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F. Ciências Sociais Aplicadas - 11. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL
João Carlos Neves de Souza e Nunes Dias 1   (autor)   j80dias@yahoo.com.br
Terezinha Petrucia da Nóbrega 1   (orientador)   Profa. Dra. / pnobrega@ufrnet.br
1. Depto. de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
INTRODUÇÃO:
Como continuidade dos investimentos epistemológicos no campo da Educação Física, investigamos, nessa pesquisa, a constituição da racionalidade no campo acadêmico da Educação Física. Nesse sentido, lançamos nosso olhar sobre as principais proposições científicas veiculadas na Educação Física, numa tentativa de refletir sobre o alcance e os limites do próprio conhecimento. Considerando as proposições científicas veiculadas na área, quais sejam, Cinesiologia, Ciência da Motricidade Humana, Ciências do Esporte, Ciência do Movimento, perguntamos: Qual a caracterização dessas proposições, quanto ao objeto de estudo, ao método de investigação e a concepção de Ciência? Quais as perspectivas para a organização acadêmica da área? O objetivo dessa pesquisa é interpretar as diferentes proposições científicas no campo da Educação Física, apontando perspectivas para a configuração acadêmica da área.
METODOLOGIA:
O recorte dessa pesquisa caracterizou-se pelos documentos impressos nos anais do Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE), em que consideramos os artigos completos impressos nos anais do CONBRACE, tendo como referência o GTT de Epistemologia, a partir do ano de 1997. Nesse grupo de trabalho temático encontra-se registros do debate epistemológico em questão e a periodicidade justifica-se pelo fato de que a partir de 1997 terem sido constituídos os grupos de trabalhos temáticos e as comunicações registrados na forma de artigos, ampliando as possibilidades de aprofundamento das temáticas abordadas. Como técnica de pesquisa utilizamos a análise de conteúdo, na qual destacam-se três momentos interdependentes: a organização do material ou pré-análise, na qual elaboramos fichas de conteúdo dos artigos selecionados; a codificação ou descrição analítica, na qual destacamos as unidades de significado; e a interpretação referencial, iniciada desde a pré-análise, momento em que se projeta a compreensão da problemática, considerando o referencial teórico sobre epistemologia e filosofia da ciência, buscando emergir novos núcleos de sentido, que irão subsidiar nosso metargumentos. Para tanto, configuramos uma matriz epistemológica, como uma estratégia de podermos evidenciar o conceito de ciência abordado nos artigos investigados, bem como o objeto de estudo e o método de investigação.
RESULTADOS:
Observando a freqüência absoluta e relativa, percebemos que dos 37 trabalhos analisados, a ciência foi abordada em 15 artigos (40,55%). A crítica ao modelo de ciência fundamentado no positivismo foi recorrente, apresentando-se em 07 artigos (18,90%). A concepção multidisciplinar de ciência, a abordagem da perspectiva antropológica nas teorias de aprendizagem motora, a educação motora, a teoria da corporeidade, a análise da ciência da motricidade humana, o uso do termo educação física e a teoria praxiológica, foram abordadas, cada uma, em apenas 01 artigo (2,7%). A demarcação do objeto de estudo foi tematizada em 17 artigos (45,95%). Destes, 03 (8,1%) destacam como objeto de conhecimento a cultura corporal de movimento, 01 (2,7%) a cultura de movimento , 02 (5,4%) a cultura corporal, 04 (10,81%) o movimento humano, 01 (2,7%) o corpo e movimento 02 (5,4%), a corporeidade e 01 (2,7%) a ação motriz. Alguns artigos evidenciaram limites na concepção de ao movimento humano, devido à amplitude das abordagens, sendo inadequado para a demarcação de uma área de conhecimento. Considerando o método de investigação, abordados em 12 artigos (32,43%), a perspectiva mais recorrente foi a Interdisciplinaridade: 03 artigos (8,1%), a Multidisciplinaridade, a Transdisciplinaridade, a Antropologia Interpretativa, o Materialismo Dialético, a Fenomenologia, a proposta Habermasiana, o Anarquismo Epistemológico, a Epistemologia Praxiológica foram abordados em um artigo, respectivamente (2,7%).
CONCLUSÕES:
Como temáticas recorrentes, busca-se refletir e problematizar a legitimação acadêmica para a Educação Física, inserida no ensino superior e comprometida com a produção de conhecimento, destacando-se as proposições científicas, como uma tentativa de criar campos de investigação. No que se refere à ciência, é recorrente a necessidade de se refletir sobre o paradigma científico, numa crítica ao modelo da ciência moderna, pautado no positivismo, inclusive reconhecendo que a ciência não é a única forma de conhecimento existente, que nem todo campo de pesquisa precisa ser necessariamente científico, como também que a existência de uma atividade científica dentro da área, não a caracteriza, necessariamente, como uma ciência. Considerando os objetos de estudo propostos em vários artigos, podemos perceber a emergência de diferentes proposições, a partir de diversas matrizes teóricas. No entanto, compreendemos que o objeto científico é construído, a partir de problemáticas, potencializando a organização de um campo de conhecimento. No que se refere aos métodos, pode-se vislumbrar diversas possibilidades de investigação a partir de diferentes objetos, articulados a variadas concepções de ciência. Compreendemos que a racionalidade científica apresenta-se como um caminho possível, considerando uma epistemologia histórica e uma razão aberta. Nessa perspectiva, Ciência e Educação Física podem dialogar, ampliando as configurações do conhecimento.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Educação Física; Epistemologia; Ciência.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004