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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 2. Geografia Regional
DAS ESTATÍSTICAS À VIVÊNCIA: UM ESTUDO INTRAMUNICIPAL DO RURAL E DO URBANO NO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA - SP.
Lucelina Rosseti Rosa 1   (autor)   geida_unesp@yahoo.com.br
Darlene Aparecida de Oliveira Ferreira 1   (orientador)   darlene@fclar.unesp.br
1. Depto. de Antropologia, Filosofia e Política, Universidade Estadual Paulista - UNESP
INTRODUÇÃO:
No âmbito das Ciências Sociais, discussões sobre as categorias campo, cidade, rural, urbano têm sido retomadas. Estudiosos têm questionado a concepção de que o Brasil é eminentemente urbano, ressaltando que as definições de campo, cidade, e até mesmo de município tornaram-se ineficientes por não levarem em consideração elementos como densidade demográfica, gênero de vida, mobilidade espacial, especificidade econômica, elementos considerados fundamentais para se pensar em rural e urbano no contexto recente. Nesta discussão, salienta-se a necessidade de se produzir dados estatísticos mais próximos da realidade, que possam viabilizar políticas regionais sobretudo em áreas tipicamente rurais. Assim, a presente pesquisa traz a discussão para o nível intramunicipal, avaliando as relações que se estabelecem entre campo e cidade, rural e urbano em Araraquara - SP, caracterizada pela heterogeneidade do território e dos residente. A despeito das estatísticas demonstrarem que sua população é cada vez mais urbana, observa-se a presença de formas diferenciadas no padrão de ocupação e infra-estrutura existentes dentro dos limites da cidade. O objetivo específico é avaliar mais atentamente o cotidiano de parte da população residente nestas áreas de confluência entre o campo e a cidade. A contribuição deste estudo não se faz apenas no resgate do debate teórico, mas na produção de um conhecimento que poderá auxiliar ações de planejamento e políticas a serem desenvolvidas em âmbito local.
METODOLOGIA:
Para o cumprimento dos objetivos, realizou-se num primeiro momento levantamento de estudos, que tratassem direta ou indiretamente da temática proposta, nas três principais universidades do estado de São Paulo: Unesp, Unicamp e Usp. O intuito era recuperar as diferentes abordagens já realizadas sobre o assunto. Paralelamente, fez-se a investigação prática da delimitação dos espaços físicos do campo e da cidade no município proposto para realização da pesquisa. Para esta tarefa utilizou-se como fontes principais a prefeitura municipal e o IBGE local, analisando leis e dados estatísticos referentes à presente discussão. Em um segundo momento, foi possível situar a pesquisa de uma maneira mais próxima da população, realizando um trabalho de campo que objetivou avaliar o cotidiano de parte da população residente em dois bairros distintos, localizados na área de confluência entre o campo e a cidade em Araraquara - SP. Esta atividade contemplou aplicação de questionários - através de procedimento de amostragem - realização de entrevistas junto aos moradores, complementadas por registros de campo e fotográficos das localidades estudadas. Foi possível coletar não apenas dados socioeconômicos dos moradores, mas apreender as trajetórias de vida, relações com os locais de moradia, as demandas existentes. Todas as informações foram sistematizadas em banco de dados - software Access - tabuladas e analisadas através de gráficos, tabelas e imagens.
RESULTADOS:
A adoção dos métodos e materiais mencionados apontou que as dificuldades em compreender os critérios de definição de campo e cidade, bem como das categorias rural e urbano são inúmeras e ocorrem tanto no que diz respeito às abordagens teóricas, quanto na prática. A despeito de existirem muitos estudos trabalhando com a temática, poucos são aqueles que caracterizam e qualificam campo e cidade. Outros estudos já realizados apontavam o fato de que o rural - entendido como uma forma de vida particular - estaria sendo eliminado pelo urbano que, nos dias atuais, seria difundido para além do espaço das cidades. Já ao buscar os critérios de definição destes espaços e populações neles residentes, verificou-se no município de Araraquara - SP um descompasso entre os critérios adotados pelo poder público local e o IBGE, fazendo com que este último considerasse rurais áreas eminentemente urbanizadas. Por outro lado, ao analisar os resultados do trabalho de campo realizado em dois bairros do município, verificou-se que uma parcela da população araraquarense, a despeito de localizada na cidade, reproduz uma forma de vida diferenciada expressa nos estilos das habitações, nos padrões de ocupação, na infra-estrutura existentes, denunciando a presença de uma ruralidade sendo reproduzida dentro do espaço urbano do município.
CONCLUSÕES:
Frente ao objetivo de avaliar a relação cidade-campo, levando a discussão para análise local e colocando-se de maneira mais próxima da população residente nas áreas limítrofes entre o campo e a cidade em Araraquara-SP, os resultados apontaram que, a despeito de a população do município trabalhado ser avaliada pelos órgãos estatísticos oficiais progressivamente como urbana, nem toda a população que reside nos espaços da cidade tem o urbano como padrão de vida, sobretudo pela forte presença de bairros de chácaras em que os residentes criam plantas e animais para o próprio consumo, construindo a sua própria vida urbana, reproduzindo uma forma de habitar e de se relacionar com os locais de moradia singulares. Acredita-se que a existência desta configuração seja fruto da relação econômica, social, geográfica, cultural, que se estabelece entre as populações e os espaços do campo e da cidade, fato que pode ser avaliado não apenas no município trabalhado, mas em outras localidades do país. Neste sentido, chama-se atenção neste estudo para o fato de que independentemente das definições pré-estabelecidas e estatísticas produzidas, parte da população pode reproduzir a vida na cidade a partir de referenciais que lhe são próprios, e cultivados socialmente. Desta forma, toda e qualquer ação política ou de planejamento rural ou urbano deve levar em consideração os fluxos existentes entre estas duas esferas e as novas configurações deles resultantes.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Campo; Cidade; Ruralidade.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004