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G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
ANÁLISE HISTÓRICO-ANTROPOLÓGICA DAS FORMAS DE RESISTÊNCIA DOS CARECAS DO SUBÚRBIO NA SOCIEDADE PAULISTA DOS ANOS 90
Carlos Eduardo França 1   (autor)   carlos.trolls@zipmail.com.br
Lídia Maria Vianna Possas 1   (orientador)   lidia.possas@uol.com.br
1. Depto. de Ciências Políticas e Econômicas, Universidade Estadual Paulista  UNESP.
INTRODUÇÃO:
Partindo das proposituras do momento presente onde observamos o avanço da violência praticada por grupos radicais de extrema-direita no cenário nacional e internacional, investimos no desenvolvimento de um trabalho que teve por objetivo analisar as formas específicas de resistência de uma das facções que compõe o movimento skinhead brasileiro denominada carecas do subúrbio. Consideramos os carecas do subúrbio como jovens que se organizam em gangues e possuem o objetivo de dirigir suas ações contra alguns valores, normas, símbolos sociais e culturais da sociedade capitalista, buscando criar uma identidade grupal própria que os diferencie dos demais grupos sociais e das práticas culturais dominantes. Para tanto, buscamos entender através de uma perspectiva historiográfica a formação e as estratégias de organização desses agrupamentos sociais, retomando conflitos ocorridos na cidade de Lyon (séc. XVI) entre os grupos distintos dos Griffarins e Forfants, bem como a formação do grupo dos Apaches presentes na Paris da Belle Époque (séc. XX), entendendo que este esforço intelectual nos possibilitaria iluminar momentos do passado, lançando luz sobre a compreensão dos grupos sociais mais atuantes no presente. Neste sentido, vislumbramos entender as formas de organização e táticas de articulação das identidades grupais das gangues contemporâneas, voltando a atenção para as formas de organização e resistência dos carecas do subúrbio nos anos 80 e 90.
METODOLOGIA:
A perspectiva metodológica do presente trabalho fundamentou-se na análise historiográfica contemporânea que investe na captação hermenêutica da dinâmica do cotidiano, ressaltando suas práticas e formas peculiares de lutas e resistências evidenciadas nas experiências de sujeitos concretos, de diferentes classes, inseridos em temporalidades múltiplas e vivendo conflitos e tensões específicas que se apresentam como continuidades e descontinuidades, permanências e rupturas, produzidas pela influência da processualidade histórica na mentalidade dos indivíduos e grupos sociais; não perdendo, porém, de vista a totalidade complexa que compõe as dimensões econômicas, políticas e culturais da realidade social. Deste modo, procuramos identificar e explicar a teia de significados construída pelas imagens e representações situadas em problemáticas que se inserem e partem de proposituras do momento presente, focando o movimento carecas do subúrbio a partir da coleta e análise de bibliografias, periódicos da Folha de São Paulo, fanzines produzidos pelo grupo e material existente em sites na Internet, reunindo fontes documentais que, devidamente cotejadas com as conjunturas situadas em um contexto histórico específico, nos permitiu ampliar o campo de investigação e produzir outras histórias e elaborar outros olhares sobre o grupo em questão.
RESULTADOS:
A compreensão mais detalhada da realidade social concreta e das formas de pensamento sustentadas pelo grupo dos carecas do subúrbio exigiu à apreensão do contexto histórico no qual este agrupamento específico estava inserido, permitindo-nos captar o período de bancarrota das medidas implementadas no país pelo Regime Militar que, ao tentar introduzir projetos de modernização no intuito de promover a retomada imediata do desenvolvimento econômico, produziu a intensificação das desigualdades econômicas e sociais, bem como a eclosão de novas formas de resistência e rebeldia nos bairros pobres e subúrbios da Grande São Paulo. Neste contexto, percebe-se a articulação de um grupo singular que se assumiram como carecas do subúrbio e expressavam-se como novos atores sociais adotando alguns elementos dos skinheads ingleses para construir sua imagem e identidade própria, diferenciando-se dos demais grupos sociais que ocupavam o cenário urbano conflituoso no final dos anos 70, início dos 80. Diante das pressões sociais, do Estado e dos setores vinculados à grande imprensa nas décadas de 80 e 90, observamos que a grande preocupação dos carecas do subúrbio presente nos fanzines era a de construir uma imagem socialmente aceita deles próprios para se contraporem às narrativas da grande imprensa, centradas na elaboração de determinada representação homogeneizada dos movimentos sociais que se manifestavam como respostas específicas diante de determinado contexto histórico.
CONCLUSÕES:
Neste sentido, utilizamos as contribuições da historiografia contemporânea para realizar uma investigação histórico-antropológica a partir da análise de bibliografias sobre o tema e do material impírico presente em um dos fanzines mais expressivos intitulado Protesto Suburbano, buscando nos afastar de pré conceitos no intuito de captar os valores e pensamentos dos carecas do subúrbio, observando seus componentes culturais e múltiplas táticas de organização e formas de divulgação criadas e utilizadas quotidianamente pelos integrantes do movimento para disseminar seus ideais e visões de mundo à população brasileira. Com isso, captamos as formas de percepção do real, bem como as imagens e representações construídas pelos carecas do subúrbio nos fanzines elaborados por eles próprios, compreendendo como esses sujeitos se apropriaram de forma específica dos discursos dominantes, resignificando-os em proveito próprio para, deste modo, articular uma resistência cultural diante das narrativas hegemônicas formuladas pelo Estado e setores da grande imprensa, tendo em vista a persuasão de segmentos populares e a organização de um movimento em âmbito nacional.
Instituição de fomento: FAPESP.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Representações.; Carecas do subúrbio.; Fanzines..

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004