.
Palavras-chave:  Radiodifusão; Fronteira; 1940.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004