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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
CARACTERIZAÇÃO DOS ASSOBIOS EMITIDOS PELO BOTO-CINZA Sotalia Fluviatilis DA BAÍA DE MARAPANIM, PA.
Neusa Renata Emin de Lima 1   (autor)   sotalias@yahoo.com.br
Maria Luisa da Silva 1   (orientador)   mluisa@ufpa.br
1. Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Pará - UFPA
INTRODUÇÃO:
O Boto-cinza Sotalia fluviatilis apresenta dois ecótipos, um marinho e outro fluvial. A forma marinha é encontrada em regiões costeiras, do sul do Brasil (Santa Catarina) até a Nicarágua. Fatores como degradação, poluição e capturas acidentais em redes de pesca representam sérias ameaças à conservação da espécie, ao longo de toda a sua distribuição. Apesar dos vários estudos a respeito da comunicação sonora em Cetáceos, pouco se sabe das funções etológicas de suas vocalizações. A Baía dos Rios Marapanim e Cuinarana representam uma importante área de concentração de Sotalia fluviatilis na costa do Pará, porém neste estado a espécie não tem sido estudada suficientemente. O conhecimento a respeito da comunicação sonora dos mamíferos aquáticos pode ser bastante utilizado no manejo e conservação das espécies em ambiente natural. A comunicação tem função central na estrutura social dos animais, através da qual tem-se informações a respeito da identidade, comportamento, além da relação dos animais com o ambiente em que eles vivem. O presente trabalho de pesquisa irá caracterizar os assobios da população de Boto-cinza da Baía de Marapanim.
METODOLOGIA:
O estudo do Boto-cinza na Baía de Marapanim foi realizado com o auxílio de um barco a motor de 5 metros de comprimento. As saídas de campo tiveram início às 6:00 horas, cerca de 20 minutos antes do alvorecer, e prosseguiram durante todo o período de luminosidade. Sempre que um grupo de botos foi encontrado, informações como hora, latitude e longitude (através de um GPS Garmin e-trex), tamanho de grupo, presença de filhotes, atividade desenvolvida, foram registradas em planilhas padronizadas. A avistagem dos botos foi realizada com auxílio de Binóculos Pentax 10 x 50 e os sons gravados utilizando um Hidrofone e Gravador Digital DAT Sony TCD-D7. Para determinar a atividade desenvolvida utilizaram-se as seguintes categorias de atividades: deslocamento, pesca, socialização, e descanso. A análise bioacústica foi realizada com os programas Avisoft SASLab Pro, Cool Edit Pro e Gram onde foram produzidos os sonogramas e determinados os parâmetros físicos das vocalizações. Destes foram medidos duração, faixa de freqüência e intensidade e os dados tratados no programa Statistica, da Statsoft.
RESULTADOS:
Foram registradas 2 horas de emissões sonoras da população dos Botos da Baía de Marapanim. Analisamos acusticamente somente os assobios que representam a assinatura vocal da espécie. Os assobios são modulados, puros e bastante agudos, com freqüência inicial variando em torno de 8 kHz e a final acima de 20 kHz. Eles variam individualmente quanto ao formato, duração e ao ponto de inflexão, uma característica da vocalização dessa espécie. Entre os assobios analisados predominava o formato ascendente.
CONCLUSÕES:
O estudo bioacústico é a forma mais adequada de investigação dessa espécie nas águas turvas da Amazônia, que não apresenta condições de visibilidade para outros estudos comportamentais. O registro das vocalizações representa uma metodologia inofensiva ao animal, sem necessidade de coletas e com boa capacidade informativa, com a vantagem de permitir o monitoramento em longo prazo. A análise dos assobios mostrou ser eficiente na identificação dos indivíduos permitindo uma avaliação do tamanho populacional de forma não invasiva, além de possibilitar estudos comparativos realizados com outras populações.
Palavras-chave:  Boto; Bioacústica; Comportamento.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004