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G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
A MILITÂNCIA FEMININA NO MOVIMENTO INTEGRALISTA DOS ANOS 30
Daniel Henrique Lopes 1   (autor)   danielhl1@yahoo.com.br
Lídia Maria Vianna Possas 2   (orientador)   lidia.possas@uol.com.br
1. Pós-Graduando do Depto.de Ciências Políticas e Econômicas, UNESP/Marília
2. Profª. Drª. do Depto.de Ciências Políticas e Econômicas, UNESP/Marília
INTRODUÇÃO:
Tendo como referência os debates realizados pela historiografia contemporânea, analisamos as experiências sociais das mulheres que atenderam ao apelo da Ação Integralista Brasileira (AIB), que se tornaram militantes (blusas verdes), assumindo funções diversas na hierarquia do Departamento Feminino na organização do primeiro partido de massas do país, assumindo diversos papéis tradicionais, transitando entre a esfera privada e pública. Analisamos as representações, imagens, bem como as narrativas das militantes integralistas na busca de novos significados que nos permitisse compreender os comportamentos, atitudes e valores disseminados pela sociedade brasileira da época, evidenciando as individualidades e concretude dos sujeitos. Neste sentido, reconstruímos os processos de identidade e de subjetividade dos homens e mulheres militantes integralistas, visualizando as relações construídas através da análise de fontes documentais, orais e iconográficas, visando observar como se deu a inserção feminina na AIB e a interpretação e apropriação do discurso integralista por parte das suas militantes. Desta maneira, esmiuçando as representações, as imagens prescritas nos documentos e nas fontes iconográficas, acompanhadas pelas falas das militantes integralistas, buscamos novos significados que permitissem desvendar o nebuloso complexo de uma agremiação partidária inserida no cenário sócio-cultural dos anos 30, observando os sujeitos que estiveram às margens da historiografia oficial.
METODOLOGIA:
Tendo em vista evidenciar as transformações e relações estabelecidas entre as militantes integralistas e a AIB, fundamentamos nossa investigação nas possibilidades analíticas proporcionadas pela Hermenêutica do cotidiano, que acabou nos permitindo desvendar as formas sutis de apropriação do cotidiano e a reconstituição das experiências vividas, na medida em que os trabalhos com a documentação oral, escrita e iconográfica, revelaram simultaneamente a existência dos papéis informais femininos, principalmente a identificação das práticas, costumes e estratégias de sobrevivência. Desta maneira, retomamos a historiografia sobre o tema, principalmente a produzida nos anos 70, visando ampliar as discussões com a introdução de novas fontes documentais como a escrita, a oral e a iconográfica, buscando perceber a construção das relações de gênero no interior da AIB, bem como os impactos produzidos pelo processo de modernidade em curso. A perspectiva de trabalhar com várias fontes possibilitou fazer um contraponto entre os dados obtidos, tendo em vista a busca de resultados mais próximos da realidade histórica constituída na época estudada. No caso de nosso estudo sobre a AIB, a presente possibilidade analítica é de suma importância, já que as fontes são escassas e de difícil acesso, necessitando o estabelecimento de uma relação de complementação entre os seus diversos dados e elementos obtidos a partir das investigações realizadas no decorrer da pesquisa.
RESULTADOS:
Partindo da análise dos dados coletados no desenrolar da pesquisa, constatamos que diante das mudanças e persistências de práticas, valores, comportamentos e costumes sociais vivenciados pelos sujeitos nos anos 30, a mulher passou a ser reivindicada por vários setores que até então a excluía, passando a reivindicar seus direitos de acesso ao espaço público, mesmo que, para isso, enfrentasse críticas e reações frente às tradições e conservadorismo presente no seio social no período abordado. Através das fotografias dos comícios e marchas integralistas presentes nessas conjunturas, foi possível observar as militantes femininas em constante presença. Devidamente trajadas em seus uniformes, identificando o Sigma no lado direito do braço, elas passaram a fazer parte da cênica organizada pela AIB a fim de mobilizar a opinião pública em prol dos seus interesses. A observação da atuação das “blusas verdes” e da história da AIB, na perspectiva de interpretação de práticas cotidianas, evidenciou como a ideologia integralista, de forte apelo aos princípios espirituais, como a igualdade, a justiça e a piedade, incluindo a compaixão e a capacidade de sofrer intensamente com os outros, constituiu-se em uma alternativa para segmentos urbanos, principalmente para as mulheres que adentravam ao espaço público em conjunturas de crise mobilizadas pela idéia de ascensão social e de acesso a direitos civis e políticos.
CONCLUSÕES:
Consideramos que a AIB identificou nas mulheres uma grande oportunidade para engrossar suas fileiras de militância e seu peso político nas urnas eleitorais. Em contrapartida, a mulher encontrou na AIB uma chance de aspirar posições outras dentro do espaço público, mesmo que encontrando algumas barreiras e preconceitos, pois era vigente no imaginário social da época a idéia que o lugar da mulher era em casa, sendo esposa, mãe e dona de casa. Sendo assim, a mulher teria que ser um poço de virtudes, a rainha do lar, já que a política e a vida pública eram pertencentes ao arcabouço de papéis masculinos. Nossa análise não pretendeu esgotar as possibilidades explicativas das práticas cotidianas, mas sim sistematizar os elementos capazes de elucidar algumas questões e possibilidades de interpretação e apreensão desse movimento de mudanças e permanências vivenciado pelas mulheres integralistas. No movimento do Sigma, as mulheres tiveram uma importante participação delimitada pelos protocolos e hierarquias, entregaram-se ao estudo dos problemas nacionais e atuaram no campo educacional, sendo que mais de 100.000 senhoras e moças participaram, como visitadoras de bairros humildes, professoras e enfermeiras, em uma obra social portentosa do movimento. Partindo de sujeitos concretos caracterizados pelas militantes integralistas, foi possível perceber uma longa trajetória de luta lenta e surda pelo direito à cidadania, desvendando outras histórias sobre as mulheres do Sigma.
Palavras-chave:  INTEGRALISMO; MILITÂNCIA FEMININA; PRÁTICAS CULTURAIS.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004