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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 8. Comunicação
A representação do estilo heavy metal na mídia: produção e consumo
Veneza Ronsini 1   (orientador)   
Ramiro Guimarães 1   (autor)   emaildoramiro@yahoo.com.br
Ana Maria Pincolini 1   (colaborador)   
Vanessa Oliveira 1   (colaborador)   
Valton Dias 1   (colaborador)   
1. Curso de Comunicação Social, Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
INTRODUÇÃO:
Esse estudo refere-se às apropriações do estilo heavy metal realizadas por jovens de Santa Maria - RS, a partir da metade da década de 80, data das primeiras manifestações do gênero na cidade, até os dias de hoje. Para tanto, utilizar-se-á uma categorização entre mídia massiva e segmentada (mercado dominante) e alternativa e independente, as quais denominamos como mercado underground, pela maneira de produção e de divulgação. Além de meios massivos, compreendidos como veículos pertencentes a conglomerados midiáticos, de grande valor financeiro, grande infraestrutura e abrangência de público, pode-se citar os meios segmentados, cuja função é suprir a demanda de um público específico, como por exemplo, as revistas especializadas em música, e que podem ou não fazer parte de empresas midiáticas de grande porte; os meios independentes, que têm como principal característica se tratar de uma empresa de pequeno porte, tais quais as empresas fonográficas independentes; e os meios alternativos que são mantidos por iniciativas individuais, não visam lucros e são produzidos de maneira artesanal ou quase. Objetivo é verificar o que esses jovens consomem, ou seja, de que maneira essas publicações constroem uma representação acerca do estilo, e o que produzem, músicas e outras manifestações do gênero. Trata-se, em última instância, de analisar a relação entre as mídias massiva, segmentada, alternativa e independente, isto é, a representação do estilo nas mídias e que papel cada uma desempenha.
METODOLOGIA:
Para o desenvolvimento deste trabalho foram feitas doze entrevistas entre junho de 2002 e dezembro de 2003, com integrantes de bandas de heavy metal na faixa etária de 17 a 36 anos, de classe média ou média-alta. As entrevistas foram realizadas em duas fases, na primeira, mais abrangente, com 142 questões cada, foram utilizadas as categorias classe e cotidiano, competência cultural e estilo. Já na segunda fase, as entrevistas, com 30 questões cada, enfocaram mais especificamente aspectos referentes ao consumo, mídia e estilo. Além disso, foram selecionadas para análise matérias veiculadas pela mídia massiva (revistas Veja e Revista Istoé Gente, e jornais Zero Hora, A Razão e Diário de Santa Maria), mídia segmentada (revistas Atlântida, Rock Brigade, Roadie Crew e Valhalla), mídia alternativa (fanzines Cruel Death, Rockíssimo, ZRI, webzine Metal Attack e sites das bandas Damage, Arcanum XIII e White Bird) e mídia independente (CD’s lançados por pequenas gravadoras e músicas em formato mp3 disponibilizadas pela Internet).
RESULTADOS:
A maioria dos jovens adeptos do heavy metal em Santa Maria consome principalmente revistas especializadas sobre o gênero, como Rock Brigade, Roadie Crew e Valhalla. Essas revistas trazem basicamente entrevistas com bandas nacionais e internacionais, coberturas de shows e resenhas de CD´s. Por serem publicações direcionadas para um público específico, essas revistas utilizam expressões desconhecidas do grande público como death metal ou progressive metal, denominações de variantes dentro do gênero heavy metal. Com relação a essas publicações, cabe destacar que raramente há uma reflexão sobre as mensagens divulgadas pelas bandas, algumas delas bastante controversas, como o satanismo. Nos jornais e revistas de maior circulação, o gênero geralmente aparece apenas para divulgar um show. Há uma dificuldade, ou mesmo um desinteresse, em considerar a diversidade existente dentro do heavy metal. A reprodução da imagem do jovem com cabelos compridos e roupas pretas, a representação usual do “metaleiro”, também colabora para fortalecer uma idéia estereotipada com relação ao estilo. Os fanzines, por sua vez, são publicações confeccionadas de forma bastante simples, os quais além de divulgar bandas, expõem idéias e fazem críticas à sociedade capitalista e à Igreja, por exemplo. Apenas três bandas de Santa Maria possuem sites na Internet, através dos quais, além de informações sobre a banda, comercializam seus CD’s independentes e disponibilizam suas músicas para download em formato mp3.
CONCLUSÕES:
As mídia massiva e segmentada (mercado dominante) restringem-se à promoção de determinadas bandas. Em virtude dessa falta de interesse, sobretudo por parte da mídia massiva, as publicações especializadas e a indústria fonográfica independente desempenham um papel muito importante na consolidação do gênero na cidade lançando bandas nacionais e tornando acessível à produção musical de bandas européias e norte-americanas. Ainda que a mídia segmentada tenha mais conhecimento sobre o estilo em si, ela ainda não consegue atingir as bandas novas, do mercado underground . A produção nesse meio é tão intensa que são necessários que se criem outros meios de divulgação, como a Internet. Além disso, as mídias alternativa e independente criam uma representação mais fidedigna dos grupos, desempenhando um importante papel na conscientização e organização das bandas de heavy metal. Trata- se, na verdade, de uma auto-representação, uma vez que elas agora assumem o papel não apenas de consumidoras, mas também de produtoras, o que gera uma significativa mudança na representação do estilo. A principal crítica dos adeptos do heavy metal com relação à mídia massiva, diz respeito a algumas distorções que ocorrem, quando o estilo é associado ao consumo de drogas e ao vandalismo, por exemplo. No entanto, ao falarem sobre si mesmos, os adeptos do estilo heavy metal privilegiam aspectos como a produção musical das bandas e a temática intimista/reflexiva adotada pela maioria delas.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  estilo heavy metal; consumo cultural; produção cultural.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004