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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
VIDAS SECAS E MORTE E VIDA SEVERINA: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS IMAGENS DA SECA
Geylson da Silva Alves 1   (autor)   geylsonalves@ig.com.br
Geralda Medeiros Nóbrega 1   (orientador)   
1. Departamento de Letras e Artes, Universidade Estadual da Paraíba - UEPB
INTRODUÇÃO:
Segundo reportagem de Araújo (2003:01) sobre a seca de 2003 no sertão nordestino, mais particularmente no sertão paraibano, esta flagela os sujeitos carentes que necessitam da agricultura para viver, tornando-lhes mendigos e consumidores de animais exóticos da região - camaleão, gambá, teiú - para, então, continuar sobrevivendo. Os textos canônicos Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, são representativos do imaginário do sertão nordestino, cujos heróis Fabiano e Severino lutam contra as pressões provocadas pelos meios natural e social. Entretanto, transcorridos mais de meio século, em que várias tecnologias foram desenvolvidas e os espaços se globalizaram, perdendo suas fronteiras regionais, as ficções supracitadas, produzidas nas décadas de 30 e 50, respectivamente, representam situações que ainda perduram no sertão nordestino, como: a seca, a fome, a miséria e a exclusão. Logo, essa pesquisa tem os objetivos de: a) examinar o imaginário da seca nos textos Vidas secas e Morte e vida severina, b) cotejar as imagens e a temática da seca entre ambas as ficções, c) analisar os índices de denúncia nas duas obras, e, d) relacionar o universo literário com o universo real. A relevância desse estudo consiste na compreensão do imaginário social do sertão nordestino na atualidade, avanço dos estudos do imaginário na região Nordeste e alargamento ainda maior da fortuna crítica graciliana e cabralina.
METODOLOGIA:
Os métodos utilizados no desenvolvimento dessa pesquisa foram o fenomenológico, comparatista e bibliográfico, numa perspectiva interdisciplinar - utilizando os discursos do imaginário durandiano, da crítica literária, da história e da sociologia -, sendo utilizadas as técnicas de levantamento bibliográfico, leituras, fichamentos de citação e de esboço, resumos descritivos, analíticos e críticos, resenhas críticas e produções textuais. Foram utilizadas os seguintes índices categóricos para a análise e interpretação dos dados: imaginário, apresentado por Durand (1998), imaginação simbólica, postulado por Durand (1995), funcionamento do imaginário social, proposto por Durand (apud CHAUVIN, s/d), fronteiras deslizantes, desenvolvido por Bhabha (1998), e, seca e poder, na esteira de Tavares (1998).
RESULTADOS:
Analisados e interpretados os dados, compreendeu-se que: a) as imagens que compõem o imaginário da seca nas obras examinadas são: o sol, o céu flamejante, a terra sulcada, a lama, a pedra, o rio seco, a caatinga e a morte, b) Morte e vida severina funciona como intertexto de Vidas secas no que tange às imagens e temática da seca c) os dois textos denunciam a sede, a fome, o desemprego e a injustiça e marginalização sociais a que seus personagens são suscetíveis, e, d) as obras literárias tomadas como objeto de estudo, apesar de escritas em meados do século passado, exibem a realidade do sertão, com toda a miséria provocada pela seca e pelo contexto social, neste limiar do século XXI.
CONCLUSÕES:
A partir dos resultados, percebeu-se que o imaginário da seca de Vidas secas e de Morte e vida severina representam, em uma leitura profunda, o poder político que, assim como o espaço físico da região, oferece poucas condições de vida para o sertanejo, tornando sua vida ainda mais seca e severina; que o sertanejo é parte constitutiva na formação do imaginário social e cultural do Nordeste brasileiro e forma, juntamente com o institucionalizado, a psique coletiva, tornando-a normal, dado que isso sucede quando há um equilíbrio e não uma redução de várias alteridades; que o sertanejo pode ser transposto, na dinâmica social, para a tópica do institucionalizado, uma vez que as alteridades são definidas por valores extrínsecos, podendo qualquer outro ocupar o locus do dominante e vice-versa, e, por fim que, apesar de teóricos defenderem que as fronteiras regionais foram derrubadas com o advento da globalização, isso não se processa no caso do Nordeste brasileiro, o qual continua, em pleno início do século XXI, assim como exibido em textos literários do século passado, demarcado com todas as suas características naturais e sociais específicas, sendo necessário, por isso, estudar o imaginário dessa região tão singular e complexa, ao mesmo tempo, que é o sertão nordestino, a fim de compreendê-lo.
Instituição de fomento: PIBIC/ CNPq/ UEPB
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Seca; Imaginário; Intertexto.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004