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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 8. Comunicação
Análise do comportamento do estudante de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão, tendo como base da pesquisa seu engajamento no evento estudantil Comunicarte
Mayanna Estevanim 1   (autor)   m_estevanim@yahoo.com.br
Amanda Araujo Rodrigues 1   (autor)   amandinha_ar@yahoo.com.br
1. Depto. de Comunicação Social, Universidade Federal do Maranhão - UFMA
INTRODUÇÃO:
O objetivo do trabalho é analisar a participação do estudante de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão, através da manifestação cultural Comunicarte (coordenada pelo Diretório Acadêmico do Curso de Comunicação Social da UFMA), frente às mudanças sociais possibilitadas pela globalização e, em âmbito local, pela redemocratização brasileira. Com os meios de comunicação massivos e a indústria cultural, o indivíduo tende a pertencer a um único universo social. Esse processo resulta na perda da identidade do homem moderno que possibilita a massificação de gostos e desejos. Sem uma identidade que o diferencie dos demais, o indivíduo procura reverter este efeito e passa a buscar a individualidade. Se na antiguidade o homem representava a si próprio na esfera pública, como diz Hannah Arendt, o homem moderno tem sua representação mediada através dos veículos de comunicação. No Brasil, com o fim do regime militar, o país entra em um período de redemocratização, que teve na constituição de 1988 seu momento áureo. A partir de então, não era mais visível o inimigo. Estes fatores estão refletidos na sociedade moderna, e, dentro do propósito da pesquisa, nas mudanças ocorridas no perfil dos estudantes de comunicação da UFMA, onde o ingresso ao curso acontece mais pela projeção que a profissão pode oferecer do que pelo papel social que representa.
METODOLOGIA:
Para analisar esta mudança foi buscado o engajamento dos estudantes nas edições do Comunicarte. Avaliamos o evento em dois momentos: o primeiro que vai do ano de 1982 até 1993; e o segundo a partir do ano de 2000. Entre os anos de 1994 e 1999, o Comunicarte não ocorreu. Por isso a escolha da análise, que vai desde a sua origem em 82 até sua extinção em 93, período áureo, que coincide com as conquistas da redemocratização; e a sua retomada no ano de 2000, após seis anos sem o evento e dentro deste novo contexto de interesses individuais. A realização do trabalho foi possível através de pesquisas documentais nos arquivos do Diretório Acadêmico de Comunicação, materiais de divulgação (folder, projeto, foto); de pesquisas bibliográficas, para contextualização histórica geral e local, além do embasamento teórico, entre os quais encontram-se Gilles Lipovetsky, com a obra “A Era do Vazio” e Hannah Arendt com o livro “A Condição Humana”. Também foram realizadas neste trabalho, entrevistas com professores do curso de comunicação, historiadores e participantes ativos do Comunicarte.
RESULTADOS:
O Comunicarte foi pensado a partir de uma disciplina de fotografia. Teve como idéia inicial expressar as diversas formas de comunicar com arte. Na primeira edição, o evento não possuía a mobilização política que mostrou nas edições seguintes. Consistia em painéis, oficinas, apresentações culturais, e a radio estudantil que tornou-se marca de todas as edições. Foi em 1985 que a mobilização política teve seu momento de grande efervescência. Estudantes paralisavam a universidade em reivindicações grevistas por seus direitos. A UFMA não era apenas loco de difusão do conhecimento acadêmico, mas espaço de debate e manifestações. Neste mesmo ano, o Comunicarte passa a ter ideais e posicionamentos políticos como máxima de expressão. Permaneciam as oficinas, as exposições, mas o conteúdo era modificado. Lutas por ideais, pela melhoria do país e pela dignidade da comunicação eram fonte de inspiração à criação artística. Isto até o ano de 1993. Depois do abismo, que durou seis anos, a retomada, que teve como slogan: “Quem te viu, quem te vê”. O objetivo dos organizadores era retomar o caráter político como tivera em seus tempos áureos. Porém, a participação foi mais artística, de curiosidade e não de ação. Os resquícios desta tentativa política foram vistos como no “velório dos laboratórios”, mas o contexto agora era outro e a finalidade não era mais lutar pelo todo e sim por aquilo que está diretamente ligado ao estudante e os resultados imediatistas e de projeções pessoais.
CONCLUSÕES:
Hoje é cada vez mais fácil observarmos estudantes que procuram o curso de Comunicação com o intuito de acessão econômica e pública, de exposição pessoal, uma vitine que a profissão pode vir a oferecer. O comportamento dos estudantes de Comunicação da Ufma, no entanto, é um reflexo da sociedade e das suas modificações. Nos anos de efervescência do Comunicarte, o engajamento predominante possuía interesse coletivo, já nas mobilizações recentes o que predomina é o individuo. Após a Guerra Fria, fatos como a desagregação da sociedade, dos costumes, do indivíduo contemporâneo, do consumo de massa, formou-se a sociedade da personalização, da indiferença, como fala Gilles Lipovetsky, marcada pela ascensão de valores individuais e pela perda de credibilidade das instituições, como: a igreja, sindicato, educação. É nesta cultura do individualismo que o homem torna-se o narciso social. Preocupado com o acúmulo de riquezas, para assim adquirir a tão sonhada liberdade, a busca da compreensão do eu, enfim, os valores do corpo e da vida presente. O Comunicarte, por ser uma manifestação, expressou estas mudanças. Passado o período militar, tudo havia para se fazer, se falar. Mas após este imediatismo de liberdade, as tendências globalizantes e o peso de não ter mais o inimigo visível (regime opressor), fizeram emergir um ser atomizado politicamente com um interesse maior de satisfazer sua própria necessidade.
Palavras-chave:  Movimento estudantil; Maranhão; Arte.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004