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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano
ANÁLISE DE FATORES AFETIVO-MOTIVACIONAIS EM CRIANÇAS COM PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO NA SITUAÇÃO DE AVALIAÇÃO ASSISTIDA
Kely Maria Pereira de Paula 1   (autor)   kely.@uol.com.br
Sônia Regina Fiorim Enumo 2   (orientador)   soniaenumo@terra.com.br
Erika da Silva Ferrão 3   (colaborador)   erikadsf@terra.com.br
Camila Carlos Maia 4   (autor)   milamaia.vix@terra.com.br
1. Depto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
2. Depto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
3. Depto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
4. Depto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Univesidade Federal do Espírito Santo - UFES
INTRODUÇÃO:
A avaliação assistida é um tema de investigação recente no Brasil e no exterior. Este novo procedimento envolve a avaliação do pensamento, percepção, aprendizagem e resolução de problema mediante processo de ensino ativo e modificação do funcionamento cognitivo. Na literatura, a ênfase é dada na comparação com a avaliação tradicional ou estática, e principalmente, sobre sua contribuição na compreensão dos aspectos intelectuais. Entretanto, ainda são poucos os estudos que investigam os fatores afetivo-motivacionais ou não-intelectuais durante a situação de testagem. Autores da área apontam obstáculos relacionados à avaliação da aprendizagem, tais como o autoconceito empobrecido em relação à condição de aprendiz e as variáveis motivacionais. Alguns desses obstáculos, se removidos, possibilitariam a emergência e o desenvolvimento de certas habilidades cognitivas. A literatura aponta ainda que uma das características de um bom aprendiz num contexto de mediação, além de boa memória de armazenamento e aplicação de um estilo cognitivo analítico e reflexivo, envolve a capacidade de inibir a impulsividade para obter uma compreensão adequada participando ativamente no processo de aprendizagem, com interesse na tarefa. Esta pesquisa procurou investigar a influência dos fatores não-intelectuais no desempenho de crianças com necessidades educativas especiais em prova assistida de habilidades cognitivas, antes e após um programa de intervenção com sistema computadorizado de comunicação.
METODOLOGIA:
Participaram 2 crianças (C1: 9 anos; C2: 10 anos), com déficits moderado nas habilidades cognitivas e lingüísticas (particularmente a função narrativa), matriculadas na 1ª e 3ª série de uma escola pública de Vitória, ES. Foram aplicadas provas tradicionais, psicométricas- Raven, Columbia e TVIP- e uma prova não-verbal cognitiva assistida Children’s Analogical Thinking Modifiabylity – CATM, elaborada por Tzuriel e Klein, que avalia o raciocínio analógico (A:B::C:?) durante a resolução de problemas, em pré-escolares ou crianças com necessidades educativas especiais, em versão adaptada por Linhares e Santa Maria. O CATM é composto por 32 cartões, em ordem crescente de dificuldade, apresentados em 5 fases: preliminar, sem ajuda, assistência do mediador, manutenção e transferência, que requerem o reconhecimento de 3 dimensões de blocos geométricos (cor, forma e tamanho). Para analisar os indicadores cognitivos e os fatores não-intelectuais durante a prova, foram utilizados: Protocolo de avaliação das operações cognitivas, Protocolo de avaliação do comportamento, e uma escala de avaliação dos fatores não-intelectuais proposta por Tzuriel, adaptada. Cada um dos 6 indicadores – acessibilidade à mediação, necessidade de domínio ou motivação intrínseca, tolerância à frustração, confiança na resposta correta, vitalidade e sentido de alerta, medo do fracasso e atitude defensiva – foi pontuado de 1 a 4, com variação de: pouco ou ausente a excessiva presença.
RESULTADOS:
No pré-teste, a prova assistida foi muito afetada pela alta incidência de comportamentos não-facilitadores, como desinteresse, impulsividade, retraimento, dispersão e por fatores não-intelectuais. C1 completou o CATM, mas apresentou muitas respostas negativas na fase preliminar e especialmente na assistência, o que tornou esta última muito longa e cansativa, visto que tais comportamentos eram seguidos de pistas para conduzir a criança à solução analógica (em média, 18 dicas/cartão). A baixa acessibilidade à mediação e a falta de motivação intrínseca à tarefa foram os fatores não-intelectuais preponderantes em C1. C2 (melhor classificação nos testes psicométricos) realizou o CATM até a fase sem ajuda. Na fase de assistência, dicas da mediadora para uma resposta correta eram interpretadas como indicação de incompetência para manejar a tarefa, e não como ajuda. A inacessibilidade à mediação e a baixa tolerância à frustração foram tão prevalentes que, apesar dos inúmeros incentivos da mediadora e das tentativas de realização da prova em dias subseqüentes, C2 recusou-se a prosseguir no CATM. O desempenho no pós-teste, após 3 meses de intervenção, foi melhor para ambos, que completaram a prova assistida. Apesar da pouca diminuição na freqüência de comportamentos não-facilitadores e da prevalência dos fatores não-intelectuais, estes continuaram a afetar o desempenho no CATM, com oscilação de interesse na tarefa, baixa acessibilidade à mediação e diferentes comportamentos de esquiva.
CONCLUSÕES:
O procedimento assistido aplicado a populações especiais deve destacar os fatores afetivo-motivacionais ao avaliar a modificação das funções cognitivas. Desse modo, aspectos não estritamente cognitivos, mas de grande importância, como a reação da criança à situação de avaliação, as variáveis pessoais e situacionais, a exemplo da motivação e fadiga, devem ser analisados. Por exemplo, crianças submetidas a uma superexposição a programas de estimulação podem desenvolver estratégias que as tornam “imunes” à mediação do adulto, tendendo a controlar a situação de ensino-aprendizagem. Este pode ser o caso de C2, que foi submetido a programas de intervenção precoce intensivos desde bebê. Em situação de aprendizagem, C1 apresenta este padrão de controle, tentando estabelecer o que e quando aprender. O mesmo foi observado em C1, apesar de diferente história de vida. Fica evidente o padrão de contracontrole das crianças em situação de ensino e avaliação, dificultando seu desempenho cognitivo e lingüístico. Outras variáveis relacionadas ao contexto escolar e familiar podem estar na base desse comportamento e requerem atenção ao se propor programas de intervenção com essa população. Além disso, a identificação dos padrões cognitivos, comportamentais e não-intelectuais das crianças sugeriram a necessidade de revisão na extensão (número de cartões) e duração da prova, que visam à adequação e uso do CATM em crianças com déficits de comunicação.
Instituição de fomento: CAPES, CNPq, UFES/CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Fatores afetivo-motivacionais; Avaliação assistida; Crianças com problemas de comunicação.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004