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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
A FESTA DO DIVINO:
INTERVENÇÃO ESTATAL E LEGITIMAÇÃO DE ELITES REGIONAIS
Rafael Bezerra Gaspar 1   (autor)   rafaelbgaspar@yahoo.com.br
Bartolomeu Rodrigues Mendonça 1   (autor)   br.mendonca@ig.com.br
Allan de Andrade Sousa 1   (autor)   llansa@bol.com.br
Horácio Antunes de Sant'Ana Júnior 1   (orientador)   horacioantunes@uol.com.br
1. Departamento de Sociologia e Antropologia - Universidade Federal do Maranhão
INTRODUÇÃO:
INTRODUÇÃO: A Festa do Divino Espírito Santo de maior relevância no Estado do Maranhão ocorre, anualmente, no município de Alcântara, pois mobiliza e envolve boa parte da sociedade local, e repercute em todo o Estado, atraindo um grande número de ex-moradores do município e turistas locais e internacionais. Dura quinze dias, os quais antecede a festa de Pentecostes da Igreja Católica, ocorrendo, normalmente no final do mês de maio e inicio do mês de junho. A festa é marcada por uma profunda relação entre o sagrado e o profano, envolvendo dimensões religiosas, políticas, jurídicas, culturais, artísticas, econômicas, sociais. Tradicionalmente, a festa é viabilizada com recursos econômicos, humanos e sociais da própria sociedade local. No entanto, o crescimento do número de participantes e de sua repercussão provoca a necessidade de ampliação dos recursos e, ao mesmo tempo, propicia grande visibilidade para os possíveis patrocinadores. Dentre estes, nos últimos anos, tem-se destacado uma forte presença do governo estadual. Esse trabalho objetivou buscar investigar como os organismos de cultura do governo “apóiam” a realização da festa e, desta forma, garantem a presença estatal, apropriam-se de seus resultados e legitimam ações governamentais. Esse estudo assume relevância ao explicitar novas formas de intervenção cultural que, em última instância, visam manter e legitimar o domínio político das elites regionais.
METODOLOGIA:
METODOLOGIA: Na realização desta investigação lançamos mão de observação direta na Festa de Alcântara no ano de 2003, de registro fotográfico e entrevistas com participantes e moradores da cidade. Nossas observações, resultados e conclusões têm como referência teórica o conceito de “fato social total” desenvolvido por Marcel Mauss (1974), as contribuições de Canclini (1983) sobre cultura popular e as relações capitalistas, a teoria de Weber (1999) sobre dominação e legitimação, e a contribuição de Lima (1988) com a obra “Festa do Divino Espírito Santo em Alcântara”.
RESULTADOS:
RESULTADOS: Percebemos que a Festa do Divino Espírito Santo ocorrida em Alcântara revela uma lógica de representações sociais coletivas e individuais capazes de caracterizarem o fato social total de Mauss. Além disso, constatamos que o governo do Estado, a partir da GDH (Gerência de Desenvolvimento Humano), órgão que promoveu o investimento da festa nos últimos três anos, demonstra ser um indicativo palpável da ação estatal, visando o “controle” pelo menos de parte considerável dessa manifestação popular, tornando-a mais um instrumento de legitimação das elites dominantes. Tal consideração é confirmada quando os próprios organizadores e participantes da festa entrevistados compreendem a participação da ação estatal de forma positiva, pois creditam que novos investimentos são feitos e que podem prolongar-se depois da festa, criando expectativas em toda a população da ajuda financeira contínua, que não se confirmam posteriormente.
CONCLUSÕES:
CONCLUSÃO: No Maranhão, o poder político de grupos dominantes exerce uma forte influência na realização das festas de cultura popular, possibilitando que eles almejem uma certa legitimidade de seu poder frente aos populares. A Festa do Divino Espírito Santo realizada em Alcântara confirmou a presença de órgãos governamentais patrocinadores, da imprensa ligada ao governo ou mesmo de autoridades políticas estaduais demonstrando a iniciativa de possíveis ações estatais no “apoio” e concretização da festa. A intervenção e legitimação estatal na duração da Festa do Divino conferiu a essa pesquisa desvendar o amplo movimento de interferência que as ações governamentais podem estabelecer no desenrolar de festas populares e, como, a partir disso, possíveis desdobramentos podem ser feitos, aumentando as alternativas de problematização no que se refere à manipulação do popular para legitimar o domínio político de grupos regionais.
Instituição de fomento: Universidade Federal do Maranhão
Palavras-chave:  Festa; Poder; Alcântara.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004