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E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 1. Ciência do Solo
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS E FÍSICAS DE SOLOS DA BAÍA DO ALMIRANTADO, ANTÁRTICA MARÍTIMA
Felipe N. B. Simas 1   (autor)   fsimass@yahoo.com.br
Carlos Ernesto G. R. Schaefer 2   (orientador)   carlos.schaefer@solos.ufv.br
Manoel Ricardo de Albuquerque Filho 1   (colaborador)   
Mariana R. M. Gomes 3   (colaborador)   
Victor V. Pereira 3   (colaborador)   
Marcelo B. B. Guerra 3   (colaborador)   
Vando J. M. Miranda 3   (colaborador)   
Luciano Prates 3   (colaborador)   
1. Doutorando- Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa-UFV
2. Prof. Adjunto- Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa-UFV
3. Estagiário - Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa-UFV
INTRODUÇÃO:
A formação de solos na Antártica está restrita a poucas áreas livres de gelo. A maior parte dos estudos de solos se deu na porção oriental do continente. Na região da Antártica Marítima, a temperatura e precipitação média são mais elevadas, resultando na formação de solos distintos daqueles encontrados em outras partes do continente Antártico. O clima permite o desenvolvimento expressivo da cobertura vegetal. Ocorrem diversas espécies de briófitas e líquens, com apenas duas espécies de plantas superiores: Deschampsia Antarctica (Gramíneae) e Colobanthus Quietensis (Cariofilaceae).
A intensa utilização dos ambientes costeiros por aves e mamíferos durante o verão resulta em um elevado aporte de nutrientes e matéria orgânica. Neste processo, destacam-se os pingüins, que formam colônias numerosas onde a produção de guano é extremamente elevada. A interação do guano com o substrato mineral, leva a formação dos solos chamados ornitogênicos.
O objetivo deste trabalho é apresentar características químicas e físicas de solos das áreas livres de gelo da Baía do Almirantado, Ilha Rei George. Constitui parte do projeto Criossolos, dentro da Rede 2 de pesquisa do PROANTAR (Programa Antártico Brasileiro) que visa caracterizar e mapear os ecossistemas terrestres da área de atuação brasileira na Antártica, no sentido de subsidiar o monitoramento ambiental.
METODOLOGIA:
Durante o verão de 2002/2003, foram coletados e descritos 65 perfis de solo em todas as áreas livres de gelo da Área Antártica Especialmente Gerenciada (AAEG) da Baía do Almirantado, Ilha Rei George. A geologia é essencialmente de origem vulcânica, com as áreas livres de gelo ocorrendo em estreitas faixas ao longo da costa. As amostras foram coletadas em diferentes níveis de terraços marinhos, morainas e nas porções mais altas da paisagem, sobre diversos tipos de materiais de origem (basaltos, andesitos e tufos vulcânicos) e sob diferentes tipos de cobertura vegetal.
As amostras de solo foram secas ao ar e passadas em peneira de 2 mm sendo submetidas a análise químicas de rotina para avaliação da disponibilidade de nutrientes e caracterização química dos solos (EMBRAPA, 1997). Foram realizadas análise de pH em água, Ca2+, Mg2+, K +, Na+ e Al3+ trocáveis, acidez potencial e fósforo disponível (EMBRAPA, 1997); fósforo remanescente (P-rem) pelo método do ácido ascórbico (Alvarez V. et al., 2000) e carbono orgênico total (Yeomans e Bremner, 1988).
A análise granulométrica foi realizada pelo método da sedimentação diferencial (EMBRAPA, 1997), após dispersão física por agitação em água por 16 horas.
RESULTADOS:
Os solos estudados apresentam características distintas em função do material de origem, da posição na paisagem e do grau de ornitogênese. Os solos não ornitogênicos sobre basalto ou andesito apresentam pH de 6,6 a 8,1, com teores elevados de todos os nutrientes. O P disponível varia de 50 mg/kg nos solos mais ácidos a 500 mg/kg nas rochas máficas. Nas áreas de tufo ácido, os solos são amarelados, com pH ácido (4,0-5,0) e baixa disponibilidade de nutrientes. O P disponível não passa de 40 mg/kg, com valores de Prem próximos a 9,0 mg/L, enquanto nos solos sobre materiais máficos o Prem é maior que 35 mg/kg. Os teores de COT são muito baixos (0,11 - 0,9 dg/kg). Alguns horizontes A, com cobertura vegetal mais desenvolvida podem apresentar teores de COT > 3 dg/kg). Nas áreas mais elevadas, ocorrem solos com valores de COT menores que 0,20 dg/kg e teores de Na superiores a 1200 mg/kg.
Os solos ornitogênicos apresentam pH ácido (4,11-5,9) e teores mais baixos de nutrientes como Ca e Mg. Por outro lado, alguns solos chegam a apresentar mais de 4000 mg/kg de P disponível. O teor de C nestes solos podem chegar a mais de 5 dg/kg, sendo comum a ocorrência de horizontes hísticos. Nos solos ornitogênicos mais antigos, ocorrem grandes áreas contínuas de vegetação. A epipedregosidade é típica em todos os solos estudados, com elevado conteúdo de cascalhos e calhaus. A textura varia desde franco-arenosa nos solos de terraço marinho a franco-argilosa em solos mais desenvolvidos, em ambientes deposicionais.
CONCLUSÕES:
Os solos da Antártica Marítima são em geral pouco evoluídos (Cambissolos e Neossolos). Os valores de nutrientes são fortemente afetados pelas características geoquímicas do material de origem.
Nas áreas mais elevadas, a entrada contínua de Na via spray marinho, a menor precipitação efetiva e drenagem mais rápida do sistema leva a formação de solos altamente salinos, onde não há desenvolvimento da vegetação.
Apesar dos teores elevados de P em todos os solos, o desenvolvimento da vegetação é controlado pela atividade ornitogênica. Nas áreas ornitogênicas, os valores anômalos de P permitem o maior desenvolvimento da vegetação. Com isso, ocorrem solos com altos teores de COT, constituindo áreas de seqüestro e fixação do C atmosférico. A lenta decomposição em condição sub-polar resulta na formação de horizontes hísticos e húmicos.
Instituição de fomento: CNPQ - MMA - Marinha do Brasil
Palavras-chave:  Solos; Antártica; Monitoramento Ambiental.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004