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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
O ESPIRAL DA DIGNIDADE: EMPREGO E ESTÍMULO À CONCLUSÃO DO CURSO SUPERIOR ENTRE DEFICIENTES FÍSICOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE CUIABÁ / MT
Ivani Gomes de Almeida 1   (autor)   iga320@bol.com.br
Gisely Beatriz Correa de Arruda 1   (autor)   
Pedro Cézar da Silva Moraes 1   (autor)   
Darilene Aparecida de Oliveira 1   (autor)   
Sandro Aparecido Lima dos Santos 1   (orientador)   
1. DEPARTAMENTO DE CIENCIAS SOCIAIS, FACULDADES INTEGRADAS CANDIDO RONDON/UNIRONDON
INTRODUÇÃO:
As políticas de inclusão, integração e reintegração social das pessoas portadoras de deficiência têm sido debatidas nos âmbitos acadêmico e político. No século XXI, a condição cidadã destes sujeitos e o usufruto dos direitos já reconhecidos ainda são desafios para a participação deste segmento em uma sociedade com orientação democrática. Este trabalho resultou de uma pesquisa efetuada por graduandos do Curso de Ciências Sociais da UNIRONDON-Faculdades Integradas Cândido Rondon, localizada na cidade de Cuiabá/MT, tendo como foco a preocupação com o reconhecimento da condição cidadã dos alunos portadores de deficiência física matriculados na referida instituição no ano de 2003. A partir da observação empírica percebeu-se o aumento gradativo do número de alunos deficientes freqüentando os diferentes cursos da UNIRONDON, e daí derivaram-se os interesses em investigar a trajetória dessas pessoas e os motivos, oportunidades e obstáculos que as levaram ao ingresso em um curso superior, apesar de suas limitações. Nos trabalhos consultados não encontramos referência a relação entre empregabilidade e elevação do nível de escolaridade entre deficientes. Objetivamos identificar as variáveis referentes a realidade desses alunos no que tange aos mecanismos de concretização dos direitos já conquistados, mas nem sempre efetivados pois, no contexto nacional, o reconhecimento legal dos direitos sociais dos segmentos excluídos não garante seu pleno exercício e usufruto.
METODOLOGIA:
Para o alcance dos objetivos propostos iniciamos uma revisão bibliográfica que evidenciou a construção histórica dos conceitos de deficência, de deficiente e das práticas sociais orientadas por tais conceituações atividade esta que condicionou a confecção de uma periodização da percepção social das deficências ao longo da história da humanidade. Na seqüência realizamos a pesquisa empírica e descritiva, iniciando a coleta de dados por meio da aplicação de um questionário envolvendo seis questões fechadas do tipo múltipla-escolha direcionadas ao reconhecimento de variáveis quantitativas e quatro questões abertas do tipo dissertativa direcionadas ao reconhecimento das variáveis qualitativas como impressões, expectativas e estratégias utilizadas pelos deficientes no enfrentamento de suas necessidades cotidianas. O universo pesquisado foi de 25 (vinte e cinco) pessoas portadoras de deficiência física e matriculadas em 11 (onze) diferentes cursos de graduação, oferecidos pela instituição citada, abordadas entre os meses de julho e outubro de 2003. Os dados quantitativos foram tabulados e analisados, enquanto as informações qualitativas foram lidas, interpretadas, comparadas e tipificadas permitindo confeccionar um quadro das trajetórias desses alunos questionados.
RESULTADOS:
A periodização da percepção social das deficências mostrou-a diversidade das práticas e discursos como o abandono dos incapazes, a mendicância, o asilamento caritativo, o reconhecimento da diferença natural determinada, as iniciativas da administração pública e a reinvindicação de direitos. A partir das guerras mundiais do século XX a deficiência tornou-se próxima e notória devido o saldo de mutilados que sustentaram movimentos de reinserção social.. Na atualidade, a legislação para assegurar a participação dos deficientes e os avanços tecnológicos tornaram este segmento atraente ao mercado de trabalho e favoreceram a consolidação da proposta de integração social, iniciada na década de 80 pela ONU (Organização da Nações Unidas), na qual o Brasil consolidou efetivamente sua participação desde 1994, com O Discurso de Salamanca. Considerando o nosso universo empírico, o cruzamento dos dados e informações demonstrou que 93,78 % dos pesquisados, em diferentes faixas etárias e sexos, nas variadas condições sócio-ecomicas e com específicas trajetórias pessoais reconheceram a contribuição dos mecanismos legais e institucionais para sua inserção social. Estes mesmos entrevistados recusaram a aceitação da deficiência física como azar ou sorte e alguns entre eles recusaram a deficiência como auxílio ou obstáculo na sua absorção pelo mercado de trabalho, entendendo seu recrutamento como resultado de um esforço pessoal ou de vantagens para o empregador.
CONCLUSÕES:
Segundo o IBGE (Censo-2000), 14,45% da população brasileira apresenta algum tipo de deficiência, sendo os deficientes físicos os mais inseridos no mercado de trabalho e os que ocupam melhores cargos em comparação a outras deficências, devido ao significativo grau de escolaridade e a mais fácil transposição tecnólógica de suas limitações. A maioria dos deficientes empregados completaram o ensino médio e, depois de contratados, alguns buscam o ensino superior. Esta constatação é válida para a maioria dos nossos pesquisados que admitiram que a a inserção prévia no mercado de trabalho formal estimulou a busca de qualificação profissional por meio da conclusão de um curso superior, contrariando o senso comum de que a escolaridade determinaria a empregabilidade destes. Na sociedade capitalista, o emprego remunerado formal condicionou-lhes uma inserção social mais segura e estimulou a busca de um aperfeiçoamento contínuo, em um espiral ascendente de dignidade sustentada pelo trabalho e pela educação. Contudo, o aumento do desemprego e a percepção social das deficências como incapacitações e não como limitações transponíveis ainda dificultam a obtençãode um emprego. Segundo os entrevistados, a conclusão de um curso superior lhes garante em situação de dispensa ou desemprego, já que os mesmos entendem a sua contratação como resultado de esforços pessoais ou de vantagens para os empregadores e não como resultado de imposição legal ou de conscientização da sociedade.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  deficiência física; qualificação profissional; integração social do deficiente.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004