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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
A MEMÓRIA E A EDUCAÇÃO NO EXÉRCITO: UMA ANÁLISE DO CURSO DE TÉCNICA DE ENSINO DO CENTRO DE ESTUDOS DE PESSOAL.
Júlio César Gomes 1, 2, 3   (autor)   julius123@ig.com.br
1. Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UNIRIO
2. Grupo de pesquisa em Educação, Universidade Federal Fluminense - UFF
3. Divisão de Pesquisa em Educação, Centro de Estudos de Pessoal - CEP
INTRODUÇÃO:
Este estudo foi desenvolvido no Centro de Estudos de Pessoal (CEP), um estabelecimento de ensino militar situada na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. A decisão de iniciar um trabalho em Memória Social nos limites de circunscrição do Exército Brasileiro decorre da impossibilidade de se discutir criticamente as Forças Armadas e o papel social da educação militar fora do marco de uma concepção, igualmente crítica, das relações que se estabelecem entre as instituições militares e a estrutura da sociedade na qual se insere a prática educativa militar. As pesquisas educacionais já realizadas e em andamento no país, voltadas para o papel na sociedade, consideram, em sua quase totalidade, as instituições civis de ensino. A pouca permeabilidade das instituições militares de ensino não contribui para os estudos nesta área do conhecimento, fato que dificulta a compreensão da conduta dos funcionários fardados, haja vista os vários momentos em que os militares saíram dos quartéis para se envolverem em problemas de ordem política, conferindo às Forças Armadas um papel intervencionista por tradição. Neste sentido, o objetivo desse trabalho é analisar a formação pedagógica do militar que coordena o ensino nas escolas do Exército.
METODOLOGIA:
As análises foram realizadas numa perspectiva crítico-social, utilizando-se referenciais de: FOUCAULT, FENTRESS, LE GOFF, HALBWACHS. A metodologia utilizada consta de uma pesquisa qualitativa, baseada em levantamento bibliográfico e documental, envolvendo o estudo do cotidiano das práticas educativa no CEP. É relevante ressaltar a importância das falas dos comandantes numa instituição militar, uma vez que se tornam registro e documento. Isto significa dizer que os discursos proferidos pelos comandantes tornam-se oficiais, já que estão alicerçados por um aparato institucional e respaldados por um corpo jurídico que lhes concede a possibilidade simultânea de proteção e de coerção pelos aparelhos militares. Neste sentido as análises constituem um diálogo permanente entre a abordagem teórico-metodológica sobre a memória e a experiência de investigação, que tem como estudo o Curso de Técnica de Ensino (CTE), desenvolvido no CEP
RESULTADOS:
A pesquisa realizada permite apontar algumas características da memória no processo educacional do Exército. As avaliações classificatórias e o distanciamento entre professor/instrutor e o aluno, características pertencentes à visão tecnicista, revelam na memória do ensino militar as limitações do seu processo ensino aprendizagem. A própria condição de chefe militar, personificada na figura do instrutor, é uma especificidade da educação militar que deve ser considerada, pois, a existência de alunos subordinados revelam professores com posição de chefes e não de educadores, conduzindo à subordinação emocional e intelectual que criam comunidades imobilistas que não criam ou reestruturam os fatos. Desta forma CTE desenvolveu-se em torno de alguns eixos tais como: o controle do processo educacional (grade curricular) em todas as suas dimensões; conservação do poder através de avaliações escolares rígidas e diretamente atreladas a carreira do militar e finalmente a concepção de pesquisa vinculada à acumulação de capital.
CONCLUSÕES:
A memória que se faz presente no Forte do Leme, através da criação do CEP e do CTE, deixa muito claro o sentido histórico do desenvolvimentismo e de uma perspectiva mecanicista na formação do oficialato, delineando uma identidade militar caracterizada pela posição de uma mentalidade nacional estabelecendo em bases sólidas a segurança nacional, com o fim sobretudo de disciplinar e de hierarquizar a educação do militar. Desta forma, existe uma necessidade pedagógica de resgatar a capacidade de interação dos conhecimentos esfacelados pelo processo tecnicista e mecanicista e de abrir-se ao saber plural, que surge como decorrência natural de um momento histórico novo no qual o conhecimento assume uma nova dimensão. Assim sendo, a grade curricular do CTE, no seu conjunto tem dificuldade em concretizar os seguintes eixos:
• uma organização mais dinâmica do conhecimento e do currículo, numa perspectiva interdisciplinar;
• uma organização coerente entre sujeito-objeto-conhecimento;
• uma articulação entre teoria e prática; CTE e realidade social;
• uma relação mais estreita entre a dimensão social, lógica. cultural, histórica e política do currículo.
Palavras-chave:  Memória; Educação militar; Técnica de Ensino.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004