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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
ASPECTOS CONCEITUAIS EM TEXTOS DIDÁTICOS DE QUÍMICA. I. ELETRONEGATIVIDADE
Roberto Santos Barbiéri 1, 2   (orientador)   barbieri@faminas.edu.br
Kelen Cristina Medeiros Balbino 4   (autor)   crico@unincor.br
Lucimeire Rafael 4   (autor)   crico@unincor.br
Márcia Aparecida do Prado Arantes 4   (autor)   crico@unincor.br
Marta Cristian Lemos 4   (autor)   crico@unincor.br
Raquel Brandão Mendes 4   (autor)   crico@unincor.br
Renata Claver Diniz 4   (autor)   crico@unincor.br
Thays Almeida de Souza 4   (autor)   crico@unincor.br
Maria Alice Abranches 1, 3   (co-orientador)   mariaalice@faminas.edu.br
Samuel Ferreira da Silva 1, 2   (co-orientador)   sambayano@bol.com.br
1. Faculdade de Minas, FAMINAS, Muriaé/MG
2. Programa de Mestrado em Biotecnologia, UNINCOR, Três Corações/MG
3. Programa de Mestrado em Educação, UNINCOR, Três Corações/MG
4. Curso de Graduação em Química, 5o período, UNINCOR, Três Corações/MG
INTRODUÇÃO:
A definição de eletronegatividade foi estabelecida em 1931 e, desde então, o seu “conceito está na raiz de inúmeros problemas químicos [Filgueiras, C. A. L. Química Nova, 3(2): 104, 1980].
Relacionada à ligação entre átomos, a idéia de eletronegatividade é relativamente antiga, embora diferente do seu conceito atual. No final do século XVIII, por exemplo, usava-se a expressão “afinidades eletivas” para explicar como duas substâncias se interagiam formando outras. O autor de Fausto, Johann Wolfang von Goethe, que também escrevia sobre as ciências da época, publicou no início do século XIX uma obra sinonímia “Afinidades eletivas”, cujo título ele mesmo justificou: “Parece que o constante estudo da física induziu o autor a esse título singular. Ele deve ter observado que, na física, muitas vezes, nos servimos de exemplos práticos para aproximar do alcance da ciência humana algo que esteja distante; dessa maneira pretendeu aplicar, num caso moral, uma fórmula química, sublimando-a à sua origem espiritual, tanto mais que a natureza é uma só.” E, segundo uma crítica da obra, “o título, talvez fosse diretamente inspirado na cena culminante do romance, onde marido e mulher se abraçam com ardor”.
Neste trabalho, nos preocupamos como o conceito de eletronegatividade vem sendo apresentado em livros didáticos de ciências do ensino fundamental e de química do ensino médio e ensino superior, na perspectiva histórica e na perspectiva de uma abordagem consistente do tema.
METODOLOGIA:
Para a realização do presente trabalho, foram selecionados textos didáticos amplamente utilizados em escolas brasileiras: três de ciências da oitava série do ensino fundamental, oito do ensino médio e seis do ensino superior. Entre os textos do ensino médio, em duas situações, foram escolhidos o livro empregado na primeira série e o livro conhecido como “volume único”, que engloba todo o conteúdo do nível.
Alguns outros textos também foram incluídos, consideradas a importância histórica e/ou disponibilidade dos mesmos: (I) Pauling, L. “Química general”. Madrid: Aguilar, 1960; (II) Pauling, L. “The nature of the chemical bond”. 3. ed. Cornell: University Press, 1960; (III) Babor, J. A.; Lehrman, A. “Química general: para centros superiores de enseñanza”. Barcelona: Manuel Marin, 1945; (IV) Grant, J. “Hackh’s chemical dictionary”. New York: McGraw-Hill, 1944; e (V) “Chemical Educational Material Study. Química.” São Paulo: EDART, 1976 - v. 1, 2 e 3 + manuais v. 1 e 2.
A análise e comparação dos textos se deram sob um ponto de vista qualitativo, levando-se em consideração os aspectos conceituais, o sequenciamento dos conteúdos e o modo de contextualização do tema. Para tanto, foram coletadas as definições dos termos eletronegativo e eletronegatividade [esse, por Pauling, (II) e (III)], as diferentes definições e aspectos de eletronegatividade por outros autores e como são calculados os valores de eletronegatividade.
RESULTADOS:
O conceito de eletronegatividade não aparece em textos de anteriores a 1940-1950, como (III). Antes da conceituação de eletronegatividade por Pauling (I) e(II), definia-se apenas o que era eletronegativo. O dicionário Hackh’s, de 1944 (IV), apresenta apenas o verbete “eletronegativo” e define: “(1) Tendo uma carga negativa ou um excesso de elétrons. (2) Capaz de capturar elétrons. Elemento eletronegativo: Um elemento localizado no lado esquerdo da tabela periódica, especialmente os não-metais (metade superior da tabela periódica). Esses átomos têm quatro ou mais elétrons de valência e têm uma tendência para completar suas cotas de oito. Íon eletronegativo: Ânion, ou íon negativo. Radical eletronegativo: Um radical ácido ou um grupo de átomos tendo uma carga negativa; como OH-, SO4--.”
Nos textos atuais de química, são apresentadas duas definições para eletronegatividade que, simplificadamente, podem ser expressas como: (a) “capacidade que os átomos de determinado elemento possuem para atrair elétrons”, e (b) “força de atração exercida sobre os elétrons de uma ligação”. De um modo geral, apresenta-se a definição na unidade em que se estuda a Tabela Periódica, apresentando-a como uma propriedade periódica. E como aplicação, geralmente aparece para explicar a condição de formação de uma ligação covalente polar, tal como no texto (I) em que “o poder de atração para os elétrons em uma ligação covalente é chamado de eletronegatividade do elemento”.
CONCLUSÕES:
Nos textos analisados, mais intensamente nos do ensino médio, se verifica que eletronegatividade: (i) tem seu conceito confundido com o de eletronegativo, como já apresentado (IV); (ii) é apenas mais uma das propriedades periódicas e que os valores da eletronegatividade dos elementos é apresentada de forma arbitrária, sem nenhuma explicação de suas origens; (iii) serve apenas para definir a polaridade das ligações covalentes; (iv) é, muitas vezes, confundida com a definição de afinidade eletrônica.
Muitas vezes, apresentam-se definições de afinidade eletrônica e de potencial de ionização, sugerindo que a de eletronegatividade seria uma conseqüência. São poucos, ainda, os textos indicando que os valores de eletronegatividade relativos dos átomos na escala de Pauling foram obtidos a partir de dados experimentais de calores de formação de moléculas simples e, conseqüentemente, dos valores de energia de ligação. A questão da eletronegatividade dos gases raros é tratada, quando acontece e ainda assim sem muita profundidade, em textos destinados ao ensino superior, havendo, no entanto, uma elegante discussão no artigo do Prof. Filgueiras, citado na introdução deste trabalho.
A partir deste estudo verifica-se que, principalmente no ensino médio, onde a compreensão da Química e o gosto pela ciência em geral deveriam ser firmados nos alunos, a questão de definição de conceitos deveria ser construída de forma clara, precisa e contextualizada, tanto histórica como cientificamente.
Instituição de fomento: UNINCOR e FAMINAS
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Eletronegatividade; Ensino de Química; Ensino de Ciências.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004