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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
TRABALHO E SAÚDE NAS ESCOLAS: UMA EXPERIÊNCIA NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA - ES
Dorotéia Carlini Zorzal 1   (autor)   zorzal07@zaz.com.br
Maria Elizabeth Barros de Barros 1   (orientador)   betebarros@uol.com.br
1. Depto. de Psicologia, Universidade Federal do Espírito Santo
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é parte da pesquisa integrada: Formação de Educadores: desafios contemporâneos na invenção da escola, que tem como temática central a formação de docentes em saúde/trabalho. As modulações atuais do capitalismo e suas consequëntes transformações no mundo do trabalho têm produzido alguns efeitos na escola que demandam análise: as exigências de produtividade e flexibilidade aliadas às condições precárias do ensino público, tais como o aumento da duração das aulas e do número de alunos por turma, o enxugamento do número de profissionais, a cobrança de capacitação permanente, os baixos salários, têm gerado um novo quadro de danos à saúde dos trabalhadores da educação traduzido pela grande quantidade de pedidos de licença e pelo alto índice de adoecimento dessa categoria. Os professores falam de uma dificuldade em intervir de forma mais efetiva nessa situação. Em decorrência desse quadro, objetivou-se, através da presente pesquisa, estar junto com os educadores analisando os aspectos da organização do trabalho que estão contribuindo para o adoecimento, apontando as sobrecargas decorrentes das dimensões físicas, psíquicas e cognitivas das atividades desenvolvidas, propondo intervenções a partir de observações atentas e de discussões coletivas que permitam a transformação dos modos e condições dessa organização do trabalho, possibilitando a produção de saúde.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada em uma escola da rede municipal de Vitória – ES, e utilizou a análise ergonômica do trabalho de linhagem francesa como instrumento metodológico, que consistiu em análises quantitativas e qualitativas da atividade real do educador em seu ambiente de trabalho com o intuito de investigar os índices de adoecimento e as condições de trabalho desses profissionais. O primeiro passo foi elaborar um questionário e distribuir aos trinta e três professores da escola, nos turnos da manhã, tarde e noite. Através dos questionários foi possível realizar um inquérito epidemiológico, onde verificou-se principalmente o perfil sócio-demográfico dos professores, a percepção sobre o ambiente de trabalho, os riscos, o SRQ 20 _ instrumento da OMS que identifica transtornos mentais menores em grupos populacionais _, as fontes de tensão e cansaço, etc. Além dos questionários foi feito, em parceria com o CRST , um estudo das condições físicas de funcionamento da escola. Também foram feitos acompanhamentos sistemáticos no quotidiano do trabalho do professor, possibilitando perceber as estratégias que este encontra para dar conta de sua função. Em conjunto com este trabalho diversas oficinas foram produzidas, onde se discutiram temas que perpassam o quotidiano escolar, tais como currículo, saúde/trabalho, gestão, etc., viabilizando a construção de um modo de funcionamento que priorize o fazer coletivo.
RESULTADOS:
Dos trinta e três questionários entregues, vinte e dois foram devolvidos pelos educadores para serem analisados. Os resultados obtidos mostram como os trabalhadores da educação vêm sentindo no corpo os efeitos do sucateamento do ensino público e da desvalorização dessa categoria profissional. Muitos apresentaram queixas de fadiga, apatia, impotência e depressão. Mais de 50% dos professores da escola pesquisada apresentaram transtornos mentais leves. As principais fontes de tensão e cansaço informadas foram: ritmo intenso 54,5%; improviso 22,7%; espaço físico 95,5%; falta de respeito 27,3%; má remuneração 50,0%, estado psíquico dos alunos 59,1%; carga horária 40,9%; desvalorização 50,0%; tempo de descanso 36,4%; políticas de gestão na educação 36,4%; ausência de equipamentos essenciais 63,6%. Além disso verificaram-se também transtornos osteoarticulares (problemas de coluna e articulação, dor nas costas, etc.) 40,9%, problemas respiratórios 36,4%, auditivos 36,4%, e também dores de cabeça, irritação, varizes nas pernas, entre outros. No tocante a afastamentos, 40,9% informou já ter sofrido algum tipo de afastamento que vincula ao trabalho. As avaliações do espaço físico, realizadas por engenheiros do CRST, também apontaram para condições desfavoráveis à produção de saúde, como espaços inadequados e problemas de acústica. Esses resultados foram discutidos nas oficinas, que se constituíram como espaços importantes de análise das condições de trabalho e saúde na educação.
CONCLUSÕES:
Os resultados da pesquisa realizada fazem emergir as péssimas condições em que se encontram os profissionais da educação. Mas, longe de querer ser fatalista, buscou-se com este resultado dar visibilidade à problemática dos processos que estão imbricados no alto índice de adoecimento entre os professores, não pretendendo se restringir apenas à denúncia dos mesmos, que já é um passo fundamental, mas também possibilitar a promoção de discussões junto aos órgãos competentes, com o encaminhamento de propostas e a construção coletiva de estratégias para a transformação dessa situação. A presente pesquisa pretendeu, assim, através das análises realizadas e das discussões fomentadas, ser mais um instrumento de luta política por um trabalho docente menos despotencializante e culpabilizante. É através do exercício crítico de análise e problematização das condições e da organização do trabalho que poderão ser construídas formas de vigilância quotidiana da saúde que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida/trabalho.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Saúde do Trabalhador; Psicologia da Saúde; Trabalho.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004